02 dezembro 2018

Como a Mastercard se associou às startups para inovar

Empresa aposta em novas tecnologias, como os pagamentos por aproximação, programas de inovação aberta e iniciativas de empoderamento feminino

Avanços tecnológicos foram a ruína de empresas que eram gigantescas em um passado não muito distantes. Kodak e Blockbuster são os exemplos mais latentes dessa decadência.

A Mastercard não quer que o mesmo aconteça. Por isso, passou por um processo de mudança intenso.

A opinião é de João Pedro Paro Neto, CEO da empresa no Brasil e no chamado Cone Sul, região que engloba Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.

Ele esteve no Fórum de Inovação da Mastercard América Latina, realizado em Miami Beach, nos Estados Unidos, entre 26 e 27 de novembro. “Quando cheguei à Mastercard, éramos uma empresa de cartões apenas. Agora, somos uma empresa de meios de pagamento. Temos que garantir que os usuários tenham uma experiência de compra segura e simples, usando cartões, o celular ou qualquer outro dispositivo”, diz.

A principal aposta da empresa na América Latina é o pagamento por aproximação, ou “contactless”. Funciona assim: em vez de a compra ser feita por meio da inserção de um cartão na maquininha e aprovada por meio de senha, basta encostar o cartão no terminal e a compra é aprovada.

Já há uma infraestrutura considerável para que a tecnologia seja usada no Brasil. Neto estima que 70% das maquininhas brasileiras já têm capacidade para isso. Agora, falta os emissores – os bancos, as fintechs e as empresas de crédito – emitirem cartões que permitam esse tipo de compra.

O “contactless”, vale dizer, só pode ser feito no Brasil em compras de até R$ 50. “Acreditamos muito no potencial das compras por aproximação, porque o brasileiro adora inovações tecnológicas e vai adorar a simplicidade que vamos oferecer a eles”, diz Neto.

Mas o que fazer se o cartão for roubado? Afinal, ninguém gosta de ser vítima de um furto ou assalto e ver compras feitas por outras pessoas na fatura. Segundo Neto, a Mastercard já trabalha para detectar fraudes feitas nesse tipo de transação.

Cartão com sensor biométrico: tecnologia para tornar compras por aproximação à prova de fraudes

Durante o Fórum de Inovação, a empresa demonstrou tecnologias que reforçarão a segurança das compras. Uma delas é a adição de um sensor biométrico nos cartões. Ao fazer uma compra por aproximação, o dono do cartão terá que colocar seu polegar neste sensor. A transação só será aprovada se a impressão digital for igual à que está cadastrada nos bancos de dados da Mastercard.

Outra funcionalidade foi adquirida pela Mastercard por meio da compra de uma startup canadense, a NuData. “A empresa criou soluções que detectam se quem está usando um cartão ‘contactless’ é realmente seu dono ao medir a pressão que ele emprega ao segurá-lo”, diz o executivo. A mesma NuData desenvolveu uma tecnologia que detecta se uma transação online está sendo realmente feita pelo dono do cartão a partir da velocidade em que o comprador digita e mexe no computador ou smartphone.

Mas a relação da Mastercard com as startups não tem a ver apenas com aquisição. A corporação também trabalha em parceria com as startups, em uma iniciativa de capacitação de pequenos negócios e inovação aberta: o Startup Path.

O projeto é voltado para empresas de todo o mundo. O foco está em startups que já têm modelos de negócio, tração e uma base de clientes relevante, além de ter passado por rodadas de investimentos menores.

De acordo com Ilana Messing, diretora do Start Path América Latina e Caribe, a parceria com as startups é de suma importância para a Mastercard. “A inovação é um projeto conjunto. Não vamos mudar o mundo sozinhos. Por isso, nos associamos a empresas que criam soluções inovadoras”, diz.

No Start Path, cada turma de empresas passa por um processo de capacitação de seis meses. Segundo Ilana, não é uma aceleração, já que esse tipo de processo é mais voltado a startups iniciantes. “Nós oferecemos a expertise da empresa e de seus colaboradores à startup, mas também conversamos e tentamos criar soluções em conjunto”, afirma Ilana.

Segundo a executiva, a empresa não adquire participação nas startups que fazem parte do Startup Path. “Só pedimos para que os empreendedores considerem a Mastercard como um investidor em potenciais rodadas de investimento”, diz.

Nesta quinta-feira (29/11), a Mastercard realizou outro evento em Miami Beach: o Startup Path Summit, em que as participantes da iniciativa se apresentaram ao público. Uma dessas empresas é brasileira: a MarketUp, que oferece soluções em gestão, atendimento ao cliente, produtividade e controle de estoque. Carlos Azevedo, cofundador do negócio, foi responsável pelo pitch da startup.

Segundo ele, as startups participantes do Path não são obrigadas a colaborar com a empresa. “Funciona assim: semanalmente, alguém da Mastercard me liga e pergunta se tem algo que eles podem fazer comigo. Eles colocam a Mastercard à sua disposição. Mas também pensamos em oportunidades de negócio que atendam ambas as partes”, afirma Azevedo. Ele não revelou se há conversas sobre investimentos da companhia de pagamento na MarketUp por questões estratégicas.

Presença feminina na liderança
De acordo com Amy Neale, líder global do Startup Path, a presença feminina nas startups é um aspecto positivo a ser ressaltado. “As empresas que se inscrevem para o projeto precisam responder se há mulheres ocupando cargos de liderança no negócio. Cerca de 40% das respostas é afirmativa”, diz ela.

No entanto, a proporção de mulheres que sobe ao palco para apresentar a empresa que criaram (ou em que trabalham) para o público não acompanha essa proporção. “Isso mostra que ainda precisamos de mais esforço para que as mulheres se interessem por tecnologia, cheguem a cargos de gestão e mostrem seu trabalho para o mundo”, afirma Amy.

A executiva destaca uma das iniciativas da Mastercard para o público feminino — para as meninas, mais exatamente: o Girls4Tech, uma iniciativa cujo objetivo é fazer garotas de 10 a 13 anos se interessarem por carreiras ligadas às ciências, tecnologia, engenharia e matemática (áreas do conhecimento classificadas pela sigla STEM, em inglês).

O Girls4Tech funciona por meio de seminários e palestras, realizados por funcionários da Mastercard. “Nossa meta é impactar 200 mil meninas em todo o mundo até 2020”, diz Amy. POR ADRIANO LIRA, DE MIAMI BEACH (EUA)* *O jornalista viajou a convite da Mastercard Leia mais em epocanenegosios 01/12/2018

02 dezembro 2018



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