17 abril 2013

SapientNitro reduz divisão entre mídia e TI

Durante muito tempo, o dia a dia de Marcelo Tripoli foi marcado por expressões e conceitos dos mundos da publicidade e da mídia. Por mais de uma década, Tripoli comandou a iThink, a agência de mídia digital fundada por ele e outros sócios em 2002. Agora, parece ter chegado a hora de acrescentar palavras novas ao vocabulário básico de trabalho. "Só temos falado de Oracle, Adobe e coisas do tipo", diz o executivo, em referência a duas marcas icônicas do setor de tecnologia. A Oracle é dona da linguagem Java; a Adobe, da tecnologia Flash, que dá movimento aos sites de internet.

A ampliação do dicionário de Tripoli reflete a mudança radical pela qual a iThink passou no início do ano. Em janeiro, a empresa foi adquirida pela americana SapientNitro - a maior agência digital dos Estados Unidos e a terceira maior do mundo, segundo a revista "AdAge" -, após conversas que duraram 13 meses. A Sapient ficou com 81% da iThink e a possibilidade de adquirir os demais 19% dos sócios originais nos próximos anos. Grupos tradicionais de comunicação e publicidade já haviam sondado a iThink, mas a decisão de escolher a Sapient se deve a um característica que Tripoli considera fundamental para continuar a crescer: a experiência na execução de projetos tecnológicos.

A SapientNitro é parte da Sapient Corporation, que encerrou o ano passado com uma receita de US$ 1,16 bilhão. O apelo tecnológico é tão forte no grupo que a Sapient Corporation está listada na Nasdaq como uma empresa de tecnologia - exatamente o aspecto que a empresa espera reforçar no Brasil a partir de agora.

A aquisição coloca a iThink em rota de concorrência, ao menos em parte, com empresas que desenvolvem softwares e prestam serviços de tecnologia, como as brasileiras BRQ e Stefanini ou a indiana Tata, e com consultorias como Accenture e McKinsey. A diferença em relação às empresas de software sob encomenda é que elas fazem programas para quaisquer fins, enquanto a tarefa da Sapient é providenciar as ferramentas de TI que seus profissionais julgarem necessárias para colocar uma estratégia de mídia no ar.

Essa abordagem mostra como as agências de mídia digital se parecem cada vez mais com empresas de tecnologia. Enquanto a publicidade tradicional retirar boa parte de sua receita de uma atividade que desenvolve há muito tempo - a negociação de espaço publicitário, principalmente na TV - as agências digitais, mais jovens e menores, têm de se atirar de cabeça na tecnologia para dar conta do ritmo rápido das mudanças na web. Em vez de projetar as ações na internet para os clientes e contratar terceiros para cuidar da parte tecnológica, a expectativa, hoje, é que a própria agência lide com isso, assumindo a condução do processo do início ao fim.

A tecnologia não é uma estranha para a iThink - nome que desaparecerá gradativamente -, mas a adaptação ao universo tecnológico vai demandar uma série de mudanças internas. "O perfil dos profissionais atuais não muda, mas vamos trazer pessoas do exterior e, em paralelo, fazer contratações no país", diz Tripoli, que após a aquisição assumiu o posto de executivo-chefe da Sapient no Brasil. O tamanho e a abrangência do grupo americano ajudam a cumprir o tarefa de renovar o time. Com 11 mil funcionários, a Sapient estimula seus profissionais a mudar de lugar à medida que um ou outro escritório precisa mais de suas habilidades.

 "Um dia depois do anúncio da aquisição, a companhia enviou um e-mail a todos os funcionários, perguntando quem falava português", conta Luiz Trindade, vice-presidente da SapientNitro e sócio da iThink. A empresa já começou a avaliar os talentos internacionais que pretende "importar". A ideia não é trazê-los temporariamente. As posições são permanentes. "Quando chegou à Índia, a Sapient convidou 16 pessoas [do exterior] para se fixarem no país. Hoje, o escritório tem 4,5 mil pessoas, com 4 mil trabalhando no desenvolvimento de software", diz Trindade.

A rota é de mão dupla. A equipe brasileira também já foi acionada para participar de um projeto internacional da Sapient, que precisava de especialistas no comportamento de consumidores de cerveja. No Brasil, a iThink atende à marca Skol.

As mudanças na iThink também refletem um movimento recente no organograma das grandes companhias. Originalmente, o executivo de tecnologia de uma empresa - o CIO (do termo em inglês Chief Information Officer) ou CTO (Chief Technology Officer) - tinha perfil técnico e sua equipe era majoritariamente reativa. As áreas de negócios traçavam os planos e "encomendavam" ao grupo de TI os sistemas e serviços necessários ao projeto. Isso mudou. O CIO está mais envolvido com a atividade-fim da empresa em que trabalha e participa ativamente do processo de criação e divulgação dos produtos ou serviços. "Existe até uma nova sigla, o CTMO, que combina o CTO com o executivo de marketing, o CMO", afirma Trindade. "Isso mostra que o trabalho desses profissionais tornou-se indissociável."

O acordo com a Sapient também abre perspectivas de negócios ao acompanhar o movimento de aquisições de empresas brasileiras por grupos estrangeiros, diz Tripoli. É o caso da CVS, dos Estados Unidos, que no mês passado gastou US$ 670 milhões para comprar 80% da rede de drogarias Onofre. Muitas dessas empresas internacionais são clientes da Sapient em seus países de origem, o que estabelece uma conexão natural com a agência no Brasil, afirma o executivo. Os sinais indicam que não vão faltar oportunidades para Tripoli aprimorar a fluência em "tecnologiquês" daqui para frente. Por João Luiz Rosa Valor econômico
Fonte: appbrasil 17/04/2013

17 abril 2013



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