17 maio 2013

Endividada, Unigel coloca ativos à venda

Um dos grupos mais tradicionais do setor químico no Brasil, o Unigel, está em busca de soluções para seu futuro, que podem culminar na saída completa do fundador, Henri Slezynger, desse ramo. A companhia, que no ano passado teve receita líquida de R$ 2,4 bilhões, tem dívidas totais que ultrapassam R$ 1,7 bilhão, para uma posição de R$ 177 milhões em caixa.

 Em dezembro, o fundador já havia admitido ao Valor as dificuldades e alguns bancos chegaram a iniciar a tentativa de vender parte dos ativos. Contudo, o Valor apurou junto a bancos credores que a Estáter, de Pércio de Souza, está há cerca de um mês com o mandato para encontrar uma saída para o negócio. A solução pode ser, inclusive, a venda integral da companhia. Procurada, a Estáter não comentou o assunto. A Unigel também não quis se pronunciar sobre as informações.

 Por enquanto, não há um modelo definido sobre o que fazer com a Unigel. A empresa não descarta nem a venda separada de suas quatro unidades - acrílicos, embalagens, estirênicos e fertilizantes - nem a venda do todo.

 Fundado em 1966, o grupo químico tem 15 unidades industriais no Brasil e no México. O engenheiro químico Henri Slezynger é considerado um dos líderes mais atuantes desse segmento e teve um papel preponderante, sobretudo nos anos 70, quando o setor estava em ebulição e passava por forte movimento de expansão. O grupo Unigel foi um dos acionistas da Petroquímica União (PqU), com 2,5% do capital, que foi incorporada pela Quattor, que foi vendida à petroquímica Braskem.

 A situação da Unigel se agravou com a crise financeira internacional. Entre 2006 e 2009, a companhia fez investimentos relevantes, porém pesados, no México - a primeira aquisição foi em 2006 -, o que elevou consideravelmente seus compromissos financeiros. Com o agravamento da crise global e a contração do mercado de crédito, o aperto financeiro aumentou.

 Nesse mesmo período, também em razão do cenário externo turbulento, a Unigel perdeu a vez na fila das aberturas de capital (a companhia chegou a iniciar os trabalhos para uma oferta inicial de ações) e não conseguiu se capitalizar. A empresa considerou até fazer emissões de debêntures, mas não foi adiante.

 Conforme o balanço publicado no Diário Oficial da União, da dívida bancária total, de R$ 1,4 bilhão, mais de R$ 600 milhões têm vencimento ainda neste ano. Os principais credores são os bancos Santander, Itaú e BTG Pactual. Há ainda uma parcela importante da dívida com fornecedores, perto de R$ 400 milhões, com a petroquímica Braskem.

 Agora, a companhia sofre com margens cada vez mais achatadas e um serviço de dívida elevado. Em 2012, registrou prejuízo de R$ 88,3 milhões, após uma despesa financeira líquida de R$ 237,3 milhões. O resultado antes das contas financeiras e dos impostos ficou positivo em R$ 30,3 milhões, mas sofreu uma redução de cerca de 70%.

 Fontes ouvidas pelo Valor afirmaram que a companhia, que tem um portfólio diversificado, mas sem sinergia entre si, também foi golpeada pela crise do setor químico e petroquímico no país nos últimos anos. Os altos preços da nafta tiram a competitividade das indústrias que dependem dessa matéria-prima para a produção de insumos químicos no Brasil. Para agravar ainda mais a situação, as cotações do gás natural no país custam cinco vezes mais que nos Estados Unidos, que estão vivendo um período de ouro nesse segmento por conta das descobertas de grandes reservas de "shale gas" (gás de xisto).

 De acordo com fontes, os ativos da Unigel interessam a diversas empresas, desde que vendidos separadamente. Na área de estirênicos, por exemplo, grandes grupos não descartam comprar essa divisão de negócios junto com a Innova, braço da Petrobras também colocado à venda por ser considerado não estratégico. Em 2009, quando ainda era apontada como uma consolidadora desse setor, o grupo Unigel comprou os ativos de estirênicos, utilizados entre outras aplicações para produção de peças plásticas descartáveis, eletrodomésticos e eletrônicos, da multinacional alemã Basf. A companhia nacional também chegou a cobiçar os ativos desse segmento da Petrobras.

 A divisão de embalagens do grupo também tem atraído interesse de importantes multinacionais, afirmaram as mesmas fontes ao Valor.

 A expectativa é que nos próximos dois meses a Unigel encontre alternativas para seus problemas financeiros, afirmam fontes familiarizadas com o assunto. Mesmo sem sinergia entre os ativos, há companhias interessadas em adquirir o grupo inteiro, de acordo com fontes.

 No início deste mês, o governo federal anunciou um pacote de incentivos ao setor químico que, entre outras medidas, reduzirá a alíquota de PIS/Cofins de 5,6% para 1% no setor. Esse programa foi bem recebido pelos empresários do segmento químico, que projetam elevar o uso de sua capacidade suas empresas dos atuais 82% para acima de 90%. O socorro às indústrias ocorre meio a um déficit recorde de balança comercial do setor, de cerca de US$ 28,1 bilhões em 2012. Para este ano, a estimativa é de que o rombo ultrapasse US$ 30 bilhões. No entanto, esses incentivos não dão alívio a uma das mais tradicionais companhias do país neste momento. "Um dos concorrentes da Unigel na área de estirênicos, a Videolar [do empresário Lírio Parisotto], está instalado na região da Zona Franca de Manaus. Eles recebem benefícios fiscais e reduzem ainda mais a competitividade dos grupos instalados em outras regiões do país", afirmou uma fonte.

 Engenheiro químico de formação, com três filhos - um deles está no dia-a-dia nos negócios da companhia -, Henri Slezynger é considerado um workaholic, de acordo com pessoas próximas ao empresário. "Com quase 80 anos de idade, ele não pensa em parar de trabalhar", disse uma fonte´. Atuante no setor, o empresário ainda está à frente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).  Por Graziella Valenti e Mônica Scaramuzzo | De São Paulo Valor Econômico -
Fonte: clippingmp17/05/2013

17 maio 2013



1 comentários:

Anônimo disse...

Tanto as industrias quimicas como as petroquimicas, seguem os mesmos problemas de todas as industrias do Brasil: não possuem uma segunda linha de produção de reaproveitamento de suas matérias primas descartadas do produto final, e muito menos um projeto de utilização e readaptação de seus produtos a outros setores em que não estão atuando. Além disso, as industrias deste Brasil sem direção certa, dependem muito de insumos de outros países e não realizam parcerias diretas com seus fornecedores, ou seja, não tem uma idéia de ao menos estar associadas a seus fornecedores. E outro agravante: muitos empresários brasileiros se deixam levar somente pelo mercado em que suas empresas atuam, e não prestam atenção em oportunidades que possam aparecer em setores diferentes. Está aí o que tanto falam: Inovação, só que inovação aqui se diz Re-Adaptação e Adaptação de Produtos a diversos setores . A crise está aí porque Bolsas de Valores lidam com números, políticas lidam com interesses sem interesses ao todo, e ambos não entendem nada de produção na produção ou produto na produção , termo definido para aquilo que não da certo em um setor poderá dar certo em outro.