Durante a década passada, as startups de tecnologia cresceram tão rapidamente a ponto de não conseguirem contratar pessoas com a necessária rapidez. Agora, demissões vêm ocorrendo. Em janeiro, a startup de pizza robô Zume e a empresa de compartilhamento de carros Getaround, cortaram mais de 500 postos de trabalho. Em seguida a empresa de testes de DNA 23andMe, a de logística Flexport, a Mozilla, responsável pelo Firefox, e o website Quora iniciaram seus próprios cortes.
“É como se chegasse a hora de um ajuste de contas”, disse Josh Wolfe, investidor de risco de Nova York. A ascensão das startups foi impulsionada por uma onda de recursos injetados por investidores – cerca de US$ 763 bilhões nos Estados Unidos durante a década passada – que também alimentou o crescimento de jovens empresas na área de delivery, cannabis, imobiliária e de produtos de entrega direta ao consumidor.
Ao contrário das empresas de software de baixo custo, essas companhias privadas enfrentaram concorrentes da velha guarda gastando pesado em ativos físicos e funcionários enquanto perdiam dinheiro. Agora um recuo vem se verificando precisamente nas áreas que provocavam mais alarde.
Em todo o mundo, mais de 30 startups cortaram mais de oito mil postos de trabalho nos últimos quatro meses, de acordo com um cálculo feito pelo The New York Times. Os investimentos nessas jovens empresas caíram, com 2.215 startups levantando recursos nos EUA nos últimos três meses de 2019, o menor número desde final de 2016, segundo vários estudos.
Empresas outrora muito atrativas como a Lime, provedora de scooters elétricas, sairam de algumas cidades. Outras, como a Brandless, startup de comércio eletrônico, estão prestes a fechar. Muitas startups estão debilitadas depois de um ano de 2019 difícil, quando importantes companhias “unicórnios” avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais pelos investidores fracassaram em Wall Street. Uber e Lyft, que estão perdendo bilhões de dólares por ano, realizaram IPOS decepcionante no ano passado.
E a WeWork, empresa de compartilhamento de escritórios, fracassou na sua IPO, demitiu seu diretor executivo e sua valorização foi reduzida em 80% no ano passado. Os revezes são liderados por empresas que foram respaldadas pelo SoftBank, conglomerado japonês com um Vision Fund de US$ 100 bilhões para investir em startups. O SoftBank apostou muito dinheiro em empresas como Uber e WeWork, como também na startup de delivery colombiana Rappi e na indiana Oyo. Todas realizaram demissões de funcionários nos últimos meses.
No mês passado, o SoftBank informou que seu Vision Fund e outros investimentos feitos acarretaram um prejuízo operacional de US$ 2 bilhões no último trimestre de 2019. O revés provavelmente não será tão severo como foi a derrocada das empresas ponto.com no início dos anos 2000, quando dezenas de empresas de Internet não lucrativas faliram. Mas num setor conhecido pelo seu otimismo irracional, hoje o ceticismo impera.
Algumas startups estão demitindo até os robôs. Em janeiro, Café X, que opera cafeterias robôs e levantou US$ 14,5 milhões em capital de risco, fechou três lojas em São Francisco. Talvez a situação mais drástica seja das startups que operam com cannabis, que provocaram uma onda de euforia quando países como Canadá e Uruguai, e alguns Estados americanos, abrandaram as leis que criminalizavam a droga. No ano passado mais de 300 companhias que trabalhavam com cannabis levantaram US$ 2,6 bilhões em capital de risco.
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Ruy Moura
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