Imune às incertezas políticas, a atividade econômica ganha tração desde o fim do ano passado e mostra sinais promissores neste começo de 2018. Os indicadores já conhecidos levaram alguns economistas, como os da LCA Consultores, a revisar para cima ou colocar uma espécie de viés de alta nas suas projeções de crescimento para este ano. Na ponta mais otimista continua o Banco Fibra, que há alguns meses projeta expansão de 4,1%.
No Boletim Focus divulgado na segunda-feira pelo Banco Central (BC), a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2018 subiu de 2,7% para 2,8%. Isso ocorreu mesmo antes de ser conhecido o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que cresceu 1,41% entre novembro e dezembro, surpreendendo positivamente os analistas.
Esse movimento vem acontecendo apesar de uma leve piora da conjuntura política nas últimas semanas, com o enterro da reforma da Previdência e um cenário cada vez mais nebuloso para a disputa presidencial.
O sentimento mais positivo em relação ao potencial da atividade econômica neste ano foi intensificado após a divulgação de alguns indicadores de dezembro, como a produção industrial e o próprio IBC-Br, que se revelaram melhores do que o esperado. A indústria avançou 2,8% sobre novembro, na série com ajuste sazonal.
Anteontem, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informou ainda que, pelos seus cálculos, o investimento, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), registrou alta de 4,2% em dezembro. O dado indica que, ao fim de 2017, a FBCF rodava em ritmo mais forte, embora no acumulado do ano passado tenha recuado 2%. Ao mesmo tempo, o cenário para a inflação se mostra mais comportado que se previa, o que pode abrir espaço para um eventual corte adicional nos juros básicos, dos atuais 6,75% para 6,5% ao ano.
Por conta do desempenho mais expressivo visto em dezembro, os dados de janeiro podem se mostrar mais modestos. Os sinais dados pelos indicadores antecedentes já conhecidos são mistos. Dessazonalizados pela Tendências Consultoria, o fluxo pedagiado de veículos pesados (0,3%) e a produção de veículos (2,4%) tiveram queda em relação a dezembro. A confiança industrial ficou estável, mas subiram o fluxo pedagiado de veículos leves (0,1%), a atividade do comércio (0,1%), a confiança do consumidor (0,5%), a expedição de papel ondulado (0,7%) e as vendas de veículos (1,2%). Esses dados de janeiro não impedem o viés favorável para a economia.
"O debate está mudando", disse nesta semana o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita. Dentro da equipe econômica do banco, vem ganhando força a discussão sobre a possibilidade de o PIB crescer acima da estimativa atual de 3% neste ano. "Isso contrasta com o [cenário menos otimista] que a gente tinha há um tempo", afirmou.
Esse otimismo maior é explicado por uma retomada do crédito de toda a economia, "que joga impulso na atividade econômica", e pela queda generalizada da inadimplência. Outros fatores positivos recentes destacados pelo Itaú são o crescimento mais disseminado da produção industrial e o início de uma geração mais forte de empregos formais. O PIB mensal calculado pelo próprio Itaú Unibanco (PIBIU) teve alta de 0,5% em dezembro na comparação com o mês anterior. Para janeiro, a previsão é que o indicador cresça 0,2%.
A LCA Consultores, por sua vez, elevou a projeção de crescimento de 2018 de 2,5% para 2,8%, destacando que a melhora da atividade econômica parece se sobrepor às incertezas no cenário político. Para a consultoria, o resultado favorável de dezembro do IBC-Br "sugere que a economia brasileira encerrou o ano passado crescendo em ritmo um pouco mais firme do que vínhamos antecipando".
Esse resultado fez a LCA mudar também a previsão de crescimento para 2017, de 0,9% para 1%, o que elevou ligeiramente a herança estatística estimada para 2018, calculada em 0,4% - antes, era zero. Isso significa que, se o PIB terminar o ano no mesmo nível projetado pela LCA para o fim do ano passado, a economia terá expansão de 0,4% em 2018. Para o PIB do quarto trimestre de 2017, a ser divulgado em 1º de março pelo IBGE, a LCA acredita que houve um avanço de 0,2% sobre o trimestre anterior, em termos dessazonalizados.
Fatores como os juros no menor patamar histórico, o início de uma redução dos spreads bancários, a maior disposição dos bancos em conceder empréstimos, a melhora na confiança dos empresários e o cenário externo favorável jogam a favor da atividade mais forte, diz Francisco Pessoa Faria, economista da consultoria. As incertezas políticas continuam como o maior risco para a atividade. "Ainda existe uma indefinição enorme sobre as candidaturas presidenciais", diz. Mesmo assim, as dúvidas sobre a eleição não contaminam a economia por enquanto, afirma ele.
Pessoa também destaca as altas da produção de veículos (24,6%) e do fluxo pedagiado (2,4%) em janeiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, resultado que considera um retrato mais fiel da atividade do que as variações mensais, mesmo dessazonalizadas.
Para Thiago Xavier, economista da Tendências, a alta de 1,41% do IBC-Br em dezembro já confirmava esse ritmo maior de crescimento. Portanto, a possível queda de índices em janeiro "tem que ser visto à luz de um dezembro muito bom". "É uma certa acomodação, que não coloca em risco as perspectivas positivas para o início de 2018", diz.
Flávio Serrano, economista-sênior do Haitong, tem opinião semelhante. "Dado que o comércio não foi muito bom em dezembro, a tendência é de um resultado um pouco melhor em janeiro. No caso da indústria, deve acontecer o contrário."
Nos cálculos de Marco Caruso, economista do Banco Pine, o IBC-Br do quarto trimestre de 2017 deixa uma herança estatística de 1% para os três primeiros meses deste ano. Ele também afirma que a tendência é que em janeiro a atividade "devolva um pouco desse dezembro forte". "Mas ainda assim a história do primeiro trimestre é uma história boa." Jornalista: Estevão Taiar, Sergio Lamucci, Thais Carrança e Ana Conceição Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 22/02/2018
22 fevereiro 2018
Economia resiste a incertezas e ganha tração
quinta-feira, fevereiro 22, 2018
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Ruy Moura
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Certamente, são bons sinais... ainda que os os nossos gestores continuem deixando muito a desejar...Obrigado pela informação compartilhada!
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