25 outubro 2019

Fusões e aquisições consolidam setor de educação

Os números falam por si. No primeiro semestre deste ano, pelos cálculos da consultoria KPMG, o mercado de educação no Brasil assistiu a 15 grandes transações de fusões e aquisições. No mesmo período do ano passado, foram 13. O crescimento registrado da primeira metade do ano era um prenúncio de que a indústria de ensino privado estava retomando o embalo. E foi o que ocorreu.

Nesta semana, duas grandes movimentações agitaram o mercado: a aquisição da americana Adtalem pela brasileira Yduqs (ex-Estácio), por R$ 1,9 bilhão — o maior negócio já registrado pela companhia brasileira —, e a compra de seis escolas, em três dias, pela Positivo Educacional, com sede em Curitiba. Somados, os contratos assinados nos últimos dias superaram R$ 2,1 bilhões em investimentos, comprovando que as consolidações no setor de educação estão recuperando o fôlego. “Temos um planejamento de R$ 200 milhões para investir na aquisição de escolas de alto padrão nos próximos 12 meses”, afirmou o presidente da Positivo Educacional, Lucas Guimarães.

A divulgação de dois grandes negócios na mesma semana não representa uma guinada, mas se apresenta como o início de uma retomada, segundo especialistas. No acumulado do ano passado, segundo a KPMG, houve 29 fusões e aquisições no segmento, resultado praticamente estável em comparação às 30 registradas um ano antes, quando a retomada teve início. Em 2016, foram apenas 19, uma queda de quase 30%, na comparação com 2016. Para 2019, as projeções de especialistas apontam para um resultado de 34 grandes negócios, alimentado por ativos baratos em dólar e busca por sinergias.

Para a corretora Guide Investimentos, a compra da Adtalem está em linha com o plano de expansão da companhia, e ainda marca a sua entrada no segmento de cursos preparatórios. “Vale notar que há sinergias entre os cursos preparatórios da Adtalem com as graduações de medicina e direito da Estácio, que demandam esse tipo de preparação no último ano”, informou a corretora.

O BTG Pactual também avaliou como positiva a transação. “Os ativos devem ajudar na diversificação da companhia com maior exposição no Nordeste e no segmento de educação continuada”, comentou o analista Samuel Alves. A Adtalem é o décimo maior grupo de educação superior no Brasil, tendo aproximadamente 102 mil estudantes cadastrados, 20 câmpus e mais de 180 centros de aprendizado a distância.

Com essa aquisição, a Yduqs recupera a segunda colocação no ranking de maiores instituições privadas no segmento de graduação do país, à frente da Universidade Paulista (Unip). Fica atrás somente da Kroton (atual Cogna), que segue na liderança, de acordo com dados da consultoria Hoper Educação.

Para se ter ideia do tamanho do negócio, as empresas somam 678 mil alunos e geram receita de R$ 4,48 bilhões por ano. A operação não precisará ser aprovada por assembleia de acionistas, mas ainda depende da anuência do Conselho Administrativo da Defesa da Concorrência (Cade), segundo a Yduqs. O pagamento será feito à vista, na data de fechamento da transação, com recursos próprios e financiamento.

Fortalecimento

Apesar de ter sido a maior transação da história da Yduqs, a empresa vem apresentando crescimento considerável nos últimos anos. O objetivo, além de fortalecer a presença no Norte e Nordeste, é crescer também no interior de São Paulo. No mês passado, o grupo havia adquirido a UniToledo, de Araçatuba, por R$ 102,5 milhões.

“Em meados do ano, entendemos que, para crescer, precisamos trazer gente com experiência de qualidade no setor, de referência. Não há outra marca tão conceituada em administração quanto o Ibmec. E fomos procurar a Adtalem. A negociação foi adiante e vai originar uma unidade de negócios premium sob o chapéu da Yduqs”, disse o presidente da companhia, Eduardo Parente, ao jornal O Globo.

Com metas ousadas, a empresa quer avançar na oferta de cursos de ensino a distância e também ampliar os cursos de medicina que têm maior tíquete médio. Esse mercado se tornou muito lucrativo, uma vez que as faculdades privadas cresceram muito nos últimos anos, quando obtiveram recursos do governo.

Para Paulo Presse, especialista da Hoper, a operação vai além do crescimento em alunos, segmentos e regiões do país. “Ao adquirir marcas de referência, a Yduqs atua na manutenção de sua própria marca, ganhando atrativos para o negócio como um todo. Está comprando duas grandes pontas de crescimento, no ensino a distância, que é o segmento de maior crescimento em matrículas, e no premium, o de maior tíquete médio.”

No mercado de educação brasileiro, a líder é a Kroton, que, no início de outubro, se tornou uma holding, chamada Cogna Educação. O valor da empresa está em R$ 18,2 bilhões. O modelo de crescimento adotado nos últimos anos foi a compra de faculdades. No entanto, ao tentar adquirir a Estácio, em 2017, esbarrou no veto do Cade.

A mudança para Cogna está em sintonia com a nova estratégia do grupo, que passa a operar com quatro empresas distintas. A Kroton tem como principal mercado as faculdades, como é o caso da Anhanguera. A Saber entrou para disputar licitações no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do Ministério da Educação, e atuar nos serviços de educação para o ensino básico. Por sua vez, a futura Vasta focará na prestação de serviços de gestão para escolas e produção de material didático para alunos, e a Platos, na prestação de serviços de gestão para o ensino superior.

"Temos um planejamento de R$ 200 milhões para investir na aquisição de escolas de alto padrão nos próximos 12 meses"
Lucas Guimarães,  presidente da Positivo Educacional

Retomada do embalo
R$ 200 milhões é o valor que será investido na aquisição de escolas de alto padrão nos próximos 12 meses
R$ 108,6 bilhões foi o resultado de 55 operações envolvendo empresas brasileiras no primeiro semestre deste ano
678 mil é o número somado de alunos das empresas envolvidas no negócio -  Finte Correio Braziliense - Leia mais em abinee25/10/2019



25 outubro 2019



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