28 novembro 2011

Legados de fusões comprometem construtoras

Operações para ganho de sinergia acabaram provocando atrasos em obras de empresas como Gafisa e PDG Realty.

Focando sinergia e aumento de capital, as aquisições e fusões no setor de construção nem sempre trazem apenas benefícios. A herança de antigas administrações pode prejudicar o desempenho financeiro de marcas consolidadas, exemplo das construtoras Gafisa e PDG Realty.

Os legados das companhias adquiridas, Tenda e Agre, respectivamente, comprometem os cronogramas de entrega de obras e podem levar à práticas não usuais, como o cancelamento de algumas incorporações na tentativa de reduzir prejuízos.

A suspensão de obras, que há anos não ocorria com intensidade no Brasil, relembra o fantasma da falida Encol, que no final dos anos 1990 deixou milhares de compradores sem seus imóveis.

A PDG Realty comprou a Agre em 2010, somando valor de mercado de R$ 8,8 bilhões. Porém, a empresa herdou da Agre três obras não terminadas em Santos (SP). As unidades tornaram-se problema e o atraso na entrega dos imóveis rendeu pelo menos 45 processos no escritório de advocacia Dutra & Saad Associados.

Apesar de reportar um lucro 14% superior ao acumulado entre janeiro e setembro de 2010, somando R$ 752 milhões nos nove meses deste ano, a PDG viu suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo caírem como reflexo de rumores negativos de mercado causados também pelo atraso em obras.

A trajetória da Gafisa é semelhante. Depois de apostar em construção de imóveis para baixa renda por duas vezes, em negócios que não foram levados adiante, a construtora decidiu persistir no segmento e iniciou a compra da Tenda em 2008, processo que deve ser concluído neste ano com a aquisição de 20% das ações.

Atualmente, o braço econômico da Gafisa tem cerca de 30 mil unidades em construção. Deste total, 11 mil ainda não foram contratadas pela Caixa Econômica Federal e 20% disso, 2,2 mil unidades, têm problemas que podem levar à revisão das obras.

A empresa informou que está reavaliando projetos e cogita cancelar aqueles onde ainda não há 20% de andamento das obras. A Gafisa prometeu devolver o dinheiro aos consumidores, além de indicar empreendimentos similares como opção de compra.
Segundo Marcelo Tapai, Tapai Advogados, escritório especializado em direito imobiliário, a prática de cancelar obras não é usual, mas judicialmente é permitida após seis meses do registro da incorporação, desde que haja o estorno integral do valor pago. Em alguns casos os consumidores também têm direito há valores por perdas e danos morais.

Estratégia

Tapai viu o volume de processos contra construtoras em seu escritório disparar nos últimos três anos.
"A data de entrega dos imóveis virou estratégia de venda", avalia.
Segundo ele, a padronização das plantas para a obtenção de ganhos de escala acabou mudando o foco dos clientes, que antes procuravam por diferenciais na estrutura dos imóveis.
"Ficou tudo muito parecido. Agora se compra o apartamento com a promessa mais rápida de entrega", diz.

Para não perder a briga, as construtoras prometem datas cada vez mais apertadas e acabam se perdendo nos prazos. Normalmente, por questão de financiamentos, as empresas de construção só recebem cerca de 30% do valor total dos empreendimentos durante o andamento das obras.

"Por isso, as construtoras trabalham com um volume grande de canteiros sendo executados ao mesmo tempo, para proporcionar capital de giro", explica Tapai. Daí o risco aumentado de atrasos.Por Michele Loureiro
Fonte:brasileconomico 28/11/2011

28 novembro 2011



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