03 outubro 2018

Gastos da GE com bancos para fusões são questionados

A General Electric (GE) pagou mais de US$ 6 bilhões em honorários a bancos de Wall Street desde a virada do século, mesmo com seu valor de mercado sofrendo um decréscimo de 80% no período.

O histórico de negócios do conglomerado industrial foi questionado ontem, depois que a companhia revelou que vai lançar como baixa contábil US$ 23 bilhões do valor de sua divisão de energia, após o desempenho desapontador dos negócios que adquiriu com a tomada de controle da Alstom em 2015.

O mais novo desastre, que custou ao executivo-chefe John Flannery seu cargo pouco mais de um ano após ele sido promovido ao posto, ocorre no momento em que a GE se vê perto de um desmembramento parcial e desfaz anos de aquisições - o que está levando a uma explosão do pagamento de honorários aos seus banqueiros favoritos.

Graças a centenas de negócios feitos nas duas últimas décadas, a GE desembolsou US$ 1,8 bilhão em consultoria a aquisições e alienações e mais de US$ 3 bilhões para detentores de bônus desde 2000, segundo dados da Thomson Reuters.

J.P. Morgan Chase, Citigroup, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Bank of America (BofA) ganharam, cada um, mais de US$ 500 milhões nesse período, incluindo aí o trabalho que eles fizeram em ofertas de ações e empréstimos.

Há muito tempo a GE vem sendo uma máquina de aquisições, abocanhando empresas nos setores da indústria, mídia, saúde e finanças. Sob o exexecutivo-chefe Jack Welch, a companhia se diversificou nas décadas de 80 e 90, comprando ativos como a rede de televisão NBC e construindo uma gigantesca divisão de serviços financeiros. Na esteira da crise de 2008, ela reduziu seus negócios financeiros e, em meio a muitas críticas dos investidores, acelerou as vendas de outros ativos.
As relações da companhia com o JP Morgan são as mais profundas, datando de 1892, quando John Pierpont Morgan coordenou a fusão da ThomasHouston International Electric com a Edison General Electric.

Jimmy Lee, o lendário banqueiro do JP Morgan, que morreu em 2015, manteve a conexão com o sucessor de Welch, Jeffrey Immelt, que comandou a companhia por 16 anos. Lee atuou como consultor na venda da participação da companhia na NBC e de ativos da sua unidade financeira.
Recentemente, o conglomerado recorreu a outros. O Morgan Stanley e o pequeno banco de investimentos Centerview Partners atuaram como consultores no negócio de US$ 32 bilhões da GE envolvendo a fusão de suas operações de petróleo e gás com a Baker Hughes em 2016. A GE informou este ano que pretende desmembrar os negócios.

O Morgan Stanley e o Centerview também estavam na equipe que aconselhou a GE na compra, por US$ 10,7 bilhões, das operações de geração e distribuição de energia da Alstom, juntamente com o Lazard e o Credit Suisse.

Este negócio foi uma aposta de que a energia nuclear e a gerada pela queima de gás e carvão continuariam sendo a escolha das empresas de serviços públicos por um bom tempo, mas os lucros da unidade despencaram depois que as energias renováveis começaram a ganhar participação de mercado e os clientes a renegociar contratos de serviços.

Jeffrey Sprague, analista da Vertical Research Partners, diz que a compra da Alstom "foi o negócio mais incomum que já vimos" e que a baixa contábil de US$ 23 bilhões anunciada pela GE na segunda-feira significa que os fluxos de caixa esperados do negócio "não estão mais lá".
Falando à " CNBC " no ano passado, Flannery admitiu que o negócio com a Alstom "no geral tem sido um desapontamento". Ele afirmou: "Se pudéssemos voltar no tempo, pagaríamos um preço bem menor do que pagamos. Não há duvidas sobre isso".

A companhia agora convocou o banco de investimentos PJT para aconselhála em assuntos estratégicos, segundo informam várias fontes. O PJT não quis comentar.

Não obstante, os problemas da GE com sua unidade financeira mantiveram a companhia presa aos seus consultores financeiros, que oferecem um acesso importante aos mercados de capitais num momento em que seu balanço se encontra sob pressão. A classificação de crédito da GE foi colocada sob revisão para possível rebaixamento pela S&P Global, enquanto a agência Moody's está com uma perspectiva negativa para o grupo.

"É difícil encontrar um único culpado, mas você pode facilmente dizer que foi uma falha coletiva", diz um banqueiro, que preferiu ficar no anonimato por não estar autorizado a falar sobre o assunto. "CEOs cegos, membros do conselho condescendentes e consultores dispostos a fazer o próximo negócio a qualquer custo." Contatados, BofA, Citigroup, Centerview, Credit Suisse, GE, Goldman Sachs, J.P. Morgan, Lazard e Morgan Stanley não quiseram fazer comentários.

Gautam Khanna, analista da Cowen, diz que Larry Culp, o ex-executivo-chefe da Danaher que na segunda-feira foi nomeado para substituir Flannery, terá como identificar "de maneira mais rápida e imparcial" os problemas que a companhia tem por que é um "forasteiro experiente".

Khanna observa que Culp era conhecido pela "alocação prudente de capital", mesmo tendo concluído fusões de muitos bilhões de dólares. Mas Khanna acrescenta: "Os desafios enfrentados pela GE... não poderão ser resolvidos rápida e facilmente". - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 03/10/2018

03 outubro 2018



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