02 junho 2015

Febre de fusões transforma setor de telescomunicações da Europa

No Reino Unido, a operadora de banda larga BT Group PLC fechou a compra da EE, a maior operadora de celular do país, no início do ano. European Pressphoto Agency
As companhias de telecomunicações da Europa estão numa missão: ganhar escala antes que seja tarde demais.

O setor vivenciou uma febre de negócios nos últimos 18 meses, uma vez que operadoras de telefonia do Reino Unido, França, Espanha e outros países buscam dividir o peso dos custos crescentes e da queda nas receitas.

Alguns executivos temem que, se as concorrentes de um país não se unirem, elas correrão o risco de ser engolidas por rivais maiores do exterior.

“Consolidação não é uma questão de monopólio”, diz Patrick Drahi, presidente executivo do conselho de administração da Altice SA, ATC.AE -3.27%  observando que as empresas europeias precisam se unir para repelir aquisições estrangeiras. “Não é o fim da concorrência.”



O setor de telecomunicações da Europa está às voltas com a concorrência intensa de novas empresas de baixo custo, mudanças nos hábitos dos consumidores na era da internet e leis que mantêm as tarifas baixas.

Em meio a essa pressão, o volume de negócios no setor de telecomunicações europeu já atingiu quase US$ 67 bilhões este ano, a maior cifra para o período desde 2000, segundo a Dealogic.

A tendência está se espalhando por toda a região. No Reino Unido, a operadora de banda larga BT Group BT.A.LN +1.14%  PLC fechou a compra da EE, a maior operadora de celular do país, no início do ano. E a Hutchison Whampoa Ltd. 0013.HK -5.66%  , de Hong Kong, comprou a operadora de celular O2, da espanhola Telefónica SA TEF +2.33%  . Os dois negócios foram avaliados num total de US$ 32,81 bilhões.

No ano passado, a francesa Vivendi SA VIV.FR +2.41%  vendeu a SFR, sua operadora de celular e banda larga, para a Altice, de Drahi, por US$ 23 bilhões. A Altice, o grupo que mais fez aquisições no continente neste ano, ainda está tentando comprar a unidade de telecomunicações da Bouygues SA, EN.FR -0.01%  o que reduziria de quatro para três o número de operadores móveis na França. A Bouygues, porém, afirma categoricamente que a unidade não está à venda.

A Hutchison está em negociações com a operadora VimpelCom Ltd. VIP +0.41%  , que é sediada em