13 setembro 2016

Fôlego para comprar, saúde para vender

Presente nos segmentos mais importantes do mercado, a Hypermarcas consumou em 2015 a estratégia de se consolidar como uma grande empresa de saúde. Os esforços incluíram a venda das unidades de cosméticos e de preservativos — a divisão de fraldas descartáveis é a próxima a ser vendida — e se refletiram no balanço financeiro da companhia, que faz sua estreia como campeã do setor Farmacêutica e Cosméticos de Valor 1000.

Com receita líquida de RS 2,96 biIhões em 2015, a empresa se destacou em relação a seus pares em crescimento sustentável, medido pela variação da receita sobre a variação do patrimônio líquido ajustado, em margem Ebitda (de 35,9% frente à média setorial de 17,2%) e em margem da atividade-33,1%, comparável à média de 14%. No ano, o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado das chamadas operações continuadas, que englobam a antiga divisão farma e adoçantes, subiu 7,7%, a R$ 982,3 milhões e, em 2016, há expectativa de nova rodada de crescimento, para cerca de RS 1,1 bilhão.

A chave dos fortes resultados não está apenas na venda de ativos. O desempenho da Hypermarcas no mercado farmacêutico, onde já alcançou a vice-liderança em vendas em unidades e é maior em receita líquida, deu relevante contribuição para a evolução financeira. Dona de produtos que estão entre os mais vendidos do país, como Neosoro (descongestionante nasal) e Torsilax (relaxante muscular), tem em sua carteira marcas tão populares quanto Atroveran, Gelol, Benegrip, Epocler e Doril e esse portfólio continuará a crescer, de acordo com o presidente da companhia, Cláudio Bergamo. "Um dos três pilares de crescimento é a inovação. Ainda há muito potencial a ser explorado no mercado brasileiro e existem oportunidades em produtos que não demandam investimentos em pesquisa e desenvolvimento tão pesados."

Em outras palavras, a Hypermarcas não pretende lançar-se na pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas, a chamada inovação radical. Essa tarefa cabe às "big pharmas", que têm fôlego para assumir os elevados riscos e investimentos embutidos na busca por medicamentos inovadores. Na seara explorada pela companhia brasileira, que inclui as extensões de linha e nichos ainda não explorados no país, Bergamo cita como exemplo o Addera D3, vitamina D lançada em 2014, que segue ganhando participação de mercado.

Em linhas gerais, a história da Hypermarcas, fundada em 2001 pelo empresário goia no João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, começa com aquisições — foram mais de duas dezenas, nas áreas de limpeza, alimentos, higiene pessoal e de medicamentos—e, agora, se desenrola com desinvestimentos e concentração na área farmacêutica. Em novembro de 2015, a companhia anunciou a venda do negócio de cosméticos para a multinacional Coty, uma das maiores do mundo nesse mercado, por RS 3,8 bilhões. Menos de três meses depois, in formava ao mercado um acordo para vender a divisão de preservativos e lubrificantes para a Reckitt Benckiser por RS 675 milhões.

Há risco, porém, de a concretização da venda do negócio de preservativos e lubrificantes íntimos Jontex, Olla e Lovetex esbarrar em alguma exigência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Técnicos do órgão antitruste informaram no início de agosto que haviam identificado "graves preocupações concorrenciais" na área de lubrificantes, que é menos representativa que a de preservativos, e recomendaram a impugnação do negócio.

Com o recebimento de recursos pela venda dos ativos, a Hypermarcas eliminou sua dívida líquida e assumiu posição de caixa líquido positivo. Essa robustez do balanço permitiu à companhia distribuir dividendos a seus acionistas. O plano, segundo Bergamo, é estabelecer um programa de pagamentos regulares de proventos. Usar o dinheiro que entrou no caixa da empresa em novas aquisições não está no radar.

Do lado operacional, um dos grandes desafios é manter a linha de custos sob controle e enxuta, iniciativa que tem dado o tom no dia a dia das operações. "Para estar em tantos mercados, é preciso buscar custo baixo." Segundo ele, o mercado público de medicamentos é um dos poucos que não interessam à empresa.

Concentrar toda a atividade fabril em um único complexo, em Anápolis (GO), foi um dos reflexos dessa busca por custos mais baixos. Por outro lado, a Hypermarcas percebeu que haveria ganhos em transferir para São Paulo sua área de pesquisa e desenvolvimento, por estar mais perto do mercado consumidor e da academia. E assim nasceu o projeto do novo centro de P&D em Alphaville, na Grande São Paulo.

A empresa também reconhece a importância cia força de vendas e do marketing e propaganda, especialmente no segmento de medicamentos isentos de prescrição (OTC), e segue admitindo novos profissionais nessas áreas, enquanto boa parte das empresas brasileiras freou contratações ou demitiu diante do agravamento da crise econômica. Ainda em linha com essa percepção, a Hypermarcas é dona de sua própria agência de publicidade (uma "house agency"), que é também uma das maiores do país.

O ganho de musculatura na área farmacêutica tanto no mercado em geral quanto no de genéricos—onde atua com a marca Neo Química—, rende reconhecimentos no próprio setor.

Para a presidente da PróGenéricos, Telma Salles, a consolidação da empresa como importante player nesse mercado resultou da combinação de estratégia assertiva, planejamento e uma boa dose de ousadia em um mercado competitivo.

Para ajustar sua estrutura administrativa ao novo foco do negócio, a Hypermarcas propôs no início deste ano uma reorganização da diretoria, com redução das cadeiras de dez para seis. Um dos postos extintos foi justamente o de diretor-presidente da divisão de consumo, que deixou de fazer sentido com os desinvestimentos em curso.

Na mesma época, a empresa teve de enfrentar uma situação delicada, que colocou em lados opostos o fundador da companhia e o então diretor de relações institucionais e ex-presidente, Nelson José de Mello. Mello pediu desligamento do cargo após admitir que autorizou o pagamento ilegal de R$ 30 milhões a lobistas. A Hypermarcas identificou os pagamentos sem as devidas prestações de serviço, feitos à revelia da companhia. Mello já ressarciu a empresa, o que resultou em lançamento de receita extraordinária de R$ 26,7 milhões no segundo trimestre.  Fonte: Anuário Valor 1000 Autor: Stella Fontes Leia mais em tudofarma 13/09/2016

13 setembro 2016



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