A economia mundial segue em desaceleração e caminha para ter o pior desempenho anual desde a crise financeira de 2009. A guerra comercial entre EUA e China, com efeitos nocivos sobre o volume do comércio internacional, confiança e investimentos, é um dos principais motivos para o enfraquecimento econômico, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
PIB global - Segundo o relatório Panorama Econômico Mundial, divulgado nesta terça-feira (15/10) na reunião anual do FMI, o PIB global deve crescer 3% neste ano, projeção 0,2 ponto percentual menor que a anterior, de julho. Para 2020, espera-se expansão de 3,4%, ante 3,5% em julho. Essas taxas representam uma desaceleração significativa da atividade em relação a 2018, quando houve avanço de 3,6% do PIB mundial.
Per capita - A projeção de expansão do PIB per capita para mais da metade dos países é menor que a média dos últimos 25 anos. Esse cenário vale tanto para países desenvolvidos como emergentes, embora o segundo grupo tenha desaceleração mais forte – em especial Brasil, China, Índia, México e Rússia.
Economias desenvolvidas e emergentes - Segundo o FMI, as economias desenvolvidas devem crescer 1,7% neste ano, 0,2 ponto abaixo da projeção de julho. Para 2020, a projeção foi mantida em 1,7%. Já os países emergentes devem crescer 3,9% em 2019 (ante 4,1% no cenário de julho) e 4,6% em 2020, abaixo dos 4,7% da estimativa anterior.
Precária - “A perspectiva global segue precária, com uma desaceleração sincronizada e recuperação incerta”, disse a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath. “Não há espaço para políticas erradas e há a necessidade urgente de que as autoridades deem apoio ao crescimento.”
Sistema de comércio - Gopinath alertou que o sistema global de comércio precisa ser aprimorado, não abandonado. “Países precisam trabalhar juntos porque o multilateralismo continua sendo a única solução para combater as principais questões, como os riscos das mudanças climáticas, riscos de segurança cibernética, taxas de evasão e as oportunidades e desafios das tecnologias financeiras emergentes.”
Guerra comercial - Segundo Gopinath, a guerra comercial entre EUA e China pode tirar cerca de 0,8 ponto percentual do PIB mundial, de forma cumulativa, até 2020. Um dos efeitos do aumento de tarifas dos EUA e da retaliação da China é a redução do crescimento do comércio mundial: o FMI cortou de 2,5% para 1,1% a projeção para a expansão do comércio em 2019, o que seria a menor taxa desde 2012. Para o próximo ano, a projeção também foi reduzida, de 3,7% para 3,2%.
Contraponto - O que tem sido um contraponto aos efeitos negativos da guerra comercial é a atuação dos principais bancos centrais. “A política monetária tem um importante papel em dar apoio ao crescimento”, diz Gopinath. “Sem os estímulos monetários dos BCs, o crescimento global seria menor em 0,5 ponto porcentual neste ano e em 2020.”
Alerta - Mas ela alerta que a política monetária não deve ser o único suporte. Onde houver espaço, diz, é preciso usar também a política fiscal. Ela sugere que países como Alemanha e Holanda devem aproveitar as baixas taxas de juros para investir em capital e infraestrutura social. “Se o crescimento se deteriorar de forma mais severa, uma resposta fiscal coordenada, adequada para as circunstâncias dos países, pode ser necessária.”
Outras fontes de pressão - Além dos efeitos da guerra comercial, o FMI vê também outras fontes de pressão sobre a economia global: a forte queda da produção e venda da indústria automobilística, de 3% em 2018; e a desaceleração da demanda da China.
China e EUA - A China deve crescer 6,1% neste ano, segundo o FMI, projeção 0,1 ponto inferior à de julho. Para 2020, a expectativa é de crescimento de 5,8%, abaixo dos 6% estimados antes. Já para os EUA, o FMI revisou de 2,6% para 2,4% o crescimento em 2019, mas elevou a estimativa de 1,9% para 2,1% em 2020. Ainda assim, o cenário do FMI contempla uma clara desaceleração em relação aos 2,9% de 2018.
Riscos - Os riscos para os cenários traçados pelo FMI apontam para um crescimento ainda menor do que o projetado. Embora a recente flexibilização monetária pelos BCs possa aquecer a demanda mais do que se espera, especialmente se os piores efeitos da guerra comercial e do Brexit forem evitados, o risco de rebaixamento domina o cenário.
Pequeno grupo - Isso porque, segundo o FMI, cerca de 70% do crescimento previsto para 2020 vêm de um pequeno grupo de países emergentes que estão tendo uma performance pior em relação à média dos últimos anos - como Brasil, México e Rússia - ou estão sob tensão - caso da Argentina, Turquia, Irã e Venezuela. Se houver alguma frustração no desempenho desses países, então o crescimento global ficará abaixo do que está sendo previsto.
Abrandamento - Segundo Gopinath, a expectativa é que as tensões comerciais se abrandem. Mas o FMI alerta que “se as tensões nessas áreas se intensificarem, o prejuízo para os investimentos pode se aprofundar e pode haver um deslocamento da cadeia de suprimentos global, assim como uma redução da grande oferta de tecnologia.” (Valor Econômico) Leia mais em paranacooperativo 16/10/2019
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Ruy Moura
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