28 dezembro 2011

Tecnologia – Orçamentos apertados dão força à ‘nuvem’

Movimento estimado para 2012 é de US$ 42 bilhões no mundo

Os orçamentos destinados à tecnologia da informação (TI) não vão passar ilesos pelas dificuldades da economia mundial. A estimativa da consultoria Gartner é de que em 2012 os gastos em TI vão continuar crescendo, mas a uma velocidade mais lenta, de 3,9%, frente aos 5,9% estimados para este ano.

Sob esse cenário mais difícil, os executivos das grandes companhias de TI não esperam que caia do céu a resposta para manter o ritmo dos seus negócios, mas – o trocadilho é inevitável -, os olhos de muitos deles estão se concentrando na nuvem.

A computação em nuvem é o modelo pelo qual os sistemas e dados de uma empresa podem ser acessados via internet, sem que os softwares tenha de ser instalados nos computadores dos usuários. Com sua promessa de reduzir os custos dramaticamente, a nuvem está abrindo um vasto campo de investimento ao estimular a criação dos centros de dados – as instalações seguras onde ficam os computadores que rodam os programas e armazenam as informações das empresas.

De acordo com a empresa de pesquisa IDC, a computação em nuvem vai capturar 25% dos gastos com TI em 2012. A companhia também estima que os gastos com serviços de TI na nuvem chegarão a US$ 42 bilhões no ano que vem.

"Vai haver uma mudança no perfil de investimentos, com companhias investindo mais em software do que em equipamentos para se adequar ao modelo da nuvem", diz Bill McCracken, executivo-chefe da companhia americana CA Technologies, ao Valor.

O modelo da nuvem permite que as companhias economizem de duas formas, dizem os especialistas. A primeira é a possibilidade de contratar sistemas via internet com pagamento mensal por número de usuários. Na prática, a companhia transfere boa parte do trabalho para um centro de dados terceirizado, o que reduz a necessidade de comprar equipamentos próprios e o custo de manutenção da equipe interna de TI.

As companhia que preferem manter uma estrutura interna, podem aproveitar melhor os recursos já existentes. Normalmente, as companhias planejam suas estruturas de TI levando em conta os momentos de maior demanda, como o Natal. Fora desses momentos de pico, a estrutura fica subutilizada. Estimativas de mercado indicam que o uso médio de um servidor – os computadores que concentram os recursos de uma rede – é de apenas 30% de sua capacidade. Com a computação em nuvem, é possível aumentar esses índices sem ter que comprar mais e mais equipamentos.

"Se você olhar dez, ou 20 anos no futuro, a ideia de ter infraestrutura de TI dentro das empresas vai parecer totalmente arcaica. As companhias querem deixar esse custo e se preocupar com seus negócios", disse Andy Jassy, vice-presidente sênior da Amazon Web Services (AWS), empresa de serviços de computação em nuvem da varejista digital Amazon.com, em recente entrevista ao Valor.

Para alguns analistas, é incerto se a nuvem será o modelo mais comum de venda de tecnologia nos próximos anos. Todos reconhecem, porém, que a maioria das companhias de TI, das menores até gigantes como Microsoft e SAP, estão mudando seus modelos de negócio para se adaptar ao formato.

A CA, que sempre foi voltada a sistemas para mainframes – grandes computadores que centralizam o processamento de informações e são muito utilizados por bancos e operadoras de telefonia – vem investindo fortemente nesse processo de adaptação há dois anos. No período, a receita com assinatura de softwares vendidos pela nuvem cresceu 42,16%, segundo a Bloomberg, chegando a US$ 280 milhões. Foi a expansão mais acelerada na companhia.

Em parte, essa evolução se deve ao fato de que o negócio ainda é pequeno em comparação com o modelo tradicional de venda de licenças da CA (US$ 3,8 bilhões em 2011). Mas a tendência de crescimento é clara. "A nuvem vai garantir bons negócios nesse período de instabilidade, que pode durar até o começo de 2013", diz McCracken.

Para Henrique Sei, diretor de vendas da fabricante de computadores Dell, a migração de investimentos prevista ocorrerá, mas o impacto da mudança não será negativo para quem vende equipamentos. "Haverá demanda das empresas de centros de dados e também das companhias que precisam de máquinas novas para adaptar-se ao modelo", diz o executivo.

Mudar para o modelo da nuvem exige investimentos, é claro, mas eles são inferiores aos gastos que as empresas teriam que fazer normalmente, afirma Claus Troppmair, diretor de vendas para empresas da Juniper. A fabricante de equipamentos de rede tem feito um movimento similar ao da CA em direção à nuvem. Neste ano, a Juniper lançou uma linha de equipamentos que permite às empresas criarem uma estrutura de rede pronta para a nuvem.

Segundo Troppmair, a venda desses produtos no Brasil começará no ano que vem. A expectativa é de obter bons resultados de vendas com a nova linha, mesmo com a perspectiva de crescimento mais contido da economia. "Se os projetos de construção de centro de dados caírem pela metade, ainda assim será um mercado novo e cheio de oportunidades para nós", diz o executivo. Por Gustavo Brigatto
Fonte:ValorEconômico27/12/2011

28 dezembro 2011



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