26 dezembro 2013

Calendário apertado deve inibir lançamento de ações em 2014

Uma das principais fontes de recursos baratos para empresas que querem crescer pelo mundo, as ofertas públicas iniciais ... Analistas preveem pouco apetite por emissões com copa e eleições

Uma das principais fontes de recursos baratos para empresas que querem crescer pelo mundo, as ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) prometem mais um ano morno em 2014 no mercado brasileiro, efeito do pouco apetite dos investidores estrangeiros pelo país, um calendário apertado - o ano tem eleições e Copa do Mundo - e uma possível cautela das companhias em levantar dinheiro para investir em uma economia que cresce a ritmo mais lento.

 Em 2013, as ofertas de ações iniciais no Brasil cresceram estatisticamente de forma vigorosa frente ao ano anterior, em uma alta de 233%, para R$ 17,3 bilhões, com dez operações. Especialistas alertam, porém, que os dados acabaram distorcidos por uma grande operação: a BB Seguridade, braço de seguros do Banco do Brasil, levantou sozinha R$ 11,5 bilhões em seu IPO, 66% do total no ano. Esta foi, inclusive, a maior oferta do tipo no mundo em 2013, segundo levantamento da consultoria EY (antiga Ernst & Young).

 - Sem dúvida, a BB Seguridade distorceu a estatística. É um ponto fora da curva. Para esse mercado melhorar, precisamos ver uma redução nessa chuva de notícias ruins que tem atrapalhado o país. É preciso rever nosso modelo de crescimento, baseado em consumo, e voltar a crescer. Quando os projetos de investimentos forem viabilizados, e as empresas estiverem mais confiantes, os IPOs vão vir naturalmente. Até porque não dá para viver só de BNDES - diz André Viola Ferreira, sócio líder de Mercados Estratégicos da EY.

 Na CVM, dois pedidos em análise >
 Segundo o estudo da consultoria, o mercado de IPOs movimentou US$ 163 bilhões no mundo neste ano, aumento de 27% em comparação aos US$ 128,6 bilhões do ano passado. Os recursos se referem a 864 operações, das quais o Brasil respondeu por apenas 5%. Lá fora, o crescimento foi puxado pelas ofertas realizadas nos Estados Unidos. Entre os destaques estiveram os IPOs do Hilton Worldwide Holdings, do grupo de hotéis, que movimentou US$ 2,2 bilhões, e do Twitter, que gerou US$ 2,1 bilhões.

 - No Brasil, começamos o ano muito bem, acompanhando o ritmo externo. Mas isso foi ficando para trás a partir do meio do ano, com o sinal de redução de estímulos nos EUA. No fim do ano, a situação ficou pior com o pessimismo dos investidores com o cenário macroeconômico brasileiro - disse Hans Lin, chefe da área do banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch.

 Ele afirma que tem ofertas preparadas, especialmente de setores como infraestrutura, telecomunicações e tecnologia. Apesar disso, ele acredita que o mercado de IPOs no Brasil deve apenas repetir em 2014 o desempenho deste ano.

 - Um dos problemas é que vamos ter poucos períodos para fazer as ofertas, devido à Copa e às eleições. Um IPO leva de três a quatro meses. E, nesses períodos de Copa do Mundo e eleições, os mercados mais ou menos param - explica Lin.

 Itaú BBA e Credit Suisse, gigantes do setor, também estimam que o fluxo de ofertas no próximo ano seja semelhante ou um pouco superior ao apresentado neste ano. Na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) existem hoje apenas dois pedidos em análise: Ouro Verde e Unidas, ambas empresas de locação de veículos.

 Marcelo Kayath, chefe da área de Securities do Credit Suisse, diz que grandes operações devem ocorrer ao longo de 2014. Ele lembra que, por mais que a economia esteja girando em ritmo mais lento e haja um pessimismo quase generalizado entre analistas, o mercado acionário brasileiro equivale a 60% do total da América Latina. A situação brasileira, porém, é diferente da vivida no México, que, de acordo com o Credit Suisse, só neste ano teve 18 operações em Bolsa e registrará um fluxo ainda mais alto em 2014. A ausência de reformas fiscal, política e trabalhista - já feitas ou em andamento no governo mexicano - são os principais entraves no Brasil.

 Jean-Marc Etlin, vice-presidente executivo do Itaú BBA, diz que, apesar de tudo, 2013 não foi um ano ruim para as ofertas feitas no no país.

 - Tivemos uma alta de 60% no volume dos IPOs. Já 2014 não vai ser um ano nem muito melhor nem muito pior. Há algumas operações gigantes represadas, que podem sair no ano que vem - comenta Etlin.

 fim dos anos dourados >

 Para o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, o fraco desempenho do mercado de IPOs no Brasil nos últimos anos marca o fim dos anos dourados dos mercados emergentes. Ele cita o fim do ciclo de Commodities , que contribuiu para um crescimento médio de 4,5% da economia brasileira entre 2003 e o fim de 2011. Ele explica que esse foi um período de crescimento dos negócios, lucro das empresas e boom imobiliário.

 Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, as empresas brasileiras têm revisto seus investimentos e a necessidade de captar novos recursos diante do cenário de menor crescimento da economia e pouca visibilidade sobre os rumos da economia.

 Segundo Alexei Remizov, diretor-gerente de capitais externos do HSBC, empresas, bancos e governo brasileiro captaram quase US$ 40 bilhões no mercado internacional de dívidas este ano, valor próximo dos US$ 39 bilhões registrados durante o ano passado. Mas, como no mercado de IPOs, boa parte das operações foi concentrada no começo do ano, antes da piora do humor dos investidores com o Brasil e dos sinais, dados pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), da retirada dos estímulos da economia americana.  Bruno Villas Bôas | Roberta Scrivano |  O Globo
 Fonte: resenhaeletronica 26/12/2013 

26 dezembro 2013



0 comentários: