21 novembro 2011

O que Buffett viu na Big Blue

Entenda as razões que levaram o maior investidor do mundo, que nunca comprou uma ação de empresas de tecnologia, a desembolsar US$ 10,7 bilhões na aquisição de 5,5% do capital da IBM.

Em 1941, aos 11 anos de idade, o megainvestidor americano Warren Buffett comprou três ações preferenciais de uma fornecedora de água de Omaha, cidade em que nasceu, capital do Estado de Nebraska. Ele pagou US$ 38 por ação. Poucas semanas depois, no entanto, os preços haviam caído para US$ 27. Buffett ficou preocupado, especialmente porque parte do negócio havia sido financiada por Doris, sua irmã mais velha. Quando as ações voltaram a US$ 40, aliviado, vendeu-as.

O problema é que os preços subiram para US$ 200 poucos meses depois. “Isso me ensinou a pensar no longo prazo”, diria ele incontáveis vezes depois. Sete décadas mais tarde, Buffett, hoje o maior investidor do mundo, mostrou que ainda não se esqueceu dessa lição.

Sua companhia de investimentos, a Berkshire Hathaway, acaba de adquirir um lote tamanho família de 64 milhões de ações da IBM, com um investimento de US$ 10,7 bilhões, uma fração dos US$ 185 bilhões de seu valor de mercado.

A megatransação proporcionou-lhe uma participação de 5,5 % no capital da Big Blue, a segunda maior empresa de tecnologia dos EUA. Foi uma aposta no futuro, apoiada naquela que, além de se mostrar extremamente sólida no presente, é considerada uma das companhias mais bem preparadas para lidar com a revolução tecnológica em curso neste começo de século XXI.

Em seus 70 anos de atuação no mercado de investimentos, é a primeira aquisição de Buffett na área tecnológica. “Nunca invisto em negócios que não sou capaz de entender”, afirmou em ocasiões diversas, muitas delas para justificar sua distância em relação ao mundo dos bites e bytes. O que mudou para justificar essa decisão?

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"Há 50 anos leio os relatórios anuais da IBM, mas, quando li o de 2010, enxerguei-a sob uma nova luz"
Warren Buffett, investidor e sócio da Berkshire Hathaway

O ponto de partida para a análise é observar que, no fundo, o que norteou a cartada do bilionário americano parece ser menos o fato de se tratar do setor de tecnologia e muito mais a solidez e a presença maciça da IBM na vida de companhias de grande porte.

Com 100 anos de existência, completados em junho, ela é uma das mais tradicionais empresas do mundo, com uma receita global de US$ 100 bilhões. Uma das responsáveis diretas pela consolidação da indústria da computação no planeta, a IBM viveu momentos difíceis, especialmente nos anos 1990, quando chegou a acumular prejuízos bilionários.

Uma profunda revisão de seu posicionamento, que culminou na mudança no rumo dos negócios – deixando de lado o foco na produção de hardwares para privilegiar a oferta de serviços completos de tecnologia para o mercado corporativo –, recolocou a empresa no prumo. Assim, a IBM ingressou no século XXI como uma das protagonistas no cenário mundial da tecnologia. “Há 50 anos leio os relatórios anuais da IBM, mas, quando li o de 2010, enxerguei-a sob uma nova luz”, afirmou Buffett, em entrevista à emissora americana de tevê CNBC.

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A decisão foi também influenciada pelo fato de a IBM manter relações duradouras com os clientes, característica cara ao dono da terceira maior fortuna do planeta. Dessa forma, a empresa seria menos suscetível a oscilações bruscas do mercado.

“Adotei uma nova visão da posição que a IBM ocupa entre os departamentos de TI e do quão solidamente ela sustenta essa posição”, afirma Buffett. “E hoje reconheço que deveria ter prestado mais atenção nela cinco anos atrás.” A IBM da qual Buffett agora se torna acionista é uma empresa que fornece uma ampla gama de serviços, que incluem manutenção de infraestrutura de TI, mainframes, computação em nuvem, consultoria e terceirização tecnológica. “É difícil dizer o que a IBM não faz na área de tecnologia”, afirma Ivair Rodrigues, sócio da consultoria tecnológica IT Data, de São Paulo.

Esse perfil de operação foi desenhado na década de 1990, fruto da avaliação de que o setor de computadores se tornaria praticamente uma commodity, o que derrubaria as margens de lucro. Foi essa visão que motivou a venda de sua divisão de PCs para a chinesa Lenovo, em 2005, por US$ 1,75 bilhão.
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Na área de serviços, no entanto, as perspectivas eram as melhores possíveis graças ao papel cada vez mais central da tecnologia nos negócios. Assim, a IBM investiu pesadamente na diversificação de seu portfólio.

“O diferencial da IBM é a prestação de serviço”, diz Rodrigues. “Um dos maiores acertos da empresa foi a transição para investir em serviços e soluções de tecnologia”, afirma Fernando de Souza Meirelles, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Meirelles destaca ainda o peso da marca, construída ao longo de um século. “Ela passa uma imagem de tradição e confiabilidade”, diz Meirelles.

À parte essas qualidades, outro ponto forte da IBM é estar antenada com os movimentos do setor de tecnologia da informação. “Está voltando com força ao mercado a ideia de terceirização dos serviços de TI”, afirma Meirelles. “Nesse contexto, a IBM se coloca como uma alternativa, pois atua em quase todo o processo de TI.”
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Por Clayton MELO e Claudio GRADILONE
Fonte:istoedinheiro18/11/2011

21 novembro 2011



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