03 novembro 2011

Expectativas assimétricas

FMI e economistas preveem cenário pessimista para o desempenho da economia mundial em 2012

A economia mundial deve ter um desempenho razoável, segundo as mais recentes projeções dos economistas do FMI, em 2012.

A taxa de crescimento mundial deve situar-se próxima de 4%, marginalmente acima daquela observada em 2011, abaixo das taxas vigentes em 2006/7 (média de 5,3%) e bem acima das taxas de 2,8% e de -0,7% de 2008 e de 2009.

Considerando-se grandes blocos e regiões, o crescimento mundial seguiria, na visão daquela instituição multilateral, sendo liderado pelas economias emergentes, com expansão esperada de 6,1%, sendo 8% na Ásia e 4% na América Latina, ao passo que as economias avançadas teriam crescimento bem mais modesto, de 1,9%, sendo somente 1,1% na zona do euro -que, se as projeções se materializarem, apenas em 2012 terá, por margem estreita, superado a contração de 2008.

Olhando os demais componentes do G4, espera-se crescimento de 1,8% para os EUA em 2012, ante 1,5% em 2011, 2,3% para o Japão, com recuperação expressiva, para os padrões japoneses, depois do terremoto e do tsunami de 2011, quando o PIB deve ter queda de 0,5%. Já a China deve desacelerar para 9% em 2012, ante 9,5% em 2011.

Em resumo, nada muito alentador, mas tampouco desastroso. Ocorre que o próprio Fundo alerta, em suas "Perspectivas Econômicas Mundiais", que os riscos para essas projeções são predominantemente negativos.

Nisso os economistas do FMI estão em boa companhia. Os mais renomados economistas têm, e não é de agora, disputado uma corrida para estabelecer quem é mais pessimista. Em um ambiente de recriminações sobre o papel, dúvidas (excessivas) sobre os fundamentos da profissão, os economistas embarcaram na onda da austeridade e das expectativas deprimidas. Essa atitude, apesar de ter um elemento de "efeito manada", pode perfeitamente estar correta. Os desafios perante a economia mundial são de fato bastante severos.

Nos EUA, temos um ambiente econômico complexo, com recuperação modesta e decepcionante no que se refere à geração de empregos. Aos problemas estruturais da desalavancagem das famílias e do setor imobiliário, pode se somar uma política fiscal contracionista, mais por conta do ambiente político carregado do que por decisão do governo Obama, que provavelmente teria de ser compensada por novas iniciativas do Fed (o BC do EUA).

A Europa vive, mais do que uma crise da dívida, uma crise política (quem determina as decisões de política fiscal da Itália, Roma ou Bruxelas, ou Frankfurt?) bem como uma crise estrutural -como fazer para que a periferia mediterrânea volte a crescer? A falta de informações claras sobre tais questões sugere que o nervosismo dos mercados com a situação do continente tende a persistir.

Mais recentemente, até a China tornou-se objeto de alguma preocupação. Nesse caso, a temática vai desde temores quanto a um pouso forçado, ou seja, crescimento mais para 7% do que para 9%, até uma possível crise financeira derivada do descontrole das finanças dos governos locais e seus efeitos sobre o sistema bancário.

Diante desse quadro, o predomínio do pessimismo é natural e de certa forma prudente -ninguém quer ser acusado de esquecer ou ignorar os chamados "downside risks". A concentração de opiniões nessa região pode, entretanto, apresentar situações interessantes. Em particular, a atual configuração de preços de ativos, em que pese a alta generalizada desde setembro, parece refletir não um cenário central parecido com aquele apresentado pelo FMI, mas sim os diversos riscos negativos que pairam no ar.

Nesse contexto, os economistas diriam que o pessimismo reflete um cenário central insosso e em especial um balanço de riscos para o crescimento mundial desfavorável. Por sua vez, os operadores de mercado diriam que, apesar de as preocupações listadas serem pertinentes, a posição técnica do pessimismo, que concentra a ampla maioria da opinião informada, é desfavorável -nesses momentos de consenso aparentemente inabalável, as mudanças de opinião podem ser substanciais e se traduzir em ajustes expressivos dos preços. MARIO MESQUITA, 46, doutor em economia pela Universidade de Oxford,
Fonte:folhadesp02/11/2011

03 novembro 2011



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