A proposta de compra da família Buscopan por R$ 1,3 bilhão colocou a Hypera Pharma de volta entre os grandes laboratórios brasileiros dispostos a crescer com aquisições de peso. A reformulação da empresa, que no ano passado trocou de nome em fevereiro, até então era Hypermarcas, e de presidente em abril, após ser alvo de uma operação de busca e apreensão por parte da Polícia Federal batizada de Tira Teima, culmina num lance que surpreendeu pela ousadia de quem até há pouco tempo estava justamente no balcão de vendas e pelo valor final, acima da expectativa do mercado.
Ontem, suas ações tiveram valorização de 3,84%, uma das maiores altas do índice Ibovespa. O preço fechou a R$ 34,91, o que levou seu valor de mercado a R$ 22,06 bilhões. Essa negociação foi vista com bons olhos pelo investidor e talvez seja essa uma das razões pelo múltiplo tão elevado pelo ativo, disse uma fonte do setor.
O múltiplo da proposta é bem superior aos índices apresentados em transações deste tipo no setor. O normal é que a negociação alcance um múltiplo de duas a três vezes o faturamento anual dos ativos. Neste caso, chegou a 4,3 vezes. A receita líquida do Buscopan é de cerca de R$ 300 milhões anuais.
A Boehringer Ingelheim colocou o Buscopan à venda em outubro, conforme antecipou o Valor, e a estimativa do mercado era que esse ativo alcançasse no máximo R$ 1 bilhão. A Hypera correu por fora no processo. Concorrentes nacionais como EMS e União Química chegaram a apresentar propostas. A União Química ofereceu R$ 500 milhões pelo ativo, mas deixou a disputa diante de ofertas maiores.
Já a EMS estava cotada a levar a família até a noite de terça-feira. Ela ofereceu, segundo fontes, R$ 1,5 bilhão, mas condicionou a proposta de compra a ajustes no contrato, o que não foi seguido pela Boehringer Ingelheim. A EMS então saiu do processo.
A compra ainda depende da posição da francesa Sanofi, que tem a preferência do negócio. Em 2017, a Sanofi fez uma troca de ativos veterinários pelos de OTC com a Boehringer. A francesa tem 30 dias para decidir se acompanha a oferta da Hypera e fica com o Buscopan.
É uma aquisição cara. É um produto antigo e aumentar as vendas é mais difícil. Necessita de muito investimento em marketing. Além disso, a transferência de fábrica é um processo lento, demora pelo menos três anos. Outro fator, é que nessa negociação não entrou o princípio ativo do medicamento. É somente a marca, disse a fonte.
A Hypera já havia sinalizado a intenção de investir no segmento de analgésicos e no aumento de portfólio. Serão mais 17 projetos e recursos da ordem de R$ 5 bilhões. Outro fator que coloca a farmacêutica novamente no jogo é a sua posição financeira. Analistas do Credit Suisse estimam que a relação dívida líquida/Ebitda deverá ficar em torno de 0,4x no fim de 2020. Ao fim do terceiro trimestre, a companhia tinha fluxo de caixa livre de R$ 466,2 milhões.
A alavancagem deve permanecer sob controle. O balanço da empresa não é alavancado e provavelmente permanecerá assim mesmo após a transação, que provavelmente será totalmente paga em dinheiro depois da recente emissão de debêntures de R$ 800 milhões, avalia o relatório do Credit Suisse... Leia mais em valoreconomico 19/12/2019
19 dezembro 2019
Hypera surpreende concorrentes e oferece R$ 1,3 bi pelo Buscopan
quinta-feira, dezembro 19, 2019
Compra de empresa, Investimentos, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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