27 dezembro 2019

Fintechs brasileiras atuam mais em meios de pagamentos, diz pesquisa

Levantamento da PwC mapeia o segmento no país; 57% delas estão em São Paulo

O Brasil tem mais de 500 fintechs, que em meio a um ambiente regulatório menos rígido e com o uso de novas tecnologias estão desafiando o domínio de décadas dos grandes bancos. Mas qual é o perfil dessas startups que estão conquistando cada vez mais clientes com a oferta de produtos inovadores ou simplesmente processos mais ágeis e práticos? Para descobrir isso, a consultoria e empresa de auditoria PwC Brasil e a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) realizaram um dos maiores levantamentos já feitos no país.

A pesquisa traçou um perfil bastante completo das fintechs brasileiras. A maioria (57% do total) está no Estado de São Paulo, 26% delas têm entre seis e dez funcionários e 30% faturam até R$ 350 mil por ano. Na divisão por segmentos, os meios de pagamento lideram, com 22% das fintechs. Na sequência aparecem crédito, financiamento e negociação de dívida (21%); bancos digitais (10%); gestão de investimento (8%); gestão financeira (7%); seguros (4%); e outros (28%).

Apesar da competição com os grandes bancos, a pesquisa derruba um mito, já que a maioria das fintechs não considera as instituições tradicionais como completos rivais. Questionadas, apenas 18% veem os grandes bancos como concorrentes, enquanto 35% dizem que são parceiros atuais, 28% os consideram possíveis parceiros futuros e 20% acreditam que as maiores instituições são possíveis compradores estratégicos. Segundo o estudo, em geral, bancos e seguradoras veem a colaboração com as fintechs como uma forma de ter acesso à inovação. Já as fintechs encaram essa oportunidade como um trampolim para ganhar escala e viabilizar seus negócios.

Ingrid Barth, diretora da ABFintechs e fundadora da Linker - que oferece contas de pagamentos para empresas -, conta que no modelo atual muitas fintechs dependem de bancos parceiros para atuar, por isso a ideia de uma rivalidade feroz entre esses dois tipos de instituições não é válida. Com o tempo, muitos bancos médios e pequenos vêm se aproximando cada vez mais desse universo das fintechs. Essa visão de que as fintechs vão acabar com os bancos tradicionais não existe.

Em um amplo relatório com as oportunidades de crescimento em 2020 em diversos setores, a consultoria McKinsey aponta que o Brasil representa grandes possibilidades para as mais de dez mil startups em geral e, em especial, para as fintechs brasileiras. O estudo aponta que 71% dos brasileiros possuem um smartphone e que passam, em média, 9,5 horas por dia conectados à internet, o segundo maior tempo entre todos os países do mundo. Mudanças favoráveis na regulação e políticas públicas estão criando uma nova janela de oportunidades, como os pagamentos instantâneos e o open banking, aponta o documento.

A pesquisa afirma que o Brasil já tem 11 unicórnios, as startups com valor de mercado de mais de US$ 1 bilhão, mesmo número da Alemanha e bem acima de Israel, que, apesar de ser considerado um polo tecnológico, tem apenas seis. Os unicórnios brasileiros são Stone, Nubank, PagSeguro, Ascenty, Arco, 99, Gympass, iFood, Loggi, QuintoAndar e WildLife.

Segundo a McKinsey, o cenário de juros nas mínimas históricas cria oportunidades em segmentos ainda não explorados, como crédito para micro e pequenas empresas, hipotecas e indivíduos de baixa renda. Novas tecnologias e uma dinâmica acirrada de competição vão continuar a trazer efeitos positivos para os usuários, como aprovação mais rápida de crédito, juros menores e maior acesso a serviços financeiros, destaca o relatório.

O levantamento ressalta que o sistema bancário brasileiro é bastante resiliente e tem retornos maiores que os pares internacionais, mas indica que as instituições tradicionais já estão se adaptando ao novo cenário, como mostra o lançamento do iti pelo Itaú.

Para Luís Ruivo, sócio da PwC Brasil, um dos pontos importantes da pesquisa é o otimismo revelado pelas fintechs: 50% delas esperavam um crescimento de mais de 100% da receita este ano. A coleta das informações foi feita com 205 empresas entre setembro e outubro, o que significa que elas já tinham uma boa noção do desempenho ao longo de 2019. No ano passado, na primeira edição da pesquisa, o otimismo das fintechs já era grande, mas levemente menor, já que 48% esperavam dobrar a receita naquele ano.

