09 abril 2020

Empresas buscam capital para enfrentar a crise

Os investidores preparam-se para uma enxurrada de vendas emergenciais de ações por parte de empresas tentando garantir recursos que as ajudem a superar o impacto da pandemia de coronavírus.

A primeira onda de emissores foi composta de empresas mais vulneráveis, como a operadora de linhas de cruzeiro Carnival, que incluiu capital acionário como parte de seu financiamento emergencial de US$ 6,25 bilhões na semana passada, e as redes varejistas britânicas WHSmith e SSP, que têm muitos pontos de venda em aeroportos e estações de trem.

Outras empresas, como a Auto Trader, editora de anúncios classificados, também levantaram recursos, mas para aproveitar “oportunidades” que possam surgir com a crise.

Varejistas e empresas de entretenimento europeias são apontadas por analistas como as que mais precisam de dinheiro. A pressão também aumenta sobre setores que já passavam por mudanças estruturais de longo prazo, como o automotivo. Ainda assim, não se prevê que as empresas desses setores sejam as primeiras na fila, mesmo com a janela de financiamento estando agora aberta.

“Gastar em novo capital acionário em tempos de pressão sobre o desempenho dos fundos e de resgates é algo complicado para se pedir a investidores”, disse Mark Irvine-Fortescue, analista da firma de serviços financeiros Stifel, especializado no setor de viagens e entretenimento.

Os investidores estariam “mais dispostos” a apoiar empresas que já tinham balanços sólidos antes da pandemia e que agora querem proteger seus fluxos de caixa durante a suspensão das atividades, acrescentou.

“Ajuda quando a justificativa a favor do investimento ainda está intacta e há algum tipo de caminho de volta à normalidade das operações”, disse Irvine-Fortescue. “Também ajuda quando as partes interessadas são vistas compartilhando o impacto coletivamente […] Deixando a desejar em qualquer uma dessas frentes, as empresas podem encontrar dificuldade.”

Executivos da área de banco de investimento estão otimistas e acreditam que a demanda dos investidores vai estar à altura da oferta, especialmente se as novas emissões oferecerem desconto em relação às cotações atuais.

Grandes investidores, incluindo fundos que só têm posições compradas, possuem entre 5% e 10% de seus ativos em moedas e estão preparados para respaldar empresas nas quais já têm participações ou aproveitar descontos para iniciar investimentos em outras, destaca Fabian de Smet, chefe global de operações sindicalizadas de renda variável no banco de investimento Berenberg. “O mercado está totalmente aberto. E tudo tem um preço.”

Autoridades pelo mundo, como as da China, Alemanha e Austrália, reagiram à crise abrandando as restrições sobre quanto as empresas podem levantar sem precisar de aprovação dos acionistas.

O Pre-Emption Group, que presta assessoria sobre melhores práticas e é um braço do Conselho de Contabilidade Financeira (FRC, na sigla em inglês), órgão supervisor do setor no Reino Unido, passou a defender emissões equivalentes a até 20% do capital acionário já emitido no caso de cada empresa. Antes, seu limite recomendado para tais pedidos de aporte de capital com propósitos gerais era de apenas 5%.

Uma pesquisa com clientes do Berenberg mostrou amplo apoio a esse tipo de concessão, embora as opiniões tenham ficado divididas entre os investidores apenas com posições compradas, que temem uma diluição em suas participações, e os fundos hedge, que gostam de flexibilidade extra.

É conveniente para os acionistas existentes de uma empresa prestarem apoio a ela, enquanto investidores novos têm poder de barganha para influenciar as condições.

A volatilidade aumenta a pressão. A grande maioria dos pedidos de aporte de capital nos últimos 20 anos foi feita quando o Vix, índice de volatilidade, estava abaixo de 20 pontos, sua média de longo prazo, segundo o Berenberg. Em março, o Vix chegou ao recorde de mais de 80 pontos, de forma que os investidores vêm exigindo descontos cada vez maiores.

Um meio termo é oferecer o que os executivos de banco de investimento chamam de direitos preferenciais moderados para os investidores atuais. “Temos um dever de proteger os acionistas existentes”, disse De Smet, do Berenberg. “Ao fazer as alocações, sempre favoreceremos nossos 10 ou 20 maiores investidores.”

Os mercados de ações não são a única opção para obter novos recursos. Garantias governamentais respaldaram as linhas de crédito bancárias e mantiveram os mercados de títulos de dívidas abertos para as empresas com boas classificações de crédito.

Segundo estimativas do Exane BNP Paribas, as medidas econômicas na Europa deverão permitir que o sistema bancário garanta os atuais títulos de €1,5 trilhão de empresas não financeiras, dos quais cerca de € 170 bilhões vencem neste ano. Mas os bônus de algumas empresas já perderam as notas de investimento seguro, enquanto os papéis com baixos ratings já estavam além do alcance dos programas dos BCs.

Quanto às evidências de que as emissões de ações sejam de fato uma boa aposta, as informações são desencontradas. Uma análise do banco de investimento Macquarie indica que acumular dinheiro para enfrentar tempos difíceis é apreciado pelos acionistas no curto prazo, mas pode ser uma má ideia no longo prazo.

Na crise de 2008, a grande maioria das operações para levantar dinheiro na Austrália foi para pagar dívidas ou reforçar o capital de giro, segundo o Macquarie.

As empresas que levantaram recursos para aquisições de ocasião viram suas ações se valorizarem quase 40%, em média, nos 30 dias seguintes à emissão, ante ganhos de 15% a 20% das empresas empenhadas em reforçar a liquidez. Por outro lado, este segundo grupo manteve os ganhos nos 12 meses seguintes, enquanto o retorno das empresas que recorreram às emissões para compras tornou-se negativo.

Desta vez, os que se mexeram primeiro, como Auto Trader e a firma de recrutamento Hays, viram suas cotações caírem desde então. (do Financial Time) .. Leia mais em cnf 08/04/2020

09 abril 2020



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