Com o mercado de saúde em franca disrupção, a estratégia do Fleury tem sido cada vez mais focar em adquirir novas competências — e não o velho jogo de abrir lojas.
“Se você entrevistar o Fred Trajano da Magalu, você não vai mais perguntar quantas lojas ele vai abrir; se você entrevistar o Octávio Lazari, do Bradesco, não vai perguntar sobre agências,” o CEO Carlos Marinelli disse ao Brazil Journal.
Em linha com essa estratégia, o Fleury está anunciando hoje sua entrada nos mercados de medicina reprodutiva e educação médica — fortalecendo seu ecossistema de saúde e abrindo duas novas avenidas de crescimento.
O Fleury disse também que vai inaugurar em 2022 uma nova sede que vai aumentar sua capacidade de processamento de 150 mil exames/dia para 500 mil/dia. Sete dos 12 andares do edifício serão ocupados exclusivamente pelos laboratórios de análises clínicas e de medicina de precisão.
Os anúncios vêm logo em seguida a duas aquisições anunciadas semana passada que também agregam ou complementam competências já existentes no grupo.
Na sexta-feira, o Fleury comprou a Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha — uma referência em oftalmologia em São Paulo — e o Centro de Infusões Pacaembu, a maior rede de infusões de medicamentos imunobiológicos de São Paulo, com seis lojas e faturamento de R$ 108 milhões por ano.
As aquisições equivalem a uma espécie de verticalização: permitirão ao Fleury monetizar melhor clientes que até agora só usavam sua rede para fazer exames e em seguida buscavam outras clínicas para fazer os procedimentos.
Vista como um todo, a estratégia — que inclui o lançamento da plataforma Saúde iD há três meses — posiciona o Fleury para capturar múltiplos de negócios digitais e o alto crescimento do setor de saúde hoje refletido no mercado hospitalar.
EDUCAÇÃO MÉDICA
O Fleury está lançando a Pupilla, uma plataforma que oferecerá cursos, masterclasses e treinamentos digitais tanto para médicos, biomédicos e fisioterapeutas já formados quanto para estudantes de saúde.
Uma inteligência artificial rastreia os artigos e publicações mais novos e mais relevantes dos principais periódicos nacionais e internacionais, e médicos especialistas renomados em suas áreas farão a curadoria do conteúdo.
“Os artigos acadêmicos são pesados e tomam muito tempo, e a forma de consumir informação hoje mudou: é bem mais rápida e dinâmica,” diz Jeane Tsutsui, diretora-executiva de negócios do Fleury. “Nossa ideia é fazer uma curadoria e entregar o conteúdo resumido.”
Num primeiro momento, a plataforma vai abranger três áreas — radiologia, cardiologia e clínica médica — mas pouco a pouco a oferta será ampliada.
Muitos dos 2,8 mil médicos do Fleury já dão aulas na universidade ou em cursos de formação profissional.
MEDICINA REPRODUTIVA
O Fleury anunciou que vai abrir no ano que vem seu primeiro centro para tratar infertilidade — um mercado com alto potencial de crescimento, tíquetes altos, e que tem sinergias com seu negócio de medicina da mulher.
A ideia é usar essa primeira clínica — que será chamada de Fleury Fertilidade — para ganhar conhecimento e competência na área para depois abrir outras unidades.
No Brasil, foram feitos 44 mil ciclos de fertilidade — tentativas de inseminação artificial — no ano passado, o que faz do País o maior mercado de fertilidade da América Latina.
Jeane diz que a clínica será aberta para médicos externos fazerem o procedimento e terá uma área de embriologia — o coração desse negócio. A estimativa é que essa primeira unidade faça 3.600 ciclos de fertilidade por ano. Cada ciclo custa entre R$ 10 mil e R$ 20 mil.
TELEMEDICINA
O Saúde iD, marketplace de soluções de saúde lançado em setembro para empresas e operadoras, passará a estar aberto também ao consumidor final.
A plataforma terá duas opções de assinaturas. A primeira dará direito a usar a solução de telemedicina, além de um protocolo de exames complementares. A segunda será um pouco mais completo: além da telemedicina e dos exames, dará acesso à rede de atenção primária do Fleury.
O lançamento vem num momento em que a telemedicina está explodindo. Desde que lançou sua solução, o Fleury já fez mais de 100 mil consultas por telemedicina. Hoje, está fazendo mais de 1,5 mil por dia com 200 médicos dedicados ao serviço.
Os avanços da telemedicina são palpáveis.
O Fleury começou a usar recentemente um device desenvolvido pela israelense TytoCare que tem aumentado as possibilidades das consultas por vídeo. O aparelho é enviado aos pacientes que, com orientação do médico, conseguem usá-lo para ausculta cardíaca e gastrointestinal ou para tirar fotos do tímpano e da garganta, por exemplo. Os dados coletados pelo aparelho são enviados automaticamente para o prontuário do paciente. Geraldo Samor e Pedro Arbex / Leia mais em braziljournal 14/12/2020
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