22 abril 2018

Fundo árabe adquire o controle da SPFW, que abre neste sábado de olho no mercado externo

A 45ª edição da São Paulo Fashion Week, que vai de deste sábado (21) a quinta (26) no Pavilhão das Culturas Brasileiras, passa pela maior guinada em seus 22 anos.

A Luminosidade, braço do grupo Inbrands que comanda a semana de moda, vendeu 50,5% das ações da SPFW à IMM Participações, de propriedade do fundo de investimentos Mubadala Development Company, de Abu Dhabi.

O valor do negócio não foi divulgado. A nova acionista detém 25% da Rock World S.A, dona do Rock in Rio, e organiza eventos como UFC, Rio Open (tênis) e turnês do Cirque du Soleil no Brasil.

Em comunicado ao mercado, a InBrands afirma que a associação com o fundo árabe visa expandir o portfólio de moda para além da semana de desfiles paulistana.

O grupo brasileiro -dono de marcas como Ellus, Bobstore, Richards e Mandi- acumulou nos últimos anos prejuízos consecutivos. A dívida líquida atingiu R$ 593 milhões em setembro de 2017.

Em duas décadas, a SPFW passou de um evento que focava pequenas grifes para se tornar a maior plataforma de moda da América Latina, com investimentos de cerca de R$11 milhões por edição.

Em 2009, a Inbrands comprou 75% da controladora da SPFW. Paulo Borges passou então a ser o único acionário presente desde os primórdios da empresa. Diversos formatos passaram a ser testados.

Mudanças de datas e lugares acompanharam uma queda expressiva de patrocínio, público e grifes conhecidas.

Marcas com poder de fogo, que atraíam celebridades e mídia, como Triton, Colcci, Ellus, Cavalera e Forum, avaliaram que não compensava o investimento nos desfiles.

Projetos ligados à SPFW, como o Fashion Rio e o Rio-à-Porter, não sobreviveriam ao agravamento da recessão.

Em 2017, a Prefeitura de São Paulo cortou 37% do patrocínio, tornando o evento mais enxuto e menos glamoroso.

Planos para resgatar eventos no Rio, hoje sem programação oficial de desfiles, não vingaram em outras mudanças acionárias, como a associação com o grupo ABC, em 2009, então presidida pelo publicitário Nizan Guanaes.

Apesar das turbulências, a SPFW conseguiu manter sua relevância financeira e criativa para a indústria da moda.

Agora, a IMM (que se chamava IMX até 2015, quando foi vendida pelo empresário Eike Batista) terá poder de veto sobre a semana de moda e poderá, por exemplo, aplicar sua experiência em venda de ingresso e cota de patrocínio.

Hoje, são marcas e patrocinadores que distribuem convites da SPFW. Procurado, o fundo não comentou o negócio.

O fundador do evento, Paulo Borges, que ainda detém 25% da Luminosidade, continuará à frente da direção criativa.

À reportagem Borges afirma que a aquisição tem como propósito o crescimento da SPFW.

"A ideia principal é fortalecer, inovar ainda mais, e isso passa por todas as áreas de atuação. Gestão, estratégia, parcerias, patrocínios, projetos convergentes", diz, sem detalhar planos no curto prazo.

Hoje, a SPFW está alocada no parque Ibirapuera e Borges decide quais marcas entram na programação.

"Todos os pontos específicos de modelos de apresentações, locais e marcas serão tratadas como até hoje foram, e as melhores ideias, sugestões e soluções serão aplicadas. E necessariamente podem não ser as minhas, como já de fato ocorre. A melhor ideia sempre prevalecerá", afirma Borges.

O tempero árabe é ingrediente novo na moda. O fundo Mayhoola Qatar, por exemplo, adquiriu em 2016 o controle da francesa Balmain, sendo que quatro anos antes havia comprado a italiana Valentino.

Em dezembro do ano passado, um conselho de moda foi criado para a realização da primeira grande semana de desfiles do Oriente Médio, a Arab Fashion Week.

Na programação havia a marca brasileira Maison Alexandrine. Em processo de internacionalização, a empresa de Alexandra Fructoso apresentou sua coleção de festa lá em vez de desfilá-la na SPFW, na qual se destacou em 2017.

MODA PRAIA

Mudanças importantes no segmento também partem do mercado nacional. A grife brasileira de moda praia Água de Coco, que abre a programação da SPFW hoje no parque Ibirapuera, às 12h30, ampliará sua internacionalização após uma bem-sucedida incursão nos Estados Unidos.

Em maio, a marca abre espaço fixo na Casa Pau Brasil, em Lisboa, que já abriga espaços de nomes brasileiros como Lenny Niemeyer, Sérgio Rodrigues e Granado.

A mudança de estratégia torna desnecessária a divisão de peças por estação, dada a diferença entre hemisférios. Por isso, a marca decidiu apostar agora em uma coleção intitulada "Brazil com Z".

No papel de porta-voz do pop tipo exportação do Brasil, Anitta embalará o desfile da marca ao lado de tops como Isabeli Fontana, Ana Claudia Michels e Carol Trentini.

Saias pesadas, bodies enfeitados com pedras swarovski e peças de festa estarão presentes, com DNA tropical. Os babados, inspirados em Carmen Miranda, permeiam peças com tons terrosos.

"Vão ver que nós, brasileiros, também podemos ser chiques", afirma Renato Thomaz, CEO da Água de Coco. PEDRO DINIZ E GIULIANA MESQUITA (FOLHAPRESS) - Leia mais em bemparana 21/04/2018

22 abril 2018



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