15 setembro 2016

Bayer será líder em insumos no Brasil

A aquisição da Monsanto pela Bayer, anunciada ontem após quatro meses de intensas negociações, certamente vai reverberar com intensidade no Brasil. O país é o maior mercado de defensivos agrícolas do mundo, e a transação alçará a companhia alemã à liderança local nesse segmento, desbancando a suíça Syngenta. Em sementes, o Brasil é o terceiro maior em vendas e tem o maior potencial de crescimento, o que deixa a Bayer em posição bastante confortável tendo nas mãos o robusto portfólio de transgênicos da Monsanto.

Cálculos da FAO, agência das Nações Unidas para alimentação e agricultura, indicam que o mundo terá o desafio de alimentar uma população de 9 bilhões em 2050, e o Brasil tende a ser responsável por 40% do avanço na produção global de alimentos até lá. O fato de hoje mais de 93% de toda a área com soja, milho e algodão no país ser semeada com sementes geneticamente modificadas (ou 49 milhões de hectares, segundo a consultoria Céleres), dá a medida da importância que as sementes transgênicas terão no avanço esperado da oferta.


Em entrevista ao Valor há uma semana em Leverkusen, na Alemanha, Liam Condon, presidente da Bayer Crop Science (divisão agrícola da Bayer) justificou o interesse pela Monsanto em função do menor retorno obtido com pesquisas de sementes e agroquímicos nos últimos anos e da escalada dos investimentos necessários para acompanhar os avanços tecnológicos na agricultura.

Nesse sentido, apenas uma oferta forte dos dois insumos conseguirá garantir a sobrevivência dos "players" que concorrem nesse novo mercado, conforme o executivo. O Brasil é o principal mercado da Bayer na América Latina, e a expectativa da empresa é que essa posição seja reforçada nos próximos anos - em 2015, o braço agrícola já representou 73% do faturamento total da múlti no país, ou R$ 7,5 bilhões.

Segundo o acordo, a Bayer pagará US$ 128 por ação da Monsanto, em dinheiro, em um total de US$ 66 bilhões. A oferta representa um prêmio de 44% sobre o valor do papel da Monsanto em 9 de maio, quando a Bayer fez sua primeira proposta. A múlti alemã também se comprometeu a pagar US$ 2 bilhões à Monsanto caso a negociação não seja aprovada pelos órgãos reguladores.

Apenas em agroquímicos, a Bayer respondeu por 17% das vendas do segmento no Brasil no ano passado, número que, somado aos 5% da americana, chegaria a 22% (ou pouco mais de US$ 2 bilhões, de um total de US$ 9,61 bilhões), ante os 18% da Syngenta, de acordo com a consultoria Allier Brasil. Capitaneado pela Monsanto, o mercado de sementes no Brasil é avaliado em US$ 4 bilhões anuais (9% do mercado global), menor apenas que o dos EUA e da China - mas a caminho de superar os asiáticos, nas contas da consultoria Kleffmann. Monsanto e Bayer não divulgam suas participações na área.

A Monsanto é pioneira no uso de tecnologias transgênicas aplicadas à agricultura, e conseguiu a aprovação de sua primeira variedade geneticamente modificada no Brasil em 1998: a famosa soja "Roundup Ready" (RR), tolerante ao herbicida glifosato. A empresa faturou R$ 4,89 bilhões no país durante o ano fiscal de 2015 (setembro de 2014 a agosto de 2015).

O domínio dos campos transgênicos do Brasil pela Monsanto ganhou contornos ainda mais firmes em 2014, com o lançamento da Intacta RR2 Pro, uma nova soja geneticamente modificada desenvolvida exclusivamente para o país, que combina tolerância a herbicida e resistência a insetos.

Com um conjunto mais poderoso de agroquímicos do que a rival, mas mais fraca em sementes, a Bayer se lançou nos últimos cinco anos à compra de várias empresas desse segmento, especialmente na América Latina. Adquiriu, no Brasil, o banco de germoplasma da Melhoramento Agropastoril, as empresas de soja Wehrtec e SoyTech, a tecnologia de melhoramento de plantas da CVR e o negócio de sementes da Cooperativa Central Gaúcha (CCGL). Na Argentina, comprou a FN Semillas e a Biagro; no Paraguai, a Granar.

Essa base genética foi fundamental para apoiar uma nova soja transgênica que a Bayer está lançando nesta safra 2016/17 no Brasil. A tecnologia Liberty Link (LL) torna a planta tolerante a um herbicida à base de glufosinato de amônio e é, curiosamente, uma alternativa à tecnologia RR, da Monsanto, que tem sofrido nos últimos anos com o crescimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato. A expectativa da Bayer é de que a Liberty Link abocanhe 20% da área brasileira de soja nos próximos cinco anos.

O negócio entre Bayer e Monsanto ainda depende do sinal verde de autoridades antitruste, mas aprofunda a tendência de consolidação do setor. Entre outros movimentos recentes estão a fusão entre Dow e DuPont, que veio à tona no fim de 2015, e a aquisição da Syngenta pela ChemChina, anunciada em fevereiro deste ano. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 15/09/2016

15 setembro 2016



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