15 fevereiro 2018

Indústria de papel e celulose caminha para consolidação

Mercado vive uma conjuntura de fluxo de caixa forte e endividamento inferior ao dos últimos anos, o que reforça as expectativas de novas operações de fusões e aquisições no Brasil

Depois dos bons resultados do setor de papel e celulose no último ano – com avanço de quase 13% no saldo da balança comercial para US$ 7,5 bilhões – 2018 já começa agitado. Rumores de fusões e aquisições explodem por todos os lados, com rivais de peso como Fibria e Suzano traçando suas estratégias para elevar ainda mais a competitividade, indicando que o ano deve ser marcado pela consolidação.

No radar, além de prováveis investimentos das duas maiores produtoras, pode estar incluída também a compra de participações na Eldorado Papel e Celulose, dos irmãos Batista, que já venderam 49% para o grupo asiático Paper Excellence. Analistas de mercado dizem que os estrangeiros poderiam comprar a gigante brasileira Fibria. Mas há quem cogite até uma fusão dela com a concorrente Suzano. Isso sem falar na aquisição Lwarcel, que vem sendo cobiçada por diversos grupos nacionais e internacionais.

O cenário não poderia ser melhor para os negócios, já que a produção brasileira da polpa em 2017 atingiu o maior volume registrado em um ano, batendo em 19,5 milhões de toneladas, um avanço de 3,8% ante 2016, conforme dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), entidade que reúne fabricantes de papel e celulose. O ano de 2017 também foi marcado pelo avanço nas negociações com o mercado externo em termos de preço. A celulose registrou alta de 2,3% ante o ano anterior.

Para o analista da Guide Investimentos, Rafael Passos, será inevitável que o ano de 2018 seja marcado por uma consolidação neste mercado. Caso nenhuma das operações que foram ventiladas até agora saia do papel, Passos espera que, no mínimo, haja o anúncio de novas fábricas em meio aos planos que ficaram engavetados durante os anos da recessão, em função do aumento da demanda internacional, especialmente da China, principal comprador da celulose brasileira no ano passado, elevando em 18,7% o consumo ante 2016.

Por isso, os investimentos devem ser retomados, na opinião do analista da Guide. “Tivemos um movimento interessante da Suzano, que nos anos de 2014 e 2015 tinha um nível de alavancagem bem forte, mas agora está bem mais saudável financeiramente. Se não tiver consolidação, haverá mais investimentos”, afirma. Passos lembra que no fim do ano passado houve uma franca expansão na produção da pasta, de modo que as empresas do setor estão com geração de caixa mais forte ao mesmo tempo em que estão menos endividadas.

Em relatório do BTG Pactual assinado pelos analistas Leonardo Correa e Gerard Roure, destacou-se que a relação dívida líquida sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês) da Suzano caiu para 2,1 vezes no quarto trimestre do ano passado, contra 2,7 vezes no mesmo período do ano anterior. Este cenário, na visão de Rafael Passos, seria perfeito para retomada de risco.

O analista conta que o cenário-base com o qual trabalha a Guide Investimentos é de fusão entre Fibria e Suzano, o que aumentaria a influência da empresa resultante no ciclo de preços de papel e celulose. “Uma operação entre as duas maiores do Brasil iria aumentar a competitividade e assegurar a sobrevivência da indústria no longo prazo”, avalia.

Rafael Passos acredita que os rumores de aquisição da Fibria pela Paper Excellence podem até acelerar a fusão entre Fibria e Suzano, que seria bem vista pelos presidentes de ambas as empresas, mas estaria emperrada por conta de diferenças entre as famílias controladoras. “Já tivemos o CEO da Suzano comentando isso, assim como o presidente da Fibria, mas o conflito entre as famílias Moraes [que controlam a Fibria] e Feffer [controladores da Suzano] atrapalha o negócio.”

Atualmente, existem 60 empresas de papel e celulose no Brasil. Na opinião de Passos, se não houver acordo entre Fibria e Suzano ou Fibria e Paper Excellence, com certeza as empresas menores serão compradas, já que o caixa das grandes está confortável. Isso até já ocorreu ano passado, quando a Suzano comprou 92,84% do capital da Fábrica de Papel da Amazônia (Facepa), produtora de papéis higiênicos.

Fontes do setor, no entanto, dão conta de que a compra de parte na Eldorado pela Fibria estaria empacada no preço. A empresa dos irmãos Batista teria sido avaliada, antes da compra pela asiática, em R$ 15 bilhões, valor que os controladores da Fibria não teriam concordado. “Se eles não concordaram lá atrás, porque concordariam agora?”, questiona uma fonte. O fato é que faria sentido essa aquisição pela Fibria, em função da proximidade das unidades no Mato Grosso do Sul, com fortes ganhos de sinergia. A combinação dos ativos criaria uma empresa com capacidade de quase 5 milhões de toneladas de celulose de eucalipto, somando os 3,2 milhões da Fibria aos 1,7 milhão da Eldorado.

Boas perspectivas
E os dados sustentam as projeções de bons negócios do setor. Conforme o Ibá, as exportações de papel e celulose chegaram a US$ 8,557 bilhões em 2017, contra US$ 7,696 bilhões em 2016. Já as importações ficaram em US$ 1,024 bilhão, número estável em relação ao ano anterior, fazendo um saldo positivo de US$ 7,533 bilhões na balança comercial. A participação do segmento nas exportações brasileiras foi de 3,9% em 2017, ante 4,2% em 2016. A receita bruta dessa indústria totalizou R$ 69 bilhões em 2015, representando 6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional à época.

Os principais destinos da celulose brasileira, segundo Ibá, são a China, que respondeu por US$ 2,572 bilhões em compras em 2017, 40,47% do total; a Europa, com US$ 1,985 bilhão no ano passado (31,24%); e a América do Norte, com compras de US$ 985 milhões, ou 15,5%.

Em outro relatório do BTG Pactual, os analistas Leonardo Correa, Gerard Roure, Cesar Perez-Nova e Alex Sadzawka apontam que os preços de celulose devem crescer no curto prazo com a resiliência da demanda chinesa, o cenário favorável para demanda europeia, a capacidade atual totalmente vendida, os problemas na oferta provenientes de países da Escandinávia e os estoques “magros” em toda a cadeia de valor. “Qualquer correção terá vida curta e o efeito da base é muito potente e continuará levando a geração de caixa substancial”, diz o relatório de investimento. Leia mais em dci 15/02/2018

15 fevereiro 2018



0 comentários: