As empresas brasileiras devem continuar absorvendo o momento positivo da economia no primeiro trimestre de 2018, ainda ilesas pela indefinição do cenário político nacional. O ritmo da retomada deve, no entanto, ser menos intenso que o da segunda metade do ano passado.
O Valor compilou projeções de quatro bancos, englobando, em média, 70 empresas, e as estimativas mostraram que, embora tenham perdido força em relação ao quarto trimestre de 2017 - muito por conta da sazonalidade do período - os resultados ainda estão crescendo na comparação anual. Para não distorcer a análise geral, foram excluídas da amostra Petrobras, Vale e Embraer.
Na ponta mais otimista, estão os bancos BTG Pactual e o Santander, que estimam crescimento médio de dois dígitos tanto para o lucro quanto para o Ebitda, indicador que mede o desempenho operacional da companhia.
Para o BTG, o lucro consolidado deve aumentar 32,4%, a receita deve crescer 15,6% e o Ebitda deve subir 16,2% no primeiro trimestre deste ano, em comparação anual. Já o Santander projeta altas de 17,8% e 15,1%, para lucro e Ebitda, respectivamente - o banco não abre as estimativas para receita.
Segundo Daniel Gewehr, estrategista do Santander para Brasil e América Latina, houve uma maior difusão dos resultados, com mais empresas da B3 registrando avanços. "Antes víamos apenas três ou quatro setores crescendo, hoje está mais espalhado". De acordo com as projeções do banco, dos 17 setores de sua cobertura, onze devem registrar aumento de dois dígitos no Ebitda e 14 no lucro.
Com estimativas mais neutras, o Morgan Stanley acredita que as companhias entregarão lucro 13,1% maior, enquanto o Itaú BBA espera um crescimento de 8,06% na última linha do balanço. As projeções dos dois bancos para receita são de alta de 9,8% e de 8,15%, respectivamente.
Para David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, os números perdem um pouco de força no trimestre porque vêm de um nível de crescimento alto dos três meses anteriores. "A base está inflada, então veremos resultados mais tímidos. Mas as variáveis econômicas continuaram as mesmas, favoráveis às companhias."
Além disso, o quarto trimestre tem a questão de sazonalidade, que costuma ser mais forte para as vendas corporativas, afirma Mário Mariante, analista da Planner Corretora. "Já no primeiro trimestre tivemos mais feriados, como o Carnaval, e férias coletivas. Isso gera uma redução de ritmo."
No lado macroeconômico, os resultados das empresas foram beneficiados pelo desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e pela contínua redução da taxa Selic. O PIB deve avançar 1,9% de janeiro a março deste ano, em base anual, segundo estimativas de analistas reunidas pelo Banco Central (BC) - no primeiro trimestre de 2017 esse indicador ficou estável. A Selic passou de 14,25% para 6,50% - menor patamar da história.
Os esforços individuais das empresas também levam crédito. Os analistas destacam a melhora na estrutura de custos e a desalavancagem financeira. As companhias aproveitaram o período de juros mais baixos e buscaram se desalavancar, trocando dívidas mais onerosas por mais baratas. "Isso reduziu bastante o custo financeiro das companhias, que reflete na última linha", afirmou Mariante, da Planner.
Com o custo financeiro caindo, as companhias puderam também se alavancar operacionalmente, melhorando a geração de caixa, o que se traduziu no crescimento do Ebitda acima da receita para muitas organizações. Gewehr, do Santander, aponta que o nível atual de alavancagem operacional das empresas da B3 está em 2,2 vezes, acima da média histórica. Nas crises de 2013 e 2009, por exemplo, estava apenas em uma vez.
No primeiro trimestre, a melhora operacional foi vista, principalmente, no setor de varejo e de transporte, que serão os grandes destaques da temporada. Empresas que estavam com investimentos em fase de maturação os colocaram em prática e abriram mais lojas, aumentaram volumes de veículos transportados e fizeram políticas de melhores descontos. É o caso da Lojas Renner, Lojas Americanas, Magazine Luiza e Localiza.
No sentido oposto, devem apresentar números menos expressivos o setor de educação - por conta dos atrasos em empréstimos do Programa de Financiamento Estudantil (FIES) do governo, que afetaram o ciclo de consumo - e o setor de saúde, devido ao aumento da concorrência e da pressão de margens.
A grande mensagem desse trimestre, portanto, é que a espiral positiva de recuperação continua, mas perdeu um pouco de sua intensidade por conta de um começo mais lento em 2018, quando as premissas econômicas já começam a ser revisadas para baixo. Tanto o cenário político - com a proximidade das eleições - como o internacional - com a subida dos juros - começam a pesar no ambiente de negócios.- Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 30/04/2018
30 abril 2018
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segunda-feira, abril 30, 2018
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Ruy Moura
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