Os investidores institucionais voltaram com força ao mercado imobiliário brasileiro, com uma intensidade não vista há pelo menos dois anos, segundo gestores e especialistas. E uma parte significativa dessa demanda vem de grupos estrangeiros.
"Na virada de 2017 recebemos consultas de 50 investidores internacionais, entre fundos de pensão, soberanos e private equity, que nunca fizeram negócios no Brasil, e esse número duplicou entre fim de 2017 e 2018", diz Roberto Patiño, diretor de transações da JLL (ex-Jones Lang LaSalle).
"Os estrangeiros que monitoram o mercado entendem que o setor, especialmente o de São Paulo, está saindo de uma das maiores crises da história" e agora é o momento para capturar a maior parte dos ganhos, diz Adriano Sartori, vice-presidente da CBRE Brasil. De acordo com o executivo, a consultoria mapeou R$ 3 bilhões em negócios de compra e venda de imóveis comerciais no ano passado em São Paulo e "a maior parte envolveu investidores de fora".
O ciclo de crescimento imobiliário já teve início, mas só vai ganhar tração entre o fim deste ano e o próximo. "Começou a abrir uma janela de melhora no Brasil e o institucional é mais rápido para enxergar essa abertura", afirma Alan Haddid, executivo-chefe de operações globais de asset management do BTG.
O alvo preferencial das negociações têm sido os ativos de fundos imobiliários.
"Esses veículos são escolhas lógicas porque fazem acompanhamento dos fundamentos, além de já ter mapeado e quantificado riscos específicos", afirma o executivo.
O efeito eleições pode ter contribuído para direcionar a atenção dos institucionais aos fundos. De acordo com o diretor da JLL, "esse primeiro semestre tem sido um dos mais ativos dos quais eu tive oportunidade de trabalhar". Conforme Patiño, o "pipeline", ou seja, a fila de operações a ser realizadas, começa a ser fechado na metade inicial do ano para sair, efetivamente, no semestre seguinte. "Estamos nos sentindo com cara de setembro; muita gente quer fechar os negócios antes das eleições." Dados da B3 mostram que a fatia dos institucionais no segmento de fundos imobiliários saltou de 12,8% do total em janeiro para 20,5% em fevereiro. As instituições financeiras aumentaram a participação de 2,2% para 7,45% no mesmo período.
"Temos assessorado grupos com centenas de milhões de reais em busca de ativos imobiliários e muitos veem os fundos como melhor forma de se posicionar nesse mercado", afirma Patiño. O sócio e gestor da Hedge Investiments, André Freitas, corrobora a percepção. "Acho que a gente viu e tem visto um interesse crescente de estrangeiros por ativos imobiliários brasileiros tanto dentro de fundos quanto fora", diz.
Grandes negócios imobiliários envolveram fundos imobiliários no mês passado. É o caso da venda de 37% do edifício Morumbi Park pelo fundo Rio Bravo Renda Corporativa para o grupo educacional americano Avenues, por R$ 82,5 milhões. O negócio resultou em um lucro de R$ 800 mil, segundo a gestora.
No mesmo mês, outro fundo, o CSHG Logística, pagou R$ 128 milhões pelos ativos de uma carteira controlada pela gestora de private equity Pátria. Para financiar a transação, o fundo realizou uma emissão de novas cotas pela qual captou R$ 538 milhões.
Outra operação, que envolveu o BC Fund, administrado pelo BTG, e a canadense Brookfield, exemplifica bem a intensidade com a qual os investidores institucionais passaram a atuar no mercado imobiliário brasileiro.
No acordo divulgado no mês passado, o BC Fund e a Brookfield realizaram uma operação de troca e compra de ativos no total de R$ 2,2 bilhões. No plano, o fundo imobiliário adquiriu R$ 718 milhões em propriedades da Brookfield, que, por sua vez, comprou R$ 1,309 bilhão da carteira do BC Fund. Isso reforçou o caixa do fundo com R$ 590 milhões, dos quais parte será distribuída aos cotistas e o restante, usado para novas aquisições. Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 16/04/2018
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Ruy Moura
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