18 dezembro 2019

Empresas brasileiras têm baixa alavancagem entre emergentes

Com números mais contidos que o padrão no mundo emergente, o aumento da dívida corporativa ainda está longe de ser um problema no Brasil. Faz pouco tempo, o país saiu de um longo período de recessão, que forçou a redução de investimentos e custos das companhias. Agora, com alguma retomada da confiança num cenário de juros baixos, as empresas dão largada a esse novo momento da economia com operações enxutas e espaço para alavancagem.

De acordo com dados do Instituto Internacional de Finanças (IIF), a dívida de empresas não financeiras do país representa 42% do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo da taxa de 48,5% em 2015, quando o Brasil enfrentava uma significativa piora no equilíbrio fiscal e perdia o grau de investimentos pelas principais agências de rating do mundo.

Diferentemente da tendência global, as empresas brasileiras enfrentaram uma recessão econômica e a baixa nos preços de commodities entre 2014 e 2016 e, assim, não aumentaram o seu nível de dívida nos últimos anos, explica a diretora-gerente da Moodys para companhias não financeiras na América Latina, Marianna Waltz. Para se ajustar à baixa demanda local e à contração na sua rentabilidade, elas se viram forçadas a cortar investimentos e despesas de maneira significativa. Como sabemos, também houve um número bastante elevado de defaults e reestruturação de dívida nesse período.

Algumas métricas mostram que houve uma melhora clara nos últimos anos no cenário de dívida corporativa no país. Marianna explica que a maior parte das emissões de dívida de empresas brasileiras nos últimos anos esteve relacionada a atividades de refinanciamento e melhora no perfil de amortização, sem dívida incremental.

Com isso, a qualidade de crédito das empresas brasileiras melhorou ao longo dos últimos anos. A Moodys espera que a alavancagem combinada das empresas no Brasil, calculada pela relação dívida/Ebitda, fique em torno de 2,5 vezes em 2019 e 2020, bem abaixo das 3,9 vezes em 2015. No nosso cenário base, esperamos que a taxa de default para empresas high yield brasileiras fique em 1,6% ao fim de 2020, bem abaixo da estimativa global de 3,6%, afirma Marianna.

O vice-diretor do IIF para iniciativas de políticas globais, Emre Tiftik, pondera que as tendências nas dívidas denominadas em moeda estrangeira e nas práticas de empréstimos das empresas estatais precisam ser monitoradas com cuidado, pois qualquer estresse potencial no setor corporativo pode adicionar mais pressão à dinâmica da dívida soberana.

Ainda assim, Tiftik nota que o atual nível da dívida corporativa no Brasil (42% do PIB) é menor que o observado em 2015 (48,5% do PIB) e bem inferior ao visto na média dos emergentes, excluindo a China, que está em 55% do PIB. Além disso, os dados do IIF indicam que a dívida denominada em moeda estrangeira responde por 35% do total do passivo das empresas não financeiras no Brasil - também baixa em comparação com muitos outros países.

O que se percebe, então, é que há espaço para companhias brasileiras assumirem o papel do investimento público e contribuírem para a recuperação econômica no país. O padrão de alavancagem no Brasil - tanto do consumidor quanto das empresas - vai mudar se conseguirmos ter um juro neutro mais baixo, diz David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America no Brasil.

Ele se refere à taxa de equilíbrio da economia, que produz o máximo de crescimento sem gerar inflação e que vem caindo com as medidas de ajuste fiscal implementadas nos últimos anos. Se completarmos o ajuste e o juro neutro ficar mais baixo, vamos, sim, ver um aprofundamento do mercado financeiro, diz Beker. (LH e VR).. Leia mais em valoreconmico 18/12/2019

18 dezembro 2019



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