02 julho 2018

A desglobalização e a Kraft Heinz

Donald Trump e sua Nova Matriz Econômica

O primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau, vai ser fotografado hoje no meio de uma plantação de tomate (ou numa fábrica) enquanto anuncia a entrada em vigor de mais de US$ 12 bilhões em tarifas contra produtos americanos — incluindo o ketchup ‘Made in America’.

Mas a Kraft Heinz — uma das empresas prejudicadas pela medida — é apenas dano colateral.

O alvo de Trudeau é Donald Trump, cuja administração deflagrou uma guerra comercial impondo tarifas contra o alumínio e o aço canadense. Trump está fechando a economia americana e tentando reverter o processo de globalização, que derrubou fronteiras comerciais, integrou cadeias de suprimento e gerou riqueza e desinflação nos EUA.

Os canadenses não têm muita simpatia pela Heinz. Há quatro anos, como parte de sua estratégia de cortar na carne, a empresa fechou uma fábrica no país e botou 700 funcionários na rua. (A market share que a Heinz perdeu foi direto para a French’s, que de francesa só tem o nome: a marca pertence à McCormick, outra companhia americana. A French’s começou a produzir ketchup em Toronto no ano passado, e seu marketing inclui rótulos que dizem: “Envasado no Canadá com 100% de tomates canadense.”)

A Kraft Heinz faturou US$ 2,2 bilhões no Canadá no ano passado, o que representa 8% de seu faturamento global. No entanto, só 20% do seu negócio canadense é importado. Além do ketchup, a companhia vende café, mostarda, maionese e molho de salada.

Tudo indica que o CEO Bernardo Hees está atento ao assunto. Há dez dias, um senador da Pensilvânia, o estado onde a Kraft Heinz paga seus impostos, reclamou que as tarifas canadenses podem custar a própria existência da fábrica da Heinz em Ohio, de onde o ketchup é exportado.

“A solução para que eles possam continuar a vender seus produtos no Canadá seria fechar a fábrica nos EUA e transferi-la para o Canadá”, o Senador Patrick Toomey, um Republicano, disse ao Secretário de Comércio Wilbur Ross durante uma audiência no Congresso. Ross ficou quieto.

Toomey também deixou clara a semelhança que existe entre o Governo Trump e os de Lula e Dilma, que também apostavam em ‘conteúdo nacional’ e ‘campeões nacionais’ como a JBS e a Odebrecht.


“Para cada pessoa que trabalha na indústria de produção de aço, existem 40 ou mais pessoas que trabalham em empresas consumidoras de aço,” disse Toomey. “Estamos escolhendo vencedores e perdedores, o que provavelmente vai resultar, na minha opinião, em muito mais empregos perdidos do que ganhos.”

Nos anos 80, quando o Japão era visto como uma potência ascendente cuja hegemonia mundial era apenas questão de tempo, os slogans “Buy American” e “Made in America” tentavam superar o complexo de inferioridade americano. Os slogans eram eficazes para os políticos populistas, mas não muito eficientes para a economia.

Com o fim do protecionismo e o advento do 'free trade’, os EUA perderam empregos industriais para a China, mas ganharam preços baratos e continuaram sendo o mercado mais desejado do mundo. (A literatura econômica, aliás, mostra que a perda de empregos industriais teve muito mais a ver com os avanços da tecnologia do que com a China.)

Cada CEO americano hoje está tentando calcular quanto sua empresa vai ganhar ou perder com a tentativa de Trump de reverter a globalização — que é irreversível em muitos aspectos. Mas a maioria do S&P 500 vai simpatizar com o posição tomada pela Heinz, que disse na sexta-feira:

“Como uma empresa global de alimentos, a Kraft Heinz se opõe a políticas comerciais que impõem impostos ou tarifas sobre nossos produtos. Com o NAFTA em vigor há mais de 20 anos, desenvolvemos cadeias de suprimento que perpassam toda a América do Norte. Somos contra qualquer mudança que afete nossa capacidade de movimentar nossos produtos facilmente através dessas fronteiras”.

Cerca de 29% do faturamento do S&P vem de fora dos EUA.  Geraldo Samor  Leia mais em braziljournal 01/07/2018

02 julho 2018



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