15 novembro 2019

A febre do guedismo na Faria Lima

Darwin Laporta não trabalha em fintech, corretora, gestora de recursos, banco tradicional nem banco de investimento, mas há 12 anos vai quase diariamente à Avenida Brigadeiro Faria Lima, o centro financeiro de São Paulo, na Zona Oeste da cidade.

 O roteiro geralmente inclui instituições ícones no mercado brasileiro, como Itaú BBA, J.P. Morgan e BTG. Laporta está no ramo da moda e parte de seus cerca de 2 mil clientes trabalha na região. Uma de suas especialidades é bordar as iniciais dos clientes no lado esquerdo do peito, o "monograma”, hábito superado em Wall Street nos idos da Fogueira das Vaidades dos anos 1980, mas que se tornou marca registrada de quem trabalha na Faria Lima. "Até mesmo o pessoal da XP, que costuma ser mais novo e vestir um colete de náilon, usa camisa social com o monograma”, entregou o camiseiro. Atento ao potencial de crescimento de seu mercado, Laporta tem percebido um grande aumento no número de pessoas em suas andanças diárias por bancos, gestoras e corretoras. "Está todo mundo contratando”, disse.

Enquanto o número de desempregados no país continua na casa dos 12 milhões e a economia patina, o bom desempenho do mercado financeiro transforma o setor quase num oásis de prosperidade.

Mais de R$ 75 bilhões foram captados por empresas que fizeram ofertas de ações desde janeiro deste ano. Trata-se do maior valor desde 2010, ano da megacapitalização da Petrobras, que movimentou mais de R$ 120 bilhões para o pré-sal.

Nos primeiros dez meses de 2019, foram criados mais de 1.300 novos fundos, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Eles receberam mais de R$ 228 bilhões em investimentos, um aumento de 174,4% em relação a 2018 — ambos os números representam recorde.

Esse dinheiro, que entrou no mercado, sobretudo, transferido de aplicações que antes rendiam atreladas à Selic (como é o caso dos CDBs) e à poupança, ajuda a explicar por que os equívocos e as derrapadas do governo Bolsonaro não amainaram o entusiasmo e o otimismo de investidores brasileiros.

Devido à alta na demanda, o valor do aluguel de lajes comerciais na região da Faria Lima subiu em média 10% nos últimos 12 meses. Foto: Sergio Israel / Pulsar Devido à alta na demanda, o valor do aluguel de lajes comerciais na região da Faria Lima subiu em média 10% nos últimos 12 meses. Foto: Sergio Israel / Pulsar

As palestras do ministro Paulo Guedes, em São Paulo, costumam terminar com a plateia de pé em aplausos efusivos, mesmo depois de discursos que, não raro, duram mais de uma hora. A devoção ao ministro se reflete em declarações públicas de apoio dadas por agentes do mercado.

Esse foi o caso de Guilherme Benchimol, fundador e presidente da XP Investimentos, que deverá abrir o capital na Bolsa americana em dezembro, com a expectativa de captar US$ 50 bilhões.

 "O que aconteceria com o Brasil se 80% das notícias divulgadas fossem positivas e apenas 20% negativas ( hoje é o contrário )?

Se queremos criar um país próspero, que volte a crescer e acima de tudo nos orgulhe, não será exaltando as notícias negativas que chegaremos a algum lugar”, escreveu, em sua conta no Instagram, em que acumula mais de 230 mil seguidores.

 "Vamos falar do Brasil que dá certo. O Brasil está melhorando, e temos bons ventos pela frente”, concluiu, numa postagem em que exibia quatro emojis da bandeira nacional.

Dias antes, a economista-chefe da própria XP, Zeina Latif, havia divulgado um relatório menos alvissareiro. Nele, afirmava que seria "precipitado” dizer que a queda do risco país a patamares mais baixos decorria da qualidade da política econômica, já que os principais fatores que teriam motivado a queda seriam externos.

A análise de Latif, uma das economistas mais renomadas do país, não impediu que o fundador da empresa fosse às redes entoar coro mais otimista. Em elogio a Guedes, que acabara de ganhar o prêmio de Melhor Ministro da Economia, pela revista inglesa Global Markets , Benchimol citou alguns feitos econômicos de sua gestão, entre eles a queda do risco país. Procurada, a XP não quis comentar. ... Ana Paula Ribeiro e Leo Branco  Leia mais em epocanegocios 15/11/2019



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