Das fintechs ouvidas, 58% ainda não atingiram o breakeven (ponto de equilíbrio), ou seja, ainda dão prejuízo. Para 66% delas, isso deve ocorrer nos próximos dois anos. Na pesquisa anterior, 85% esperavam atingir o breakeven em dois anos. A redução nesse percentual este ano mostra um maior grau de maturidade das empresas, diz Ruivo.

Ingrid, da ABFintechs, acrescenta que, apesar de a pesquisa não ter abordado esse ponto, a evidência empírica indica que a maioria das fintechs alcança o breakeven entre três e cinco anos. A preocupação inicial das startups é muito mais crescer a base de clientes. Como é um negócio intensivo em uso de capital, muitas vendem um pedaço da empresa para se capitalizar, então essa pressão pelo breakeven não é tão forte nos primeiros anos, diz.

Entre as principais barreiras à gestão apontadas pelas fintechs, 52% dos entrevistados citam a dificuldade de atrair recursos humanos capacitados. Na sequência, aparecem: alcançar escala necessária para a operação (49%), obter investimento (43%) e ter reconhecimento da marca. Muitas vezes as fintechs disputam profissionais com grandes empresas, que têm uma estrutura de salários e benefícios muito melhor. O que acaba deixando as fintechs um pouco mais atrativas é quando você dá um percentual da empresa para o funcionário, ou seja, ele vira sócio, conta Ingrid. Segundo ela, existe também um efeito de fuga de cérebros para outros países, mas o impacto é pequeno.

A terceira maior dificuldade citada pelas fintechs - a obtenção de investimentos - é refletida no fato de que 47% ainda não conseguiram atrair investidores, ou seja, contam só com o dinheiro dos fundadores ou empréstimos bancários. Entre as empresas que captaram recursos, a maioria (38%) levantou entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões; 48% já participaram de mais de uma rodada de investimentos; e 30% obtiveram recursos de investidores estrangeiros. Já entre as que não receberam investimentos, os principais motivos são: falta de exposição da marca (25%), ausência ou escassez de investidores (14%) e crise econômica/política (9%).

A pesquisa da PwC também mostra que 63% das fintechs dizem que já atuam ou pretendem atuar em outros países. Os mercados mais citados são América Latina, Estados Unidos e Portugal. Até pela necessidade de buscar capital lá fora, muitas fintechs acabam montando uma entidade no exterior. A maioria ainda não tem operação internacional de fato, mas já tem a estrutura, comenta Ingrid.

Outro ponto importante trazido pelo estudo é que 56% das fintechs não possuem políticas de segurança de dados. Para minimizar riscos, a segurança cibernética precisa estar arraigada na forma de encarar novas oportunidades de negócios e novos produtos. É importante que esteja contemplada na própria definição do modelo de negócio, diz Ruivo. Ingrid aponta, entretanto, que as fintechs já nascem usando tecnologias mais seguras. Isso não quer dizer que não existem vulnerabilidades, mas é mais fácil as fintechs se protegerem. Já os bancos tradicionais, segundo ela, muitas vezes têm de lidar com sistemas legados, o que os torna vulneráveis a ataques cibernéticos.

Entre as principais tecnologias que as fintechs brasileiras pretendem dominar no futuro estão inteligência artificial (48%), machine learning (46%), blockchain (44%), data analytics (29%) e biometria e gestão de identidade (24%). Das empresas ouvidas, 39% pretendem participar da iniciativa do Banco Central de criar um sandbox regulatório, um conjunto de normas mais simples e flexíveis, geralmente com um nível de supervisão menor dos reguladores, para permitir que novas empresas testem tecnologias diferentes, sem sufocar a inovação.

Sobre como pretendem sair do mercado, 50% dos donos de fintechs dizem que devem vender a companhia para um investidor estratégico. Outros 23% têm a intenção de manter a empresa privada, 16% vislumbram uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) no exterior e 11% pensam em listar a empresa no Brasil mesmo... Leia mais em valoreconomico 27/12/2019



27 dezembro 2019



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