Companhias que nos últimos anos se mostraram compradoras vorazes, como Marfrig, Lupatech e Hypermarcas, refazem as contas e mudam de rumo
Com elas, ninguém podia. Aquisições milionárias eram rotina, suas ações dobravam de valor a cada ano e nem o céu parecia ser limite para seu crescimento. Hoje, porém, o cenário é outro. Companhias como Hypermarcas, Usiminas, Marfrig, Suzano e Lupatech, que chegaram a fazer mais de dez aquisições por ano, agora estão vendendo ativos, muitas delas para reforçar o caixa.
Uma das primeiras empresas brasileiras a assumir esse novo papel de vendedora foi a Fibria, maior fabricante brasileira de celulose. A companhia já se desfez este ano de duas fábricas e uma distribuidora de papel, negócios que adicionaram R$ 1,8 bilhão ao seu caixa.
Com exceção da Usiminas, que pretende vender 250 ativos imobiliários, as demais companhias podem se desfazer de ativos que são - ou já foram - estratégicos, como fábricas e usinas.
A Hypermarcas é um exemplo. Desde que abriu seu capital, em 2008, até o início deste ano, a empresa fez 23 aquisições, que somaram R$ 8,4 bilhões. Agora, com ações acumulando queda de mais de 60% neste ano, a companhia do empresário João Alves Queiroz Filho, o Júnior, passou de compradora voraz a vendedora.
Já negociou as marcas Assim (detergente e amaciante) e Mat Inset (inseticida) para a Flora, divisão de limpeza do grupo JBS, por R$ 140 milhões. No pacote, foram também as marcas Sim, Gato, Fluss e Sanifleur, além de uma fábrica em Itajaí, Santa Catarina.
A companhia também quer vender a fábrica de produtos de limpeza da Assolan, em Goiânia, e a marca Etti, de molhos de tomate, incluindo ainda sua linha de produção, em Araçatuba (SP). Todos esses negócios estão avaliados em R$ 230 milhões, conforme estimativas de mercado. Analistas acreditam que eles possam ser vendidos até o fim do ano. As interessadas seriam a Química Amparo (Ypê) e ainda a JBS. Fala-se também em Bombril e Reckitt Benckiser. No caso da Etti, especula-se que as interessadas seriam a Bunge e as americanas Campbell e McCormick.
Papel
Já a Suzano só confirma a venda de terrenos no Estado de São Paulo e de uma fatia de 17% na usina hidrelétrica Amador Aguiar, mas admite que estuda vender ativos no segmento de papel e celulose. "Venderemos tudo o que pudermos para diminuir a dívida", disse o presidente da companhia, Antonio Maciel Neto, durante a divulgação dos resultados da Suzano no terceiro trimestre, no fim de outubro.
"Elas precisam de caixa", diz o professor de planejamento estratégico da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Mackenzie, Marcos Morita. A maioria dessas empresas vem de uma fase de expansão agressiva, financiada com dívida. "Passamos por um momento em que, pela primeira vez, o Brasil foi a bola da vez. Muitos empresários foram otimistas demais e superestimaram os resultados", diz Morita.
O caso da fabricante de equipamentos Lupatech é um dos mais emblemáticos. Apenas entre 2006 e 2008, a empresa fez 16 aquisições, boa parte delas financiada com dívida. Mas, no último balanço trimestral, assustou investidores ao apresentar uma dívida de R$ 1,2 bilhão, mais de 17 vezes o volume de caixa gerado por ano. Suas ações chegaram a acumular desvalorização de mais de 70% no ano.
Durante esta semana, porém, houve alguma reação, com alta de aproximadamente 30%, uma vez que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), que tem participação de 11,4% na empresa, confirmou que está em discussão com a Lupatech a respeito de "alternativas de mercado para o fortalecimento da estrutura de capital da companhia". Mas, mesmo com a ajuda do banco, a companhia ainda terá de se reestruturar. E, para isso, pretende levantar até R$ 200 milhões com venda de ativos.
