14 junho 2017

Goldman Sachs quer automatizar oferta de ações

Há poucos anos, os líderes do Goldman Sachs analisaram em profundidade como o banco conduz as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs). Eles mapearam 127 etapas de cada negócio e então tentaram descobrir quantos deles poderiam ter sido conduzidos por computadores, em vez de pessoas de carne e osso. A resposta até agora é: cerca de metade.

Apenas 21 meses após a firma ter revelado seu plano de reengenharia de um dos negócios mais lucrativos de Wall Street, o projeto encontrou meios de eliminar milhares de horas de trabalho há muito desempenhado por humanos. Uma interface de computador chamada Deal Link substituiu as checagens informais, antes supervisionadas e transmitidas de geração para geração de agentes. Ela coordena e monitora as análises jurídicas e de conformidade, preenche formulários e gera relatórios.

O progresso da iniciativa mostra a rapidez com que os bancos de investimentos podem automatizar tarefas que antes estavam fora do alcance dos computadores. O setor sofre grande pressão para melhorar a lucratividade, ao mesmo tempo que disputa trabalhadores mais jovens menos dispostos a trabalhar 18 horas por dia.

A revisão foi ideia do banqueiro George Lee, do Goldman. Consultor e confidente de longa data da elite do Vale do Silício, Lee foi nomeado diretor de tecnologia da divisão de banco de investimentos há três anos. Desde então, ele se concentra em dois grandes objetivos: digitalizar o fluxo de trabalho dos banqueiros e usar a tecnologia para melhorar a consultoria a clientes.

Há anos a instituição demonstra interesse em automatizar partes do processo de IPO - Martin Chavez mencionou isso publicamente em setembro de 2015, quando era diretor de tecnologia -, mas nunca detalhou publicamente esses esforços com tanta profundidade.

No começo, Lee e sua equipe apontaram para as etapas mais óbvias de ruptura: os telefonemas, e-mails e tarefas que os banqueiros jovens disparam no começo de cada IPO. Isso incluiu os telefonemas feitos ao departamento de conformidade em busca de potenciais conflitos, contados com o departamento jurídico para a designação de advogados e organização de reuniões, entre outros trabalhos.

Agora, tudo isso é feito num clicar de mouse no novo aplicativo, que oferece um guia passo-a-passo em substituição aos materiais específicos de treinamento e a consultoria boca-a-boca. Links ativos iniciam processos ou preenchem formulários. A informação usada em múltiplas formas é divulgada automaticamente. A firma também agilizou a maneira como fornece atualizações aos clientes sobre os pedidos de ações nos IPOs, enviando detalhes instantâneos sobre preços, tamanho e tempo para um aplicativo de smartphone ou tablet, disse Lee. No passado, isso seria um relatório estático que enviado por e-mail ou fax para o hotel do cliente no fim do dia.

Rapidamente o banco concluiu que o foco dos IPOs era restrito demais e voltou suas atenções para outros negócios, como as fusões e as vendas de bônus. Até agora, mais de 150 etapas foram mapeadas em várias transações de banco de investimentos realizadas pelos 2.500 banqueiros da divisão.

Com o avanço do projeto, as centenas de horas inicialmente poupadas se transformaram em milhares. "O que estamos tentando fazer é, lentamente mas com segurança, selecionar aqueles que são mais redundantes, os mais repetitivos, que exigem mais mão-de-obra, e automatizá-los para economizar tempo", disse Lee.

Para os bancos, esse é um negócio atraente, com comissões que ficaram em média em 7% nas transações de tamanho médio realizadas nos EUA nos últimos anos, segundo Jay Ritter, professor da Universidade de Flórida. A comissão média pela venda de bônus americanos com grau de investimento no ano passado foi metade disso.

A abordagem do Goldman pode parecer óbvia, mas é a última palavra em Wall Street. A sabedoria convencional diz há muito tempo que a atividade de banco de investimentos dependia demais das interações entre humanos e que as negociações com títulos eram mais fáceis de serem automatizadas. Os bancos também careciam de investimentos em novos projetos, uma vez que estavam mais preocupados em pagar multas, lidar com investigações e pressões sobre as receitas após a crise.

O J.P. Morgan Chase vem usando a aprendizagem automática para prever quando os clientes poderão precisar aumentar o capital via oferta secundária de ações. E não faltam startups. A Kognetics, por exemplo, usa um sistema parecido para encontrar e catalogar dados para identificar candidatos para aquisições no setor de tecnologia.

Lee insiste que, pelo menos no futuro previsível, há muita demanda por ideias unicamente humanas. Para aqueles do Goldman Sachs que possam estar com essa preocupação, ele tem uma resposta simples. "Nossa estratégia é elevar a atividade e o impacto dos banqueiros. E não substituí-los." - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 14/06/2017

14 junho 2017



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