Presidente da Andrade Gutierrez, sócia da Oi, diz que após fusão com a PT, operadora pode comprar qualquer empresa do mundo
Embora já fosse esperada, a fusão das operadoras de telefonia Portugal Telecom e Oi surpreendeu o mercado na semana passada. O fato de a operação ter sido consumada poucos dias depois do anúncio de que a Telefônica, controladora da Vivo no Brasil, vai elevar sua fatia na Telecom Itália, dona da TIM, levantou rumores sobre um lance ensaiado. Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, que integra o bloco de controle da Oi, nega. Mas não esconde que agora a operadora da qual é sócio está preparada "para participar da festa", seja ela qual for. No fim da tarde da última quinta-feira, um dia depois do anúncio da fusão, ele recebeu a equipe do Estado. Primeiro, dizendo que nada falaria sobre telefonia. Mas, por fim, capitulou. Dois dias antes, Azevedo estava em Portugal, para as reuniões finais de assinatura do acordo. Na quarta, esteve em Londres, para o anúncio, feito por videoconferência pelo presidente da Oi, o português Zeinal Bava. Por trás da câmera, passava bilhetinhos com orientações. "Seja claro. Diga que Andrade e La Fonte .(sócias da Oi) vão participar do aumento de capital", pediu. Agora, está à espera da confirmação da venda da TIM - há rumores de que a Telefônica terá de ser desfazer da operadora para controlar a Telecom Itália. "Anteontem, eu não teria capacidade de sequer pensar em participar da festa. Hoje, eu posso."
A fusão entre Portugal Telecom e Oi já era planejada?
Foi uma estratégia para dar sequência à aliança estratégica de 2010, que era muito clara na busca da máxima sinergia entre as companhias. A fusão é o efeito máximo da sinergia. Mas nós não tínhamos plano traçado. A convivência e a troca de experiências foi muito intensa durante esse tempo e, por isso, avisamos que faríamos uma busca de sinergia. Os sócios todos pensaram: até quando vamos levar esse namoro?
A fusão quebra o compromisso do controle nacional?
Estamos cumprindo o que prometemos: melhoria de governança da companhia, crescimento, internacionalização e capitalização. Pagamos para ser controladores da Oi. Se pegar o dinheiro que pagamos e corrigir por qualquer índice, é muito maior do que o valor integral da companhia, que hoje atende mil vezes mais o tanto de gente que atendia quando compramos. Nosso compromisso era manter uma companhia de capital nacional. A nova companhia terá 62% de capital brasileiro. Aí vêm alguns veículos de imprensa e dizem: "A PT vai ser a maior acionista, com 38%". Não é a PT! A chamada PT/SGPS vai desaparecer. Vai ser incorporada à Oi, que recebe todos os ativos e todas as dívidas dela. O que vai continuar existindo em Portugal é a concessionária Portugal Telecom e aqui no Brasil a concessionária Oi. A concessionária PT vai ser 100% propriedade de uma empresa que estamos chamando provisoriamente de CorpCo, que também terá 100% da Oi. E a CorpCo que vai ser listada e terá o capital totalmente pulverizado. O dono dela será o mercado.
Andrade Gutierrez e La Fonte participarão do aumento de capital?
Todo mundo está convidado a participar da capitalização. Lógico que vamos participar. Posso falar pela Andrade: a Andrade Gutierrez vai investir. Todos vamos receber ações da nova empresa, que será a holding controladora da Oi, da PT e da África Tel.
A Andrade Gutierrez não pensa em sair da Oi?
Essa é outra sina nossa, uma lenda urbana. Já tem 15 anos que estamos ouvindo: "Não vai sair não? Não está negociando com ninguém por baixo dos panos?". Não. A estrutura que montamos viabiliza uma participação equilibrada entre os acionistas brasileiros e portugueses. Temos mais capacidade de crescer no Brasil, em Portugal e no exterior.
A fusão está relacionada à movimentação da TIM e da Vivo?
Em termos de capitalização, qual era a grande questão do setor de Telecomunicações anteontem? A TIM. Anteontem, eu não teria capacidade de pensar em participar da festa. Hoje, eu posso. Essa é a primeira etapa do grande projeto da Oi. Mas não houve aceleração. Era uma coisa que já vinha sendo conversada. Várias vezes a CVM (Comissão 1 \ il res Mobiliários) pergum u l t nha alguma coisa e nós respondemos que não, porque não tinha. Mas dizíamos: lembre-se do nosso fato relevante de junho de 2010, em que estabelecemos aliança industrial em busca de sinergia.
Mas não há risco de processo por concentração de mercado?
Concentração não é problema meu, é do Cade. Mas qual empresa com 18% de mercado pode ser acusada de concentração?
Há rumores de que os fundos sairiam da Oi para investir na compra da TIM, via BNDES.
Conversa fiada do mercado. Eles não devem fazer isso. Já têm um veículo de investimento em telecomunicação. O governo não deve interferir, nem via BNDES nem via fundos, no negócio da TIM. Há dois caminhos: ou (os controladores da Telefônica) vendem para um consórcio de operadoras que já atua no País ou para empresas internacionais. Se vender, ainda não é certo. Com certeza será um processo competitivo. Há empresas, como a Vodafone, que está supercapitalizada, e a AT8cT, que parece interessada em voltar ao Brasil. Agora, podemos muito mais que acompanhar.
Mas vocês foram diluídos.
Com a fusão, adquirimos outras habilidades. Com a estrutura de capital que estamos criando, essa companhia pode comprar qualquer empresa no mundo. Basta fazer um aumento de capital fundamentado com racionalidade. Os investidores do mundo vão investir. O efeito é a nossa diluição. Mas prefiro ficar diluído numa empresa que tem futuro do que controlar uma empresa que só tem passado. Optamos por perder 0 controle, mas ganhar uma empresa capaz de enfrentar qualquer compromisso.
Quem é
Otávio Azevedo, de 62 anos, preside 0 grupo Andrade Gutierrez desde 2007. Graduado em Engenharia Econômica pela Universidade Federal de Minas Gerais, ele começou a carreira na Cemig, depois passou pela Telemig e pela Telebrás.
Autor(es): Irany Tereza Antonio Pita
O Estado de S. Paulo - 07/10/2013
07 outubro 2013
'Agora, a Oi vai poder participar da festa'
segunda-feira, outubro 07, 2013
Compra de empresa, Plano de Negócio, Tese Investimento, TI, Transações MA
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Ruy Moura
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