14 julho 2018

Quem é a Movile, startup que pode se tornar o 3º unicórnio brasileiro

O nome “Movile” pode não ser tão comum quanto iFood, SpoonRocket e Sympla, mas é a empresa por trás dessas (e outras) startups

Quando a 99 e Nubank se tornaram os primeiros unicórnios brasileiros ainda neste ano, não houve dúvidas sobre o modelo de negócios exercidos por essas startups. Nessa sexta-feira (13), a Movile recebeu o investimento de US$ 124 milhões e é a maior candidata a se tornar o terceiro unicórnio no país. Mas quem é e o que faz a Movile, afinal?

Você pode não conhecer a holding, mas com certeza conhece seus negócios. A empresa é investidora do iFood, SpoonRocket e Sympla; dona da PlayKids, Wavy e Rappido Marketplace e já nasceu com a ambição de se tornar grande.

Criada há quase 20 anos atrás com o nome de Intraweb, a Movile ajudou a pavimentar um setor ainda emergente no Brasil e no mundo na época: o de celular. Na época, era uma empresa de SMS e ringtones – dois produtos praticamente extintos no país atualmente. Foi o lançamento do iPhone que forçou a Movile a mudar seu modelo de negócios – se não o fizesse, provavelmente estaria extinta.

A empresa começou a procurar aplicativos para investir, adquirir e entrar nessa nova economia, e desde então não saiu mais. A Movile passou a testar vários mercados para encontrar uma solução de sucesso – inclusive aplicativos e vídeos de comédia e música. “Deu tudo errado. Estava dando tanto errado que lançamos uma empresa chamada Lamp para não sujar o nome da Movile”, contou Eduardo Henrique, um dos fundadores da Movile, em um evento da StartSe.

O início não foi fácil – a startup chegou a gastar US$ 100 mil para desenvolver um aplicativo de vídeo com notificações e duas semanas após o lançamento, o Facebook mudou o funcionamento da API de notificação – efetivamente destruindo o que a empresa havia gastado tanto para criar. Com o tempo, a empresa começou a se envolver com inovação no Vale do Silício e aprendeu o conceito de MVP, o que mudou toda sua estratégia e a deixou mais perto do sucesso. Além disso, a startup teve como exemplos o Google e a Ambev – saiba mais aqui.

Seguindo o conceito de mínimo produto viável, a startup criou o aplicativo Canal Desenho rapidamente, em apenas dois dias. O aplicativo cobrava US$ 9,99 de assinatura por mês para exibir 10 vídeos de criança. O modelo de negócios deu certo – a startup viu oportunidade em vídeos para criança e o Fabrício Bloisi, CEO da Movile, deu o orçamento de três mil dólares para o setor.

Assim o Play Kids foi criado e se tornou o aplicativo infantil nº1 do mundo, com mais de 38 milhões de downloads. Hoje, o aplicativo é considerado um Netflix para crianças, concentrando desenhos e jogos e até músicas de ninar.

Já uma das principais aquisições da startup – se não a principal -, foi o iFood. A partir de então, o setor de delivery de comida passou a ser de interesse da Movile, que investiu e adquiriu mais empresas do setor posteriormente. “Achamos uma startup pequenininha e colocamos R$ 2 milhões. Era o iFood. Ajudamos eles a crescerem de 15 mil ordens por mês até 3,3 milhões de ordens. Eles compraram mais de 12 concorrentes, ajudamos eles a pensarem grande”, comentou o co-fundador da startup.

Mas como uma empresa pode ter negócios tão diferentes como um aplicativo de aprendizado e entretenimento para crianças e outro de delivery de comida? O que une e define a Movile é o mobile – a empresa é um marketplace de aplicativos. Estima-se hoje que 5 bilhões de pessoas tenham smartphones no mundo, segundo a GSMA – esse é o tamanho do mercado disponível para a startup.

E a Movile está atacando todas as frentes. Seus produtos atualmente vão desde de delivery de comida (iFood, SpoonRocket, SinDelantal), compras online de supermercado (Mercadoni), pagamentos (Rapiddo para delivery e Zoop para pagamentos em geral), compra de ingressos (Sympla), mensageiro entre empresas (Wavy) e logística (MapLink), além do já citado PlayKids. Conheça seus produtos:

iFood
A relação do iFood com a Movile começou em 2013, quando a empresa investiu US$ 2,6 milhões no delivery de comida. Na época, o aporte tinha o intuito de expandir a atuação do aplicativo no país – havia apenas seis meses que a startup havia lançado um aplicativo. Antes, havia apenas a plataforma online.

No ano seguinte, a empresa investiu US$ 2,4 milhões na startup e se tornou sócia majoritária ao comprar as ações da Warehouse Investimentos. O valor da venda não foi informado. Hoje, o iFood tem mais de 6,2 milhões de pedidos mensais e atua também no México, Colômbia e Argentina.

