02 outubro 2018

Mais de 80% das empresas que fizeram IPO nos EUA neste ano têm prejuízo

Entre as empresas que fizeram oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) nos Estados Unidos neste ano, 83% registraram prejuízos nos últimos 12 meses, segundo dados compilados por Jay Ritter, professor da Universidade da Flórida. Esse é o maior nível desde o início da série histórica desse estudo, em 1980.

A aposta dos investidores nessas empresas deficitárias, no entanto, parece estar valendo a pena. Em média, elas registram alta de 36% desde o IPO. Já os papéis de empresas que estrearam na bolsa e têm resultado positivo subiram, em média, 32%. O índice S&P 500 acumula alta de 9% neste ano.
Nos três primeiros trimestres deste ano, 180 empresas abriram o capital nos EUA, levantando mais de US$ 50 bilhões, segundo dados da Dealogic.

Mantido esse ritmo, 2018 deve bater o recorde tanto em número de IPOs quanto em volume. Na semana passada, uma das companhias que estreou na bolsa foi a SVMK, holding que controla o site SurveyMonkey, que nunca registrou um ano de lucro. No dia da estreia, ela subiu mais de 40%. Já a Tilray, varejista de maconha canadense que também é deficitária, subiu mais de 740% desde sua estreia na Nasdaq em meados do ano.

No caso da Solid Biosciences - que ainda não gerou nem receita -, o papel já quase triplicou de preço desde a abertura de capital, em janeiro. A companhia informou na véspera do IPO que os estudos de um dos medicamentos que está desenvolvendo foram paralisados, mas ainda assim conseguiu levantar US$ 144 milhões.

Um dos fatores que ajuda a explicar o apetite dos investidores por essas companhias deficitárias é que, mesmo com o recente aumento no número de IPOs, o total de companhias de capital aberto vem caindo e muitas grandes empresas de tecnologia, como Uber e Airbnb, por exemplo, ainda não decidiram se vão para a bolsa.

O recorde anterior de empresas com resultado negativo nos IPOs foi em 2000, com 81% do total. Naquela época os destaques eram as empresas de tecnologia, enquanto agora muitas dessas companhias são de biotecnologia.

Alguns analistas e investidores temem que as esperanças de lucros futuros para a safra atual de IPOs não se concretizarão e dizem ver indícios de uma bolha semelhante àquela do "ponto.com". No ano 2000, apenas 14% das companhias de tecnologia que abriram capital nos EUA eram lucrativas, ante 19% este ano.

Muitas das companhias que abriram capital em 2000, como a provedora de serviços para internet Genuity e a fabricante de placas eletrônicas Viasystems, não sobreviveram. Ambas acabaram entrando com pedido de falência em 2002.

Kevin Landis, diretor de investimento da gestora Firsthand Capital Management, que é focada em tecnologia, diz se preocupar com o volume de dinheiro aplicado em empresas deficitárias. "A lição do ano 2000 é: 'não persiga o que todo mundo está perseguindo'", comenta. Segundo ele, algumas companhias podem preferir abrir capital antes de se tornarem lucrativas, já que isso geraria uma métrica de preço/lucro distorcida.

Apesar do bom desempenho dos IPOs de empresas deficitárias este ano, nem todas foram bem-sucedidas. A ADT, que abriu capital em janeiro, acumula queda de mais de 30%. Outro exemplo famoso é o Snapchat, que listou suas ações no ano passado e até agora já caiu quase 50%. O crescimento no número de usuários decepcionou e a companhia perdeu vários executivos importantes.

"O problema das companhias jovens com forte crescimento, sobre as quais os investidores criaram projeções bastante otimistas, é que se elas não entregam esses resultados podem ser reavaliadas rapidamente", comenta Ritter.

Por enquanto, o temor de perder um eventual rali supera esses receios, à medida que os principais índices acionários americanos têm operado em torno de máximas históricas.

Zander Lurie, executivo-chefe da holding do SurveyMonkey, disse que os investidores estão provavelmente dispostos a relevar os prejuízos da companhia porque acreditam que ela tem um bom fluxo de caixa. Ele admitiu que a companhia, que tem 19 anos, ainda vai demorar "vários anos" antes de se tornar lucrativa. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 02/10/2018


02 outubro 2018



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