11 abril 2013

Barulhos, sinais e estratégias?

Recentemente li um livro muito interessante e que recomendo aos que querem se aprofundar em modelos e processos de previsão, algo extremamente relevante para investidores em geral. Afinal, quando tentamos entender o valor de uma empresa na bolsa, temos sempre (implícita ou explicitamente) uma previsão sobre o futuro. Mesmo os mais céticos quanto à utilização de modelos de fluxos de caixa descontados para calcular o valor de uma empresa ou qualquer outro método quantitativo ou estatístico precisam prever o futuro de alguma forma, como, por exemplo, assumir que as melhores pessoas na gestão dos negócios continuarão a tomar boas decisões no futuro para criar valor aos acionistas, ou não.

O livro é "The Signal and the Noise - Why so Many Predictions Fail But Some Don"t", de Nate Silver (The Penguin Press, 2012), ainda sem tradução para o português, mas em vias de ser publicado no Brasil pela editora Intrínseca. O autor examina padrões de erros e acertos dos melhores profissionais envolvidos com previsões (no mercado financeiro, meteorologia, esportes, política etc) e chega à conclusão interessante de que muitas vezes é mais importante estar certo de um ponto de vista relativo à concorrência do que em termos absolutos. E, como em quase tudo, onde há concorrência há normalmente melhores resultados.

 Num mundo cada vez mais inundado por informações (barulho), fica cada vez mais difícil distinguir o que de fato é relevante (o sinal) para a tomada de decisões. Este paradoxo moderno só tende a aumentar e temos que nos adaptar a esta nova realidade. Novas ferramentas (computadores potentes, sistemas, algoritmos de busca etc) vão nos ajudar cada vez mais (e por isso a Google é hoje uma das empresas mais valiosas do planeta) e muitas vezes previsões falham por falta de conhecimento, principalmente estatístico, mas a causa mais frequente de erros é o excesso de confiança. É importante ser humilde, aprendendo com os erros para cada vez mais ser eficiente no processo de transformar informações em conhecimento e dados em conclusões relevantes. Encontrar o verdadeiro sinal escondido pelo barulho da vida moderna é o primeiro passo, mas o clímax chega quando se consegue dar sentido ao sinal. 

Como gestores de recursos, estamos tomando decisões a cada minuto e a relevância deste tema é enorme. Se o leitor não investe em ações, mas em fundos, ou mesmo delega suas decisões a terceiros, ainda assim o tema e o livro fazem enorme sentido e os casos específicos serão no mínimo curiosos. 

Puxando a sardinha para o nosso dia a dia, como investidores que procuram encontrar as melhores empresas no longo prazo, acabamos por nos deparar com decisões sobre pessoas, processos, estratégias e contextos. Não há ciência nestas opiniões, e a experiência é fundamental nesta arte para acertos consistentes, mas aqui faço a ponte para outro livro fantástico, que também tive a sorte de ler recentemente e que nos ajuda, com ideias simples e práticas, a ter perguntas excelentes para a construção de um olhar crítico mais apurado sobre as empresas, na busca pelos sinais. "Seven Strategy Questions - a Simple Approach for Better Execution", de Robert Simons (Harvard Business Review Press, 2010).

 Companhias que não têm respostas ou que não se preocupam em procurar as respostas para as seguintes perguntas fundamentais dificilmente estarão construindo um futuro de sucesso:

  •  1) Quem é o seu cliente mais importante? 
  •  2) Como os seus valores priorizam acionistas, empregados e clientes? 
  •  3) Quais as variáveis críticas do negócio que estão sendo monitoradas? 
  •  4) Quais os limites estratégicos estabelecidos? 
  •  5) Como se está criando um ambiente de tensão criativa? 
  •  6) Como se está criando um ambiente de cooperação entre os funcionários? 
  •  7) Quais as incertezas estratégicas que tiram o sono? 

 O contexto muda e as respostas mudam com o tempo. Além disso, normalmente não há respostas certas ou erradas para estas perguntas. Pode-se chegar aos mesmos lugares por caminhos diferentes, ou modelos de negócio distintos, mas dificilmente chega-se muito longe dirigindo no escuro por muito tempo.

 Nem sempre os preços das empresas refletem os fundamentos de longo prazo, e graças a estas diferenças conseguimos gerar valor para nossos clientes, mas normalmente quando vemos enormes oscilações de preço encontramos na origem ligações fortes com as perguntas acima. Pode apostar? Marcelo Mesquita é economista e sócio-fundador da Leblon Equities Gestão de Recursos. E-Mail: marcelo.mesquita@leblonequities.com.br Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Autor(es): Por Marcelo Mesquita Valor Econômico
Fonte: clippingmp 11/04/2013

11 abril 2013



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