25 julho 2020

A “máfia” da 99: como o primeiro unicórnio brasileiro se tornou um celeiro de startups

Com uma cultura que incentivava os funcionários a empreender, a 99 forjou uma geração de “empreendedores” que agora estão criando suas próprias startups e captando milhões de reais. São companhias como Kovi, Swap, Alice e muitas outras. Saiba como essa “máfia” surgiu

Douglas Storf, Ury Rappaport, Adhemar Milani Neto, João Costa, Pedro Somma, André Florence e Matheus Moraes. O que esses sete empreendedores têm em comum? Todos eles, em algum momento de suas carreiras, foram funcionários da 99, a startup brasileira vendida para a chinesa Didi Chuxing, que se tornou o primeiro unicórnio brasileiro em janeiro de 2018.

Agora, esse grupo de pessoas – e muitos outros que passaram por lá – está criando suas próprias startups e levantando milhões de reais com fundos de venture capital.

Douglas Storf e Ury Rappaport são os fundadores da Swap, uma startup que cria carteiras digitais e fintechs de forma rápida. Adhemar Milani Neto e João Costa estão por trás da Kovi, que aluga carros para motoristas de Uber e 99. Pedro Somma se envolveu com a questão de mobilidade e toca o aplicativo Quicko, que integra diversos meios de transporte. E, por fim, André Florence e Matheus Moraes são os criadores da Alice, uma healthtech que pretende chacoalhar o mercado de saúde.

Eles fazem parte de uma “máfia” que nasceu nos corredores da 99, a startup fundada por Ariel Lambrecht, Renato Freitas e Paulo Veras. Não há nada de pejorativo no termo “máfia”. Ao contrário. A expressão foi popularizada no Vale do Silício e a mais conhecida delas é a do PayPal, uma referência à empresa de pagamentos que gerou uma série de empreendedores e empresas. Os seus membros mais proeminentes são Reid Hoffman, que fundou o LinkedIn; Peter Thiel, que criou a Palantir; e Elon Musk, o multibilionário fundador da Tesla e da SpaceX.

Nos Estados Unidos, o Google também inspirou uma série de pessoas a criar suas próprias startups. Mas, no Brasil e na América Latina, esse movimento não era muito comum. Os empreendedores que fundaram as companhias que fizeram sucesso na primeira fase de internet na região seguiram outro caminho: o do venture capital.

Nicolas Szekasy e Hernan Kazah, dois dos fundadores do Mercado Livre, por exemplo, criaram o fundo Kaszek. Os fundadores do comparador de preços Buscapé se dividiram em gestoras de capital de risco diferentes. Rodrigo Borges está na Domo Invest e Romero Rodrigues, na Redpoint eventures. De uma forma diferente, eles ajudaram no desenvolvimento de centenas de startups como investidores.

Até agora, no entanto, não havia surgido uma “máfia do PayPal” brasileira. Lambrecht foi quem chamou a atenção para esse fato. Em um post no LinkedIn, ele listou mais de uma dezena de startups que nasceram a partir de pessoas que trabalharam na 99, bem como na Yellow e na Grow – suas duas últimas startups, que foram incorporadas pelo grupo Mountain Nazca, o mesmo que comprou o Peixe Urbano, por um valor simbólico.

Na lista, além das já citadas, estão nomes de startups como Boomerang, Orelo, Spry (comprada pela Loft), Agência Estufa, Ellas, Pingo, 01, Toni, Espaço Doctor, Infomap, Profissão RelGov, Explore Creative Learning, Parrot Software, WeCook Data Kitchens, Waldi, iHunt, Torus e Reflow.

Todas elas têm, entre seus fundadores, ex-funcionários da 99, da Yellow ou da Grow. Alguns deles trabalharam em pelo menos duas das empresas. O que fez, então, a 99 se tornar um celeiro de novas startups? Com a resposta o próprio Ariel Lambrecht.

“Acho que a 99 mostrou que empreender tem muitos desafios, mas se você juntar as pessoas certas, super alinhadas na cultura e no propósito, não tem gigante Golias que te derrube” disse Lambrecht ao NeoFeed.
“Passamos por muitos perrengues e fomos desbravando o mercado, sempre com uma postura de ir aprendendo juntos e conquistando juntos. Acho que isso fez com que muitos que trabalharam com a gente fossem picados pelo mosquito do empreendedorismo.”
 
Paulo Veras (à esq), Renato Freitas (centro) e Ariel Lambrecht comemoram a venda para a Didi
Os empreendedores com quem o NeoFeed conversou concordam. “A 99 sempre teve a cultura de fazer acontecer”, afirma Ury Rappaport, da Swap, que começou a trabalhar na 99 na área de desenvolvimento de negócios em 2014. “Éramos constantemente desafiados a pensar e a viabilizar coisas com a nossa criatividade. E isso permeou todas as áreas.”

Rappaport lembra que certa ocasião ele precisava fazer uma pesquisa de mercado e foi atrás das principais empresas da área. O projeto custava centenas de milhares de reais. “Eles me falaram: seja criativo.” Foi o que ele fez. Desenvolveu o próprio formulário, contratou oito empresas de promotores e motoboys e fez a pesquisa dessa forma. “Ela custou apenas R$ 20 mil.”

Ao mesmo tempo, os funcionários tinham de lidar com a expansão acelerada da 99. Não se trata de uma má notícia, é claro. Mas tem os seus desafios. Adhemar Milani Neto, da Kovi, relembra que quando entrou na 99, em 2017, o Pop, serviço que concorria com a Uber, praticamente não existia.

“Em pouco tempo, saímos de 100 para 1.000 pessoas”, afirma Milani Neto. “São poucas empresas que passaram por esse hipercrescimento rápido e violento. É um aprendizado primordial para o empreendedor.”Leia mais em  NeoFeed 24/07/2020

25 julho 2020



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