11 dezembro 2019

Juro baixo transforma quadro do investimento, diz McKinsey

O Brasil caminha para encerrar 2019 com um horizonte mais animador para a economia, cenário que pode ser reforçado em 2020 se o país conseguir destravar gargalos importantes, em áreas como energia e infraestrutura, além de alavancar segmentos mais resistentes, caso de setores como o agronegócio. Isso em um ambiente de negócios e investimentos transformado pela realidade dos juros baixos. Esses são alguns apontamentos do estudo “Brasil 2020: árvore de oportunidades”, um relatório da McKinsey que mapeou 24 segmentos ou fenômenos (como envelhecimento populacional) que devem estimular os negócios futuros.

“No Brasil, nos últimos 20 anos, menos de 10% das empresas conseguiram gerar valor econômico, isto é, gerar retorno maior do que o custo de capital. Mesmo com toda a volatilidade e incerteza do mundo atual, o certo é que as empresas que conseguem são aquelas que enxergam as oportunidades e fazem grandes movimentos”, afirma Reinaldo Fiorini, sócio-sênior à frente da McKinsey no Brasil.

Uma das oportunidades abordadas pela McKinsey está no setor de energia, que deve receber investimentos, sobretudo no segmento de renováveis, e ver seus preços se tornarem mais competitivos, com a abertura do mercado de gás, por exemplo. “Alguns pontos de regulação ainda precisam ser definidos. É importante que a discussão está ocorrendo com vários atores da indústria. Claro que há os consumidores finais, a indústria, mas tem que tratar também de como garantir que cada ator da cadeia seja bem remunerado”, diz Fiorini.

Segundo ele, “é preciso prestar atenção porque em alguns setores você só coloca a infraestrutura uma vez”, como linhas de transmissão de energia e investimentos em saneamento. “A infraestrutura final é só uma, você tem que criar o ambiente necessário para incentivar esse investidor, ele ser remunerado por isso, mas é claro que tem o papel importante do regulador de garantir também o retorno esperado para a sociedade”, diz.

Nicola Calicchio, conselheiro do Conselho Global de Clientes da McKinsey, observa que o estoque de infraestrutura do Brasil gira entre 40% e 50% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média de outros países fica entre 60% e 80%. Para o Brasil se aproximar dos números internacionais, o estudo da McKinsey aponta que o país precisa passar da média atual dos últimos anos de 2,1% do PIB investidos em infraestrutura para 4,7%, pelos próximos 20 anos. "Não é uma melhoria gradual, estamos falando da necessidade de uma melhoria radical, uma mudança drástica", diz Calicchio. Ele afirma, porém, que a meta é factível. "O Brasil é um país que poupa pouco, então não tem capacidade de fazer altos investimentos. Temos que atrair o capital externo. E o que não falta no mundo é dinheiro atrás de bons projetos, que permitam retorno adequado ao risco e com segurança jurídica."

Insegurança legal é um dos entraves para o Brasil explorar mais, por exemplo, as hidrovias, meio destacado no estudo da McKinsey por seu baixo custo e elevado potencial para transportar commodities. Uma exploração do tipo exigiria, segundo Calicchio, concessões, com algum tipo de retorno ao investidor. "Se não tiver uma proteção, um pedágio justo, vai ter o custo e todo o mundo vai ter o benefício? O governo não tem dinheiro para fazer, o setor privado não tem segurança, então ninguém faz.”

A perspectiva de manutenção dos juros em patamares relativamente baixos por um bom tempo é fator adicional de impulso aos investimentos. “Eu, pessoalmente, acredito que o fenômeno de juros baixos no Brasil tem o potencial quase de um Plano Real, é transformacional para o país. Nunca vivemos um período longo com juros baixos, nominais e reais. É um efeito tão impressionante em todos os setores”, diz Calicchio.

Juros elevados contribuíram, por exemplo, para “sufocar” empresas médias no Brasil, segundo ele. “A gente sente falta na América Latina e no Brasil da pujança das empresas médias. É importante para a economia, para geração de riqueza e emprego, fortalecimento de uma classe média. Por isso a cena das startups é bacana, porque cria uma nova leva de empresas, que estão ganhando escala”, completa Fiorini.

O estudo da McKinsey destaca que cerca de 40% da força de trabalho brasileira é composta por “empreendedores”. Embora Fiorini enalteça a “cena vibrante” de startups no Brasil, ele pondera que ainda há uma grande parcela da economia que é informal. “E o problema de economia informal é que ela não ajuda no aumento da produtividade. Esse é um dos desafios do Brasil, o de elevar a produtividade do trabalhador estagnada há muito tempo. Temos esses dois mundos convivendo.”..
Valor Econômico - Leia mais em abinee11/12/2019


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11 dezembro 2019



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