Virada
Mas a Lupatech não está sozinha no time das empresas que em pouco tempo passaram de compradoras para vendedoras. A Suzano estava em uma fase de aquisições até o início do ano. Investiu R$ 1,4 bilhão na compra da participação da Fibria no Consórcio Paulista de Papel e Celulose (Conpacel) e mais R$ 50 milhões para comprar a distribuidora de papel KSR. Mudou sua estratégia depois de apresentar queda de 36% na sua geração de caixa e aumento de 37,4% na sua dívida líquida no terceiro trimestre deste ano. "A venda de ativos é uma das alternativas da empresa para reduzir o nível de alavancagem no médio e no longo prazo e seguir com o perfil da dívida alinhado com o fluxo de caixa da companhia e dos projetos em andamento", disse a empresa, em nota.
O frigorífico Marfrig terminou o segundo trimestre com uma dívida bruta de R$ 10,3 bilhões. A empresa vale hoje na bolsa R$ 2,7 bilhões, menos da metade do seu patrimônio líquido e cerca de 25% da sua dívida total. Ao todo, a segunda maior exportadora de aves e suínos do Brasil fez 40 aquisições em um período de quatro anos, reunindo agora 151 unidades em 22 países.
No ano passado, o Marfrig comprou a Seara, da Cargill, e a americana Keystone Foods, uma das principais fornecedoras globais para a rede McDonald’s. Parte dessa mesma empresa foi negociada há dois meses. O grupo vendeu por US$ 400 milhões a divisão de logística da Keystone para a Martin Brower. O Marfrig ainda busca se desfazer de um terminal que tem no porto de Itajaí, em Santa Catarina. Outros ativos também poderão ser vendidos, conforme fontes do mercado (veja quadro).
"O mundo mudou, houve a crise na Europa, a desaceleração econômica aqui e nos Estados Unidos e também as medidas macroprudenciais que o governo brasileiro começou a reverter. Tudo isso afetou os planos de muitas empresas, que tiveram de passar de compradoras a vendedoras", diz Daniela Bretthauer, analista-chefe da divisão de bens de consumo da Raymond James Brasil. Mas, segundo ela, não foram apenas os fatores externos que fizeram a companhia mudar de rota. "Houve também erro de cálculo", diz. "Algumas companhias supervalorizaram seu potencial de crescimento e acabaram comprando mais ativos do que deveriam", disse outro analista de mercado, que preferiu não se identificar.
O Estado entrou em contato com todas as empresas citadas na reportagem, mas elas não quiseram conceder entrevista.
Venda de ativos não significa crise, diz consultor
A decisão de vender ativos não representa necessariamente uma crise empresarial. Pode também fazer parte de uma etapa no processo de amadurecimento dentro da empresa, segundo o sócio da área de fusões e aquisições da PricewaterhouseCoopers, Alexandre Pierantoni. "Muitas passaram por uma fase de aquisições para se tornar grandes players. Depois, verificam sua estratégia, escolhem um foco e fazem um ajuste fino nos negócios", diz.
Para ele, muitas empresas podem aproveitar a crise para executar essa reestruturação e elevar seu caixa, mas esse movimento não deve se generalizar entre as companhias brasileiras.
O maior cuidado das empresas vendedoras de ativos é avaliar se eles não farão falta no futuro, diz o consultor Marcos Morita. Para ele, a situação da Usiminas é a melhor entre as empresas citadas, já que ela vai vender imóveis, que não interferem na operação da empresa. "A venda de uma fábrica pode comprometer a capacidade de expansão futura das empresas", diz. / M.G. e L.C.
Por Marina Gazzoni e Lílian Cunha
Fonte:OEstadodeS.Paulo02/12/2011
03 dezembro 2011
Empresas brasileiras colocam ativos à venda para reforçar o caixa
sábado, dezembro 03, 2011
Compra de empresa, Desinvestimento, Plano de Negócio, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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