23 novembro 2011

Brasil pode enfrentar período de "desinvestimento" em 2012

Um dia depois de o Banco Central (BC) afirmar que a crise internacional não atrapalhará a demanda por títulos brasileiros, a instituição divulgou os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), que mantiveram-se em patamares elevados. No entanto, o próprio Banco Central admite que nos próximos meses pode haver um "desinvestimento" no Brasil.

O déficit em conta corrente deve acelerar no final do ano. Segundo as projeções do BC, as remessas de lucros e dividendos influenciarão negativamente as contas externas. Analistas indicam que com a deterioração do cenário externo, as transferências de dólares das filiais para as matrizes se tornam mais recorrentes.

Em outubro, US$ 5,55 bilhões ingressaram no País sob a rubrica IED, ante US$ 6,3 bilhões em setembro. Os aportes realizados por investidores estrangeiros em companhias instaladas no Brasil seguem em níveis históricos. Porém, novembro já apresenta queda no volume. Até o ontem, US$ 2,8 bilhões foram investidos no País. A projeção do BC para o final do mês é de US$ 4 bilhões.

Fernando Rocha, chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, indica que as projeções de outubro se repetem em novembro pela perspectiva do arrefecimento dos investimentos no Brasil.

De acordo com o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, o IED está em patamares muito elevados, o que representa uma queda iminente. "Vislumbrando essa queda do IED, trabalho com baixo PIB [Produto Interno Bruto] para 2012", afirma. Perfeito possui uma projeção de que a economia nacional crescerá apenas 2% no próximo ano.

Para Jason Vieira, analista econômica da Corretora Cruzeiro do Sul, os investimentos feitos por estrangeiros vieram acima de sua expectativa. Porém, o economista indica que os aportes não se caracterizam, necessariamente, como dinheiro disponível para as companhias. "Parte destes investimentos são destinados para o mercado de renda fixa".

As transações correntes alcançaram déficit de US$ 3,1 bilhões em outubro. No ano, elas somam perdas de US$ 39 bilhões. Vieira afirma que os gastos com serviços no exterior também estão acima do normal, causando o aumento do saldo negativo na conta corrente. "O Brasil é muito deficitário neste setor", afirma. Os gastos com viagens e aluguel de equipamentos têm se intensificado nos últimos anos, alçando as despesas com serviços a patamares históricos mês após mês.

O Banco Central afirma que as transações correntes devem fechar o ano com déficit de US$ 54 bilhões. As perdas em serviços e renda serão contemporizadas pela projeção de superávit comercial, em US$ 29 bilhões.

Perfeito descreve um cenário pessimista para 2012. "Existirá uma queda de investimentos e aumento das remessas para o exterior. Exportações devem perder valor e as importações devem continuar subindo", diz. Para o economista, os investimentos em carteira também serão afetados pela crise. Em outubro, US$ 397 milhões foram investidos em carteira, tendo ingresso líquido de US$ 427 milhões em ações, e saída líquida de US$ 30 milhões em renda fixa. No entanto, Perfeito indica que há uma mudança de direção deste mercado. "Estamos com uma bolsa [Ibovespa] que cai, em dólares, 10% no mês. Em reais, 4%", afirma. "Em um mundo em crise, há busca incessante pela liquidez, que está nos títulos americanos, não aqui", completa.

As reservas internacionais alcançaram US$ 352,9 bilhões em outubro, US$ 3,2 bilhões acima do registrado em setembro. Jason Vieira vê como positiva o aumento das reservas em época de desvalorização do real. "O Governo está na ponta vencedora com o aumento do câmbio", afirma. Por Gustavo Machado
Fonte:dci23/11/2011

23 novembro 2011



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