SpoonRocket
A SpoonRocket é uma startup de delivery que promete entregar as refeições rapidamente – em 35 minutos em média. Fundada em 2013 no Vale do Silício, a startup escolhe todos os pratos dos restaurantes que podem ser adaptados e não perderão a qualidade ao serem enviados no delivery.

A startup foi adquirida pelo iFood (e consequentemente a Movile) em 2016. O valor da transação não foi informado. O objetivo na aquisição era trazer a inteligência para o iFood, buscando reduzir o tempo de espera dos consumidores em até 50%.

SinDelantal
A SinDelantal é uma plataforma de delivery de comida do México. A startup possibilita pedidos em mais de 3 mil restaurantes do México, oferecendo promoções e descontos e disponibilizando diversas formas de pagamento – inclusive o Paypal.

No mesmo ano em que comprou a SpoonRocket, o iFood (novamente, a Movile) adquiriu 49% da SinDelantal. Os termos do acordo não foram divulgados, mas esse foi o primeiro passo do iFood em direção à internacionalização.

Mercadoni
A Mercadoni realiza o serviço de entrega de compras em supermercados, farmácias, pet shops, lojas de vinhos e outras lojas locais. A startup atua na Colômbia, Argentina e México e promete entregar os produtos rapidamente.

Em 2017, a Movile adquiriu a startup de delivery por um valor não informado – na época, a empresa divulgou que o aporte faz parte de uma rodada de investimentos que totalizou US$ 9 milhões.

Rapiddo
O Rapiddo é uma plataforma de serviços online-to-offline criada pela Movile no qual os usuários podem usar serviços e ter parte do dinheiro de volta. Os serviços disponíveis são variados e vão desde delivery de refeições, recargas de celular, táxi (em parceria com a 99), leitura de notícias e até motoboy.

Zoop
A Zoop é uma fintech que integra meios de pagamento online ou presenciais em apenas uma plataforma, permitindo o recebimento por aplicativo, terminais de pagamento, boleto, transferências, carteira digital, entre outros. As startups podem criar os próprios serviços de pagamento utilizando a API da startup.

Neste ano, a Movile investiu US$ 18,3 milhões na Zoop, com o objetivo de torná-la líder na América Latina. Após o aporte, a intenção é de que todas as empresas do Grupo Movile utilizem a plataforma.

Sympla
A Sympla é uma plataforma de gestão de eventos e venda de ingressos. A startup foi criada em 2012 em Minas Gerais e se tornou a principal plataforma de eventos “do it yourself” do país, reunindo festas, shows, cursos, palestras, entre outros.

A Movile investiu pela primeira vez na Sympla em 2016, com um aporte de R$ 13 milhões. Um ano depois, a empresa voltou a investir na startup de eventos, realizando um novo aporte no valor de R$ 15 milhões.

Wavy
A Movile transformou sua área de conteúdo móvel e mensagens e criou uma nova empresa, a Wavy. A startup oferece uma plataforma de comunicação omnichannel, é ponte para parcerias estratégicas e une provedores de conteúdo para desenvolvimento de aplicativos educativos.

Maplink
A Maplink é uma startup de logística que contribui em várias frentes: além de calcular e planejar as melhores rotas (similar ao Waze), também realiza gerenciamento de entregas, conectando operadores, motoristas e consumidores. A Maplink ainda traz soluções que diminuem custos de transporte ao utilizar a geolocalização nas operações logísticas. Em 2014, ano em que comprou a iFood, a Movile também adquiriu a LBS Local, proprietária de ferramentas de localização como Apontador e Maplink. O investimento foi de R$ 36 milhões.

PlayKids
O PlayKids é considerado o “Netflix das crianças”, trazendo desenhos e filmes infantis por assinatura. Esse foi um dos primeiros produtos da startup e um símbolo de sua transformação digital. Hoje, o aplicativo se tornou uma plataforma de conteúdo educacional que auxilia no desenvolvimento de crianças. Além do aplicativo convencional, já existem aplicativos de histórias e jogos.

A Movile hoje
Hoje a startup está presente no Brasil, Estados Unidos, México, Colômbia, Peru, França e Argentina, com 15 escritórios espalhados por esses países. Mas, mais do que um case inernacional, a Movile se tornou um exemplo de empresa que poderia ter estacionado e acabado na velha economia, mas se reinventou e hoje é um dos principais expoentes da Nova Economia no Brasil.

E por mais que a Movile esteja perto, se tornar um unicórnio não é o seu objetivo – ela quer mais. “Como somos psicóticos, achamos que temos a oportunidade de criar uma empresa de 15, 20 bilhões de dólares”, disse Eduardo Henrique à StartSe. Tainá Freitas Leia mais em StartSe 13/07/2018


14 julho 2018



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