Investidores se reúnem com fundadores em busca de respostas à pandemia. Para startups, momento é de cortar custos, aumentar o caixa disponível e reconsiderar captações no mundo do venture capital
Não se sabe quando exatamente veremos o fim do alastramento da Covid-19. Adotar medidas de prevenção à pandemia causada pelo novo coronavírus é realidade não só para cidadãos — também virou rotina para as startups e os fundos de investimento que as apoiam. Alguns empreendimentos estão vendo um aumento na demanda, enquanto outros zeraram suas receitas. Euforia ou pessimismo, a resposta é a mesma: praticar a cautela para combater a incerteza.
Capitalistas de risco brasileiros ou que atuam no país participaram de uma transmissão ao vivo nesta semana para falar sobre o cenário nacional de venture capital e sobre como fundos e empreendedores apoiados estão lidando com este momento de crise.
Participaram da conversa Anderson Thees (Redpoint eventures), Eric Acher (Monashees), Hernan Kazah (KaszeK Ventures), Julio Vasconcellos (Atlantico), Marcos Toledo (Canary), Michael Nicklas (Valor) e Paulo Passoni (SoftBank). Em conversa a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Toledo deu mais detalhes sobre a estratégia que o Canary adotou com suas startups.
Fundos de investimento: one on one
Todos os fundos afirmaram que sua estratégia permanece a mesma e que mantiveram sua proporção atual entre investimentos novos e follow ons (recursos destinados para rodadas seguintes em startups já no portfólio). “Temos empreendedores incríveis, preparados para diariamente lidar com incertezas e riscos”, disse Acher, da Monashees.
A crise econômica atual é diferente do cenário que vimos em 2008, porém. Essa recessão veio de problemas na esfera da saúde, o que gera mais incerteza sobre o tempo de achatamento da curva de transmissão e volta da atividade comercial.
Alguns fundos se preocupam com os portfólios e realizam reuniões individuais com cada fundador. O Valor Capital Group fez esses one on one com as mais de 50 empresas do seu portfólio. “Fizemos um teste de estresse para ver com o aconteceria se o faturamento de cada startup caísse 25%, 50%, 75% ou 100%”, disse Nicklas. Prevenir é melhor do que remediar: uma das startups de fato teve seu faturamento zerado, mas tem caixa acumulado para 24 meses de operação. O Valor Capital Group estuda a realização de rodadas bridges, “pontes” que sustentam startups até sua próxima grande captação. Outros negócios do portfólio, como os que atuam com delivery e logística, veem demanda acima da esperada.
A Redpoint eventures também se dedica ao seu portfólio atual. “Estamos todos revendo estratégias para agir, desde as startups que viram sua receita sumir até aquelas afogadas pelas oportunidades”, disse Thees na transmissão. O investidor afirmou que as próximas negociações serão mais focadas na viabilidade dos modelos de negócio do que na taxa de crescimento das startups em estágio inicial olhadas pela Redpoint.
Para PEGN, Toledo detalhou que o Canary faz há três semanas conferências com todas as quase 70 startups do portfólio. As conversas são sobre alternativas para construção do caixa (captar com os mesmos investidores, chamar novas ou ver outras formas de crédito) e contam com especialistas em diversos assuntos, como mudanças tributárias.
“Continuamos assinando acordos normalmente, com uma média de 15 a 20 startups investidas anualmente. Nossa tese não mudou: pessoas boas continuam se juntando para criar bons modelos de negócio. É um momento interessante, com uma progressiva digitalização em setores como comércio, entregas, serviços financeiros e educação.”
Fundadores procurando investimento: portas fechadas
Com as preocupação pairando sobre startups já investidas, os capitalistas de risco afirmaram na transmissão que o empreendedor buscando novos recursos deve ver mais portas fechadas nos próximos meses: o dinheiro existe, mas as negociações podem ser seguradas em alguns fundos.
O mercado de venture capital ficará mais ilíquido especialmente quando falamos dos investidores estrangeiros. “Investimos 30% do nosso fundo para a América Latina e ainda teremos muita coisa para fazer. Mas fundos globais olham para a região como uma forma de ganhar mais dinheiro e agora repensam se o risco vale a pena. Eles acabam deixando oportunidades por aqui e voltando ao seu mercado principal, como Ásia ou Estados Unidos”, afirmou Passoni, do SoftBank.
“Já era difícil fazê-los prestar atenção na América Latina. Ficará ainda mais difícil. Quando esses fundos descongelarem, haverá mais oportunidades próximas a eles”, completou Toledo, do Canary.
Para o investidor, a dificuldade de seguir na esteira de venture capital pode até mesmo causar uma onda de aquisições e fusões (M&A) entre startups brasileiras. Algo na linha de “a união faz a força.”
Fundadores já com investimento na mesa: hora de repensar valores
Quem está negociando um aporte deve se preparar para uma reavaliação do term sheet, documento que detalha as condições de um investimento. Até mesmo uma reprecificação do valuation do negócio pode acontecer.
“Empresas com dinheiro em caixa não devem levantar dinheiro agora. Você pode se diluir de forma mais rápida ou ter um valuation menor”, alertou Passoni, so SoftBank. “Se você tem essa possibilidade, espere”, concordou Kazah, da KaszeK.
Segundo Thees, a reavaliação do valuation é especialmente verdade nas captações mais avançadas. No estágio inicial, investimento e participação costumam se basear mais na necessidade de caixa da startup do que seu valor no mercado. A mesa de investimentos deve considerar que o próximo investimento pode demorar mais tempo para acontecer e dimensionar a injeção de capital para dar mais fôlego ao caixa.
No Canary, Toledo contou a PEGN que as startups que recebem um investimento demoram em média 10 meses para captar uma nova rodada. “Esse número deve se estender. O empreendedor captando deve estimar capital para 18 a 24 meses de operação.”
Fundadores crescendo ou quebrando: avalie acelerar ou frear
Segundo Vasconcellos, do Atlantico, as startups estão divididas em dois grupos: o primeiro é feito de startups que viram uma grande queda nas receitas e têm o caixa apertado, forçadas a reduzirem rapidamente seus custos. Já o segundo grupo é feito de startups que estão vendo um crescimento acelerado ou receberam um investimento recente, garantindo caixa para investir em marketing e vendas quando esses serviços estão mais baratos.
“Não existe uma mesma resposta para todo mundo e cada um tem que pensar em sua estratégia”, diz Vasconcellos. “Olhamos para a pizza inteira que ficou menor, que é o Produto Interno Bruto do Brasil. Mas também vemos a chance de aumentar a fatia de empresas individuais com a crescente digitalização. Temos uma startup de comércio eletrônico no nosso portfólio que está crescendo”, completou Acher.
Outros capitalistas de risco olham com cautela mesmo negócios que estão vendo grande potencial. Para eles, a preocupação maior não deve ser com o concorrente, mas sobreviver. “Todo mundo quer fazer tudo, seguindo o modelo das empresas chinesas. Mas muitas startups não tem dinheiro para fazer isso acontecer. O movimento de focar em um nicho será reforçado nos próximos 24 meses”, avaliou Passoni, do SoftBank.
“O movimento das startups fazendo a ruptura de mercados dominados por grandes empresas só será mais forte e mais rápido. Mas temos de estar vivos quando isso acontecer”, completou Thees. “Estamos aconselhando as empresas a ver como aumentar ou preservar seu caixa neste momento, porque ele se tornou equivalente ao que o sangue é para o corpo humano.” Fonte: “Pequenas Empresas, Grandes Negócios” ..:Leia mais em institutomillenium 13/04/2020
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Ruy Moura
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