As dúvidas que rondam a tramitação no Congresso da reforma da Previdência estão fazendo com que empresas brasileiras adiem seus planos para entrar na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Companhias como a XP, maior grupo de investimentos do país, Smart Fit, principal rede de academias esportivas da América Latina, e a Neoenergia, maior grupo privado do setor elétrico brasileiro, estão em compasso de espera, aguardando um avanço mais forte da proposta que prevê profundas mudanças nas regras previdenciárias.
Um dos IPOs (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) mais aguardados pelo mercado, o da XP, deve ocorrer apenas no fim de 2020, sendo que a previsão inicial da empresa era abrir o capital ainda em 2019. Também na área financeira, o banco digital Agibank, que já tem toda a papelada pronta para negociar ações no mercado, é outra companhia que resolveu esperar o desenrolar da reforma, temeroso de que as incertezas contaminem o desempenho de seus papéis e a sua capacidade de atrair investidores.
Não é difícil entender por que uma reforma previdenciária sólida animaria o mercado. Segundo projeções do ministro da Economia, Paulo Guedes, ela tem potencial para reduzir os gastos com Previdência em cerca de R$ 1 trilhão, em um período de 10 anos. Com essa economia, o governo reduziria drasticamente o deficit primário, o que, por si só, aumentaria de imediato a sua capacidade de investimento em áreas vitais, como saúde, educação e infraestrutura.
Atualmente, a dívida pública representa 77% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, patamar insustentável, especialmente para nações emergentes como o Brasil. Toda vez que o país encerra o ano com deficit primário, a dívida do governo aumenta. O círculo vicioso afeta a credibilidade brasileira no mercado internacional, afastando investidores.
Por mais que o Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira, tenha alcançado há alguns dias o recorde de 100 mil pontos, ele ainda está longe das máximas históricas se os valores forem convertidos em dólar. Daí a tremenda oportunidade que se abre para os investidores estrangeiros — mas elas só existirão se o país fizer as lições de casa, como a aprovação da reforma da Previdência.
Por mais que algumas camadas da sociedade ainda tenham preconceito contra o que chamam de “mercado”, a alta da bolsa é importante para o país por diversas razões. Em primeiro lugar, ela remunera melhor os investidores das empresas. Com mais recursos disponíveis, as pessoas realizam sonhos — compram casa, adquirem carro, viajam mais. Essas ações, nem é preciso dizer, movimentam toda a economia. Na outra ponta, empresas capitalizadas com os recursos dos investidores contratam e investem mais, o que gera riqueza para o país.
Apesar da queda dos últimos dias, no longo prazo, a bolsa vive uma era positiva. Após ter recuado cerca de 50% entre 2008 e 2015, quando chegou aos 37 mil pontos, as ações fecharam os três anos seguintes (2016, 2017 e 2018) com valorização de quase 170%. No ano passado, o índice que reúne as ações das principais empresas listadas na B3 subiu 15,03%, mais do que a maioria dos outros investimentos.
Apostar ou não
A grande pergunta que os investidores estão se fazendo agora é se vale a pena continuar apostando no mercado de ações brasileiro. A sucessão de notícias negativas dos últimos dias — enroscos entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, risco de a reforma não ser aprovadora, cenário internacional instável, para citar apenas alguns exemplos —, os especialistas continuam apostando que o futuro é promissor.
Na opinião de Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos, o Ibovespa, que ontem resvalou na marca dos 93 mil pontos, depois de chegar a 100 mil pontos poucos dias atrás, poderá chegar aos 120 mil até o fim do ano, caso a reforma previdenciária seja aprovada. Se o projeto não vingar no Congresso, porém, o índice pode retornar ao patamar dos 75 mil pontos, o que seria uma notícia trágica para o país.
O cenário de incertezas explica o recuo das empresas que pretendiam abrir o capital em 2019. Estima-se que entre 20 e 30 companhias planejem ingressar na B3 no futuro próximo, mas esse número deverá ser bem menor se a reforma não avançar no Congresso.
Entre as empresas que poderão estrear na bolsa de São Paulo estão a Tivit, uma das maiores companhias brasileiras de serviços de tecnologia, o grupo segurador Austral e o banco Banrisul. Nenhuma delas, porém, confirma a abertura de capital, embora o mercado dê como certo o ingresso na B3 no futuro próximo.
Há fortes sinais do esfriamento do ânimo dos investidores. Um dos exemplos mais significativos é o fundo de private equity Carlyle, que pretende aguardar indicativos mais claros do governo a respeito da reforma da Previdência para oferecer ao mercado empresas como Ri Happy e Tok&Stok, que estão na lista de seus desinvestimentos.
Não é só. No fim de fevereiro, o banco mineiro BMG informou que desistiu de realizar a sua abertura de capital. Segundo analistas, o banco vinha esperando obter uma capitalização de mercado de R$ 2 bilhões, por meio de emissão primária e secundária no nível I de governança corporativa, mas não encontrou investidores em número suficiente para conseguir fechar o negócio.
Eles não desistiram de ir à bolsa
Enquanto algumas empresas preferem esperar para vender ações no mercado, outras continuam com planos de estrear na B3 no futuro próximo. A companhia de transporte e logística JSL registrou, em 25 de fevereiro, pedido na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para realizar sua Oferta Pública de Ações (IPO, na sigla em inglês) da subsidiária Vamos, que aluga máquinas e equipamentos.
Segundo expectativa do mercado, a operação pode levantar aproximadamente R$ 1,3 bilhão. Não se trata de um caso isolado.
Além da Vamos, a rede de drogarias Pague Menos (abaixo), que vem crescendo acima de dois dígitos, também deve ir à bolsa. A General Atlantic, gestora de private equity, que detém participação de 17% na companhia, fechou acordo com a família Queirós, controladora da Pague Menos, para exercer o direito de fazer o IPO. A ideia é que a abertura de capital arrecade pelo menos R$ 600 milhões.
Outra empresa emergente do setor farmacêutico que pretende abrir o capital é o laboratório Blau, que tentou fazer o IPO no começo de 2018, mas desistiu em razão da baixa precificação dos ativos.
Uber vai na contramão
A redução do número de empresas que vão abrir o capital em 2019 não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Na Europa e nos Estados Unidos, projeções também mostram queda expressiva de IPOs nos próximos meses. O curioso é que o mundo está prestes a assistir a uma das maiores aberturas de capital da história. Previsto para o mês que vem, o IPO da Uber poderá fazer com que a empresa seja avaliada em US$ 120 bilhões. Se isso de fato ocorrer, será maior inclusive que o IPO do Facebook, que, em 2012, amealhou US$ 16 bilhões. Também há forte expectativa para o lançamento de ações do Pinterest, rede social de compartilhamento de ideias. Estima-se que ele pode chegar a US$ 12 bilhões. A decepção ficou com o Airbnb, maior empresa de compartilhamento de imóveis do mundo. Antes programada para o primeiro semestre do ano, a abertura de capital deverá ficar apenas para 2020. Uma das explicações para o adiamento é a desaceleração da economia mundial. Leia mais em abinee - 28/03/2019
28 março 2019
Empresas adiam abertura de capital
quinta-feira, março 28, 2019
Investimentos, IPO, Oportunidades, Private Equity, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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