19 fevereiro 2018

Misto de Amazon com Daslu, Farfetch quer IPO de US$ 5 bi

Um dos poucos sites de ecommerce com um negócio aparentemente à prova de Amazon, a Farfetch – que só vende marcas de luxo – quer fazer seu IPO na Bolsa de Nova York este ano.

Segundo a CNBC, o valor de mercado ambicionado pela companhia – US$ 5 bilhões – é salgado quando comparado ao valuation que a companhia obteve em sua mais recente rodada, em 2016, quando foi avaliada em US$ 1,5 bilhão.

Fundada em 2007 por José Neves, um português que tinha uma marca de sapatos finos, a Farfetch é um misto de Amazon com Daslu – um marketplace para fabricantes e boutiques multimarcas de luxo – e vem crescendo a taxas assombrosas.

Em 2016, o valor das mercadorias vendidas na Farfetch subiu 80% para US$ 760 milhões, elevando a receita da empresa – que fica com uma comissão – em 74%, para US$ 210 milhões.

O crescimento atraiu o interesse de grandes nomes do varejo. No ano passado, a JD.com, gigante do ecommerce chinês, investiu US$ 400 milhões numa parceria estratégica para impulsionar a Farfetch no país, o terceiro maior mercado de luxo do mundo e o que cresce mais rapidamente.

Com um plano de expansão agressivo, no entanto, a Farfetch ainda operava no vermelho, com um prejuízo de US$ 47,3 milhões em 2016.

Ainda é cedo para dizer se o mercado vai topar pagar o valor almejado pelos acionistas, mas a preparação para o IPO vem num momento em que o ecommerce de luxo parece estar entrando definitivamente na moda, atraindo tanto investidores financeiros quanto estratégicos.

Em setembro, o fundo de private equity britânico Apax Partners comprou a Matchesfashion.com, que faturou US$ 285 milhões em 2016, por US$ 1 bilhão – num negócio que também atraiu o interesse da Bain Capital e da KKR.

No mês passado, a Richemont, dona de marcas como Cartier e Montblanc, lançou uma oferta para aumentar sua participação, até então minoritária, e fechar o capital da Yoox Net-A- Porter, a líder mundial do ‘luxury e-tail’ – como o setor vem sendo chamado. A Yoox faturou US$ 2,2 bilhões em 2016, e a oferta avaliou a companhia, listada na Bolsa de Milão, em quase US$ 5 bilhões.

O mercado de luxo embarcou tarde nas plataformas de ecommerce – graças, de um lado, à resistência dos fabricantes, e de outro à falta de plataformas que protegessem o apelo de marcas que são feitas para poucos. Boa parte dos fabricantes de luxo se recusam a vender na Amazon, que não garante o caráter exclusivo e nem a autenticidade dos produtos.

Nos últimos anos, no entanto, a oferta de sites nichados e dispostos a oferecer serviços exclusivos cresceu, assim como a demanda dos consumidores. Um estudo feito pela Bain & Co mostra que as vendas online do segmento aumentaram 24% ano passado, enquanto o mercado total de luxo avançou 5%.

Os modelos de negócio variam. A Yoox Net-A-Porter atua como varejista pura – e não marketplace. Já Neves, da Farfetch, optou por um modelo que demanda menos capital de giro. Ao todo, são mais de 700 marcas e boutiques atendidas em todo o mundo, com entrega para 190 países.

A Farfetch já fez um esforço para se tornar omnichannel: em 2015, comprou a Browns, uma icônica rede de lojas em Londres que está servindo como laboratório para o que deve ser a ‘loja do futuro’, com espelhos touchscreen e cabideiros inteligentes.

O serviço é um ponto forte: além de uma curadoria cuidadosa dos produtos – apresentados por marca, itens, boutiques ou tendências –, a Farfetch entrega em até dois dias nos Estados Unidos e na Europa.

Num segmento em que as itens normalmente são vendidos a pelo menos quatro dígitos, uma pequena parcela de consumidores fidelizados – e endinheirados – responde por uma boa parte das receitas. A Farfetch não abre essa informação, mas na concorrente Yoox, 2% da base de clientes ativos responde por 40% do faturamento. São os chamados ‘EIPs’ -- ‘extremely important people’.

O IPO da Farfetch será uma porta de saída para investidores que apostaram na empresa desde o início, como o Advent Ventures e a eVenture Capital. Outros investidores incluem o Temasek e a Condé Nast, além da JD.com.

Em recente visita ao Brasil – onde sua empresa vende há seis anos –, Neves conversou com a GQ e falou sobre as oportunidades no País:

“O que outros veem como dificuldade eu vejo como oportunidade. É mais difícil importar no Brasil do que na China ou na Rússia. As tarifas alfandegárias são as mais altas do mundo, e estabelecer negócios é dificílimo. Mas isso significa que não teremos um player para fazer frente à Farfetch por aqui nos próximos anos. Todas as barreiras que outros terão de superar nós já superamos em mais de seis anos de atuação no país.” Leia mais em braziljournal 19/02/2018

19 fevereiro 2018



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