11 março 2019

Leandro Caldeira, CEO no Brasil do Gympass, fala das dores de crescer rápido

O CEO no Brasil do novo unicórnio brasileiro, avaliado em 1,1 bilhão de dólares, revela os segredos da empresa, que nasceu como startup em 2012, e hoje está presente em 15 países

O Gympass nasceu como um startup em 2012, com a proposta de ser uma grande porta de entrada para o universo das atividades físicas. Um dos conceitos por trás do negócio é a ampla oferta de espaços esportivos, de todos os tipos, que geram maior conforto para a prática esportiva.

Hoje, o Gympass possui 42 mil academias credenciadas pelo mundo, das quais 20 mil estão no Brasil. A empresa emprega 1.000 profissionais, em países da América Latina e do Norte e Europa. No Brasil, trabalham 500 pessoas, das quais 300 pessoas estão sob a batuta do engenheiro Leandro Caldeira, CEO do Gympass no Brasil.

Em janeiro, StartSe noticiou que o Gympass é o mais novo unicórnio brasileiro, com valor de mercado de 1,1 bilhão de dólares, após uma rodada de investimentos liderada pelo Softbank. “A gente não comenta a notícia oficialmente. É política do Conselho Administrativo da companhia não comentar sobre investimentos e faturamento”, disse à StartSe Caldeira, em entrevista, realizada no escritório do Gympass, em São Paulo.

Planos para 2019
De todo modo, afirma o CEO, a empresa seguirá expandindo suas operações em 2019. No Brasil, a estratégia do Gympass é crescer para além de São Paulo, em outros estados, expandindo sua base de empresas clientes e academias conveniadas. Sobre a estratégia de expansão global, que é liderada por César Carvalho, um dos fundadores do Gympass, Caldeira afirmou:

“Nosso principal mecanismo de expansão internacional é a demanda dos próprios clientes globais. Olhamos as oportunidades e reprimimos um pouco essa demanda para criar uma massa crítica que justifique a entrada em um novo país”, explica, lembrando que o recrutamento local e a aclimatação à cultura da empresa são alguns dos desafios.

O Gympass também está reforçando o investimento em tecnologia. Segundo Caldeira, as interfaces dos aplicativos dos setores de recursos humanos e do usuário final serão aprimoradas, tendo como objetivo a experiência dos melhores aplicativos do mundo. Outra aposta é o modelo de check-in via smartphone, que facilite a troca de informações sobre planos entre usuários e academias.

De acordo com os dados do Gympass, 80% dos usuários finais jamais tiveram um plano em academias antes de aderirem ao Gympass. “A gente ajuda a derrubar fronteiras funcionais e emocionais que as pessoas têm para fazer atividade física, como a distância, o tempo, o preço dos planos convencionais e a oferta de modalidades esportivas, além das barreiras emocionais relacionadas ao bem-estar”, diz Caldeira.

Modelo de negócio e disrupção
Dois anos após a fundação em 2012, os empreendedores César Carvalho (CEO Global), Vinicius Ferriani e João Thayro ‘pivotaram’ o modelo de negócio para B2B (business to business), que corresponde a 95% da operação atual. Voltada para companhias com mais de 1 mil funcionários, o Gympass atende clientes como Unilever, Santander e P&G.

“A gente descobriu outro elemento que destrava valor no sistema, que é a disposição das empresas investirem em funcionários mais saudáveis e mais produtivos. Do lado das academias, eu trago um mercado novo para elas, e agrego valor para ambas as partes. É aí que vem nosso crescimento exponencial”, diz Caldeira, o CEO no Brasil.

Na hora de negociar com o RH de uma empresa, para torná-la cliente do Gympass, Caldeira diz que os benefícios do Gympass estão formulados na tríade custo de saúde, absenteísmo e pedidos de demissão. O executivo afirma que as contratantes diminuem os gastos com o sinistro dos planos de saúde, têm profissionais que se ausentam menos devido à vida saudável engendrada pelas atividades físicas, gerando economia com horas extras, além da disposição do colaborador permanecer na companhia.

“A pessoa vai pensar duas vezes antes de trocar de empresa por uma diferença salarial marginal quando está em um ambiente que investe em qualidade de vida. Identificamos junto a empresas clientes que o número de pedidos de demissão caiu em 50%. E conseguimos medir o ganho nas outras frentes, como a economia de 10% a 40% no sinistro dos planos de saúde ou na prevenção de uma cirurgia bariátrica, por exemplo, que custa 80 mil reais. Justificamos a atividade física como um investimento para colher frutos ao longo do tempo”, explica.

Mudança de carreira
O CEO do Brasil assumiu a operação nacional no segundo trimestre de 2017. Dos cerca de 1.000 funcionários espalhados pelo mundo, 300 estão sob sua liderança. Após uma carreira de 10 anos na consultoria Boston Consulting Group, Caldeira, Caldeira que é engenheiro mecânico pela Unicamp com MBA pela Universidade de Northwestern, não titubeou em largar uma indústria convencional e ingressar no mundo das startups.

“Para mim foi simples: estamos inovando em uma empresa brasileira com ambição de crescer globalmente e com escala. Existem poucas empresas nacionais com o potencial de fazer uma disrupção global no mercado onde atua”, recorda.

Concorrência
As grandes redes de academias esportivas são concorrentes do Gympass? “A relação é de ganha-ganha. Não competimos com as academias, porque levamos um mercado adicional para elas. Somos parceiros, pois viabilizamos que elas recebam um funcionário do Itaú, da Caixa, do SulAmérica, do McDonalds”, responde Caldeira.

No entanto, o CEO admitiu que a Smart Fit, a Bio Ritmo (que pertencem ao mesmo grupo) e a Bodytech não estão sob o guarda-chuva da startup. “Mesmo assim não existe competição. Dado o nosso modelo de negócio, faria sentido para toda academia estar com o Gympass. Claro que existe uma relação comercial que eu tenho que negociar quanto pagar cada vez que um usuário visita o estabelecimento e depois revender para as empresas”, complementa.

A explicação mais sucinta é que não existe um concorrente direto no modelo de negócios do Gympass. Caldeira vislumbra que a competição ocorre dentro dos setores de recursos humanos contra outros benefícios já consolidados. “Nosso desafio é mostrar a necessidade de se investir em atividade física”, diz.

A startup tem ciência de que outras empresas tentam copiar a fórmula do Gympass para B2C (business to consumer) em formato de marketplace. No entanto, a observação é que todas as tentativas até então são falhas.

“Alguns negócios só redistribuem o valor existente numa cadeia. Nós pegamos algo que não é bom, melhoramos e todo mundo que participa extrai um pouco de valor. O nosso sucesso deixa dinheiro para todo mundo que participa. E a gente trouxe empresas gigantes para o jogo. Ninguém faz isso bem feito no mundo como nós”, destaca o CEO nacional. Enio Lourenço Leia mais em starse 08/03/2019

11 março 2019



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