A rede Ímpar, criada pelo fundador da Amil, Edson de Godoy Bueno, rebate os rumores sobre uma possível negociação de seus hospitais com investimento de R$ 300 milhões em expansão
Caminho saudável: a visão do tratamento completo do paciente, em vez de custos de cada procedimento, justifica investimentos em tecnologias como a cirurgia robótica, defende o CEO paulo Curi
A imagem que ilustra essa reportagem, que está exposta no hall de entrada do hospital 9 de julho, em São Paulo, foi adquirida pelo empresário Edson de Godoy Bueno (1943-2017) em uma viagem para a Austrália. O retrato “Tree of life”, do fotógrafo australiano Peter Lik, mostra a beleza e a força de uma árvore nativa do país, que finca profundamente suas raízes. É com esse mesmo espírito que o grupo Ímpar, dono de seis hospitais, responde aos rumores de venda de negócios: os herdeiros de Bueno continuarão firmes no comando dos seus seis hospitais – um sétimo será inaugurado neste ano.
Às pessoas próximas, Dulce Pugliese, ex-esposa de Bueno e presidente do conselho de administração do grupo, diz que os interessados só começaram a aparecer após a divulgação, pela imprensa, de que os ativos da família estavam à venda. Não era verdade. Tanto que a empresa, que vai faturar R$ 2,5 bilhões neste ano, está investindo na ampliação dos negócios. “Edson e a família sempre tiveram um nível de exigência altíssimo”, afirma Paulo Curi, CEO do Ímpar. “Cada decisão tem de trazer rentabilidade e não causar motivos para desagradar o paciente, o médico e a operadora de planos de saúde.”
Grupo contratou 1,3 mil profissionais neste ano e vai acrescentar 3 mil pessoas com o novo hospital
A rede, que investiu R$ 1 bilhão entre 2015 e 2017, aumentou seu desembolso anual em 2018 em 20%, para R$ 300 milhões. Os recursos estão sendo usados para equipar os seis hospitais: dois em São Paulo, dois no Rio de Janeiro (capital fluminense e Niterói) e dois em Brasília, em um total de 1.350 leitos. Na capital federal, o número atual de 280 leitos vai dobrar após a inauguração do Hospital Brasília – Unidade Águas Claras, no fim de 2019. Esse novo hospital está localizado em um bairro estratégico da capital federal, onde a população é jovem e tem bom poder aquisitivo. Cerca de 3 mil profissionais serão selecionados. Ao todo, neste ano, já foram contratados 1.3 mil profissionais em todo o grupo.
“A decisão de construir um novo hospital veio porque não havia um ativo que poderíamos comprar, com o perfil que desejávamos”, diz Curi. “Se houvesse um hospital nesses moldes, poderíamos ter crescido com aquisição.” Além disso, no primeiro semestre, o 9 de Julho inaugurou em um novo prédio, com mais de 60 leitos, além de ter ampliado o pronto-socorro e o centro de diagnósticos. O crescimento de leitos da Ímpar acontece com o objetivo de substituir espaços dos rivais menores. Não existe um crescimento no número de leitos no Brasil, mas sim uma substituição, defende Curi. E há espaço para expansão. Segundo a Anahp, a associação dos hospitais privados, há dois leitos por habitante no País, quando o ideal seria entre três e cinco.
Esse movimento não é uma exclusividade da Ímpar. Desde 2015, uma mudança na legislação permitiu que grupos estrangeiros investissem no setor de saúde. Isso atraiu diversos competidores, como a própria UnitedHealth, que ao adquirir a Amil, passou a controlar 21 instituições no País e ficou atrás apenas da Rede D’Or São Luiz, que pertence a Jorge Moll, ao private equity Carlyle e ao GIC, fundo soberano de Cingapura (veja quadro ao final da reportagem). Essas empresas vêm com uma estratégia de gerir seus próprios hospitais para ter um controle sobre os custos de exames e internações. Uma concorrência adicional vem dos planos de saúde.
A Amil, sob o comando de Bueno, foi pioneira em se proteger contra o aumento de custos médicos ao criar uma divisão própria de hospitais, que foi dividida entre a UnitedHealth e a Ímpar. Mas outros grandes planos, como Hapvida e NotreDame Intermédica, fizeram caminho similar. “Com a liberação da entrada de capital estrangeiro nos hospitais e a consolidação desses grupos, a relação de forças mudou no setor”, diz Henning Von Koss, consultor independente e ex-diretor de operações da Amil. “Os pequenos hospitais tinham muita dependência dos planos e depois começaram a ganhar força de negociação. Então, os administradores de planos construíram redes próprias para controlar os custos, em especial, em procedimentos de alta complexidade.”
Depois da morte de bueno, mais de 10 empresas demonstraram interesse nos ativos hospitalares da família
Além disso, as grandes redes têm maior fôlego financeiro para investir em tecnologia. O 9 de Julho, por exemplo, está adquirindo o seu terceiro robô de cirurgias Da Vinci. Será o quarto aparelho da Ímpar, dos 41 que já foram vendidos pela fabricante Intuitive Surgical no Brasil. Cada um custa US$ 4,5 milhões, o equivalente a R$ 16 milhões. A rede Ímpar ainda investe o mesmo valor apenas no treinamento de médicos para utilizá-los. Mais US$ 250 mil estão sendo direcionados no primeiro equipamento completo de simulação de cirurgias robóticas da América Latina, que já está em operação no hospital. “Assim os médicos podem treinar sem precisarmos parar os robôs”, diz Alfonso Migliore, diretor-geral do 9 de Julho. “A tecnologia que trazemos agrega valor. E, no futuro próximo, os planos de saúde vão acabar cobrindo os custos com as cirurgias robóticas, porque no fim das contas trazem um pós-operatório mais rápido para o paciente e menor índice de cuidados posteriores.”
Apesar das negativas sobre a venda, pessoas próximas à família disseram à DINHEIRO que uma eventual negociação dos ativos não é simples e nem pode ser feita no curto prazo. O inventário de Bueno, que faleceu durante um jogo de tênis em sua casa, quatro dias após deixar a posição executiva que ainda ocupava na Amil, ainda está em andamento e deve ficar pronto apenas em 2019. Com isso, Dulce e os herdeiros Pedro Bueno e Camila Grossi não podem se desfazer da Dasa, da Ímpar ou de qualquer um dos 30 negócios que a família é investidora antes da identificação dos bens e da partilha. Parceiros de negócios por 47 anos e ex-cônjuges de um casamento que durou 17 anos, entre as décadas de 1970 e 1990, Bueno e Dulce, fundadores do plano de saúde Amil, adotaram uma estratégia vertical de negócios dentro do segmento de saúde.
Adquiriram hospitais, estruturaram a Lavebras (que já foi vendida), de lavanderias para instituições de saúde, e compraram a Mafra Hospitalar, distribuidora de medicamentos e materiais médicos. Depois de vender 90% da Amil para a americana UnitedHealth, por US$ 5 bilhões, além de receber uma participação de 1% na gigante global, eles adquiriram a rede de diagnósticos Delboni Auriemo, para fundar a Dasa. Tudo isso coloca a Ímpar numa posição estratégica. Se os interessados pelo grupo hospitalar não avançarem logo que o juiz terminar o inventário para a família, a rede, que permanece fazendo fortes investimentos, pode se tornar um ativo bastante grande, e mais caro, para se comprar. Leia mais em istoedinheiro 10/08/2018
10 agosto 2018
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sexta-feira, agosto 10, 2018
Compra de empresa, Investimentos, Oportunidades, Private Equity, Saúde, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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