18 maio 2013

A escalada internacional da Gol

Companhia aérea brasileira negocia venda de participação minoritária com a alemã Lufthansa e com a francesa Air France/KLM e estuda a criação de nova empresa na República Dominicana

 O executivo Paulo Kakinoff, presidente da companhia aérea Gol, teve uma das piores experiências de sua vida no começo deste ano. Ele estava a bordo de um voo que vinha da República Dominicana para o Brasil. Kakinoff queria conferir de perto o serviço do trajeto que estreara em dezembro de 2012 – desde que assumiu a empresa da família do empresário Constantino Oliveira Jr., em julho do ano passado, ele voa pelo menos uma vez por semana em linhas regulares da companhia para conversar com a tripulação e com os passageiros. “Tudo que tinha que dar errado, deu nessa viagem”, afirma Kakinoff. A lista de problemas foi extensa. O voo saiu atrasado. O avião pegou ainda um vento de proa, que o obrigou a uma parada técnica em Brasília.

 Os sistemas de entretenimento a bordo não funcionaram. Os passageiros, por uma falha no software, não tiveram também seus lugares marcados. O catering a bordo, por fim, era de quantidade insuficiente. Uma fila extensa de clientes foi reclamar diretamente com Kakinoff, que se identificou no final da viagem. “Posso dizer também que foi a melhor que coisa que me aconteceu”, diz Kakinoff. O executivo, na primeira oportunidade, reuniu todos os seus diretores e começou um amplo trabalho para melhorar os serviços dos voos da Gol. A julgar pelas novas pretensões da Gol, o atrapalhado voo da República Dominicana será de grande valia. É que a vice-líder da aviação comercial brasileira prepara uma escalada internacional. Várias frentes estão sendo negociadas neste momento.

 Uma delas é a associação com uma companhia aérea europeia. As conversas começaram em 2011, mas evoluíram mesmo a partir deste ano. Duas empresas europeias aparecem no radar das negociações, a alemã Lufthansa e a francesa Air France/KLM. Procuradas, ambas não quiseram se pronunciar. A Gol também não confirma a informação. A ideia, segundo DINHEIRO apurou, é acertar um acordo nos moldes do que foi feito com a americana Delta, que comprou uma fatia de 2,9% do capital da Gol. Com isso, a Delta ganhou exclusividade para operar em codeshare com a companhia aérea brasileira. Em razão da proximidade com a Copa do Mundo, estima-se que um acordo seja fechado no segundo semestre deste ano. “A tendência é acertar algo o mais rápido possível”, afirma uma fonte. 

Simultaneamente, Kakinoff estuda a criação de uma companhia aérea na República Dominicana, que pode se transformar em um hub internacional da Gol. O país da América Central já funciona como uma base operacional para os voos até Miami e Orlando, nos Estados Unidos. No segundo semestre deste ano, a Gol ampliará ainda os voos internacionais. Acrescentará mais um para a América do Norte e outro para a América Central e o Caribe, partindo de São Domingo, a capital da República Dominicana. A ambição internacional da Gol pode ser entendida por duas razões. A primeira delas é aumentar a receita em dólar. Em cinco anos, o plano é dobrar essa fatia. Hoje, ela representa 8% do faturamento anual.

 Dessa forma, Kakinoff minimizará os efeitos cambiais em seu resultado, pois tem custos de leasing de aeronaves e de combustível na moeda americana. O segundo motivo é que Kakinoff acredita que a fase de ajustes, que levou a Gol a uma dieta rigorosa, esteja encerrada. Desde que assumiu, Kakinoff cortou custos nos mínimos detalhes e adotou diversas medidas para economizar combustível, responsável por 46% das despesas da Gol. Os resultados começaram a aparecer. No primeiro trimestre deste ano, a companhia registrou um lucro operacional de R$ 101 milhões, o primeiro em dois anos. As despesas tiveram queda de 8,2%. O prejuízo líquido de R$ 75,3 milhões foi, no entanto, 81,8% maior. De qualquer forma, o consenso no mercado é que o pior já passou e que a Gol pode estar pronta para alçar novos voos. Por Ralphe MANZONI Jr.
Fonte: istoedinheiro 17/05/2013

18 maio 2013



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