11 dezembro 2019

Cenário melhora e Anbima vê crescimento de 2,3% em 2020

Se a marca do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 foi a frustração, para 2020 o risco é de se subestimar o crescimento da atividade, segundo o grupo consultivo macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

A mediana das estimativas dos economistas-chefes das 24 instituições que formam o colegiado é de um avanço de 2,3% para o PIB do ano que vem, maior que os 2% previstos em outubro.

Uma das forças dessa projeção reside no fato de a demanda doméstica já estar rodando com crescimento em torno de 2,5% anualizados. Juros mais baixos, crédito em expansão e recuperação incipiente do mercado de trabalho são alguns dos fatores que tornam o cenário para a economia mais favorável.

Para o PIB de 2019, a mediana das projeções do grupo, que se reúne a cada 45 dias, antes das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), foi revista de 0,9% para 1,2%. A melhora se deu após a divulgação do resultado do terceiro trimestre, que avançou 0,6% sobre o segundo, feito o ajuste sazonal, acima do 0,4% esperado pelo consenso do mercado. No fim de 2018, a expectativa era de que o PIB deste ano tivesse crescimento bem maior, em torno de 2,5%.

Na reunião mais recente, quase nenhuma voz do grupo discordou que a economia ganhou tração neste segundo semestre. “Ainda há uma preocupação ou outra em relação ao crescimento da indústria, mas de forma geral estão todos mais animados”, afirma Fernando Honorato, presidente do grupo macro da Anbima e economista-chefe do Bradesco. Até então, as impressões eram bem divididas. Para Honorato, se não houver choques inesperados, o piso de crescimento deve ser de 1,7% a 1,8% em 2020.

Nas projeções da Anbima, depois de se expandir entre 0,8% e 0,9% no quarto trimestre, sobre o terceiro, o PIB deve avançar 0,5% no primeiro trimestre de 2020 e 0,6% em cada um dos períodos seguintes. Rodrigo Azevedo, diretor do grupo macro da Anbima e sócio da Ibiuna Investimentos, disse que, se essas estimativas se realizarem, o crescimento da atividade no país, do segundo trimestre de 2019 ao primeiro de 2020 ficará em média em 0,6% por trimestre. É um ritmo anualizado de 2,4%. “Não é muito difícil escorregar para cima. E isso com o choque da Argentina, com a incerteza externa, e antes do efeito do estímulo monetário, em que a Selic foi de 6,5% para 4,5% [o nível para o qual o Copom deve cortar amanhã a taxa, hoje em 5% ao ano].”

Sob esse prisma, observa Azevedo, a aceleração do PIB em 2020 não é um cenário tão otimista. “Parece ser otimista à luz dos temores do meio do ano. Mas, quando comparamos com o crescimento que já está ocorrendo, esse número parece ok”, diz ele, ex-diretor de Política Monetária do BC. O economista observa que o crédito à pessoa física e jurídica (bancário e no mercado de capitais) está “jogando mais combustível” no crescimento. “Isso também explica por que a demanda doméstica ex-governo está crescendo em torno de 2,5% em termos anualizados.”

David Beker, vice-presidente do grupo de macroeconomia da Anbima e chefe de economia e estratégia do Bank Of America Merrill Lynch, também acredita que os juros baixos ainda vão surtir mais efeito na atividade. Entre outros fatores positivos, ele cita, além do crédito, a criação de postos formais de trabalho, ainda que de forma gradual, e uma agenda estrutural que pode avançar mais, com reformas macro e microeconômicas. “Tudo isso aponta para um crescimento maior.” Ele ainda destaca que, na média, os economistas do comitê estão menos preocupados com o cenário externo. Há expectativa de uma trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e o risco de recessão global diminuiu.

Na indústria, o pior passou, após um decepcionante 2019. O grupo revisou a queda da produção do setor 2019 de 0,6% para 0,7%, mas, para 2020, a estimativa foi revisada de crescimento de 2% para 2,4%. “A visão do comitê é de que o pior ficou para trás. A Argentina pode ter um impacto ainda residual, mas a representatividade das importações do país caiu muito. A indústria demora um pouco mais para reagir”, diz Beker.

O Brasil chegou a exportar US$ 17 bilhões para a Argentina, número que recuou para perto de US$ 8 bilhões. “Pode cair pela metade de novo, mas o impacto seria secundário”, acrescenta Honorato. Ele ainda pondera que, dado que não há uma onda de importações de produtos industriais, o aumento nas vendas do varejo, mais a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), terá impacto na produção de manufaturados.

Na parte fiscal, se as expectativas sobre o resultado primário chegaram a piorar com a atividade neste ano, esse indicador encerra 2019 com uma trajetória mais benigna que o esperado. A mediana das estimativas do comitê de economistas da Anbima prevê que em 2020 o déficit fique 1% do PIB, praticamente o mesmo resultado deste ano, mas com espaço para melhorar, caso reformas como a dos gastos obrigatórios e a administrativa avancem no Congresso.

A trajetória esperada para a dívida bruta também melhora, com a queda dos juros e o aumento da arrecadação, num cenário de maior crescimento. A estimativa é que o indicador chegue a 78,1% do PIB, ante 77,8% do PIB neste ano. “A reforma da Previdência tem uma potência fiscal importante, que reduziu o risco da dívida pública”, afirma Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander e ex-secretária do Tesouro Nacional.

A discussão em torno da rigidez do Orçamento público tem ajudado a construir uma agenda pós-Previdência, diz Vescovi. “As três propostas de emenda à Constituição enviadas pelo governo foram muito concentradas na quebra dessa rigidez.” A dívida bruta, observa Ana, cresce um pouco antes de passar a diminuir, mas já é possível vislumbrar uma trajetória melhor desse indicador, que apesar disso ainda seguirá bem descolado da média de 50% dos países emergentes. A convergência com esses pares deve vir num prazo de dez a 15 anos, avalia a economista.

No geral, a conclusão dos economistas é que 2020 deve ser um ano melhor que 2019, mas com ressalvas. “Pode ser um ano bom para o Brasil, mas uma ótica relativa, de onde estávamos nos últimos três anos. Não podemos respirar aliviados porque o pior ficou para trás. Contentar-se com isso parece ser pouco promissor como nação”, afirma Azevedo, a respeito das previsões para o ano que vem. Valor Econômico - Leia mais em abinee.11/12/2019


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11 dezembro 2019



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