11 fevereiro 2016

Grandes bancos passam a concorrer em nichos de pequenos

Não bastasse a concentração natural de suas carteiras, os bancos menores vêm sofrendo concorrência acirrada dos "bancões". Por meio da aquisição de firmas menores, instituições como Itaú, Banco do Brasil e Bradesco começaram a atuar em nichos anteriormente desprezados, como crédito consignado e hipotecas. Os grandes chegaram com variedade maior de serviços que a dos pequenos, o que permite oferecer do cartão de crédito ao seguro, consolidando ainda mais a dominância de mercado.

- Quando os grandes bancos passam a atuar em todos os produtos e segmentos, o que sobra para o pequeno e médio? Eles estão tendo que se reinventar - afirmou o diretor sênior da agência Fitch, Claudio Gallina.

Eduardo Ribas, também da Fitch, observa que essa dinâmica elevou a concentração dos bancos médios e pequenos no segmento de crédito, um problema em uma economia em recessão e com inadimplência em alta.

- Eles não têm muita oferta de serviços adicionais representativa o bastante para compensar o apetite menor pelo crédito. Então têm que gerenciar a inadimplência, que tende a subir, enquanto não têm muito espaço para cortar despesas, pois são alvo de regulação pesada do Banco Central. Assim, a margem vai caindo.

A concorrência com grandes bancos de varejo levou o pernambucano Gerador a decidir encerrar as atividades. Focado no crédito consignado (com desconto em folha) e capital de giro para pequenas e médias empresas, o banco parou de emprestar no fim de 2014 e vendeu suas carteiras. A meta é sair do mercado em dois meses, eliminando os ativos e celebrando a venda de licença e sistemas. Já há comprador, segundo Paulo Dalla Nora, presidente do Gerador.

- O mercado de consignado literalmente acabou para a gente. O governo estimulou um avanço forte dos bancos públicos no segmento, e hoje BB e Caixa são muito atuantes. Se isso é bom ou ruim para o país, não cabe a mim discutir. Mas decidimos sair desse mercado porque deixou de existir - lamentou.

Além de perder mercado para os grandes, os bancos menores não conseguem aproveitar plenamente a alta dos juros da economia por meio de aplicações financeiras, lembra João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho:

- Eles captam recursos a taxas praticamente idênticas aos juros da economia. Ou seja, a taxas muito maiores que os bancos grandes. Assim, se a demanda por crédito está escassa, eles não auferem muita rentabilidade com operações de tesouraria. Pior: são forçados a deixar em caixa grande parte do dinheiro porque o mercado testa o tempo todo a alavancagem dessas instituições - afirmou.

Segundo Ceres Lisboa, analista da agência de risco Moody's, a crise dos bancos pequenos e médios não representa um risco sistêmico:

- A importância sistêmica desses bancos é quase nenhuma. Eles representam menos de 5% do estoque de crédito do país.

O banco paulista Indusval também amargou perdas importantes: R$ 153,2 milhões nos três primeiros trimestres de 2015. O codiretor executivo, Luiz Masagão Ribeiro, admite que parte das dificuldades se deve ao crédito do segmento de middle market, segmento do qual o banco decidiu se afastar em 2011, mas cujo estoque remanescente começou a causar transtornos dois anos depois, com a piora da economia do país. O problema levou, na época, a aumento de provisões e a um aumento de capital.

Mas o pior estaria por vir. Segundo Ribeiro, justamente quando o Indusval começava a ganhar escala para trabalhar com empresas maiores, surgiu o problema da Ceagro, comercializadora de milho e soja. A empresa não honrou compromissos com seus credores, dos quais o Indusval é tido como o maior. O caso está na Justiça, mas o banco foi obrigado a provisionar extraordinariamente R$ 210 milhões, além de os controladores terem injetado R$ 80 milhões no negócio.

- Como a pancada foi muito grande, vamos encolher o banco. Subimos o nível de caixa, o que é caro, e diminuímos as operações. Esperamos que a lucratividade comece a aparecer no segundo semestre do ano que vem - disse Ribeiro, que, apesar do "pesadelo Ceagro", está determinado a focar no segmento agrícola.

MAIS JUROS, MAIS DESPESASO banco Pan disse que a alta de juros a partir do fim de 2014 levou a aumento das despesas financeiras, uma vez que o "reajuste das taxas dos contratos pré-fixados ocorre com defasagem". O banco afirmou que, no primeiro trimestre, obteve receitas menores do que no restante do ano porque realizou volume baixo de cessão de crédito por meio de um leque de produtos diferente daquele do restante do ano.

O Modal afirmou que os dados do BC usados não refletem a situação econômica do grupo. Segundo o banco, pelo balanço do tipo Conglomerado Prudencial, que inclui todas as receitas de gestão de recursos de terceiros, "o Modal apresentou lucro na apuração do resultado abrangente no montante de R$ 12 milhões em 2014 e de R$ 2 milhões no primeiro semestre de 2015".

Em nota, o Fator elencou alguns motivos para as perdas. Um deles foi o pagamento, à vista, de R$ 15,6 milhões pela sua corretora em um programa de refinanciamento de débitos tributários sobre impostos devidos por várias firmas do segmento desde 2007. Além disso, o grupo foi impactado pela fraca demanda no mercado de corretagem e pelo provisionamento de R$ 29 milhões no primeiro semestre.

O gaúcho Topázio afirmou que o prejuízo ocorre por causa da mudança do foco de atuação e que espera "desempenho mais robusto" em 2016, "reduzindo custos e projetando crescimento em volume de operações e em rentabilidade". Leia mais em invertironline 09/02/2016

11 fevereiro 2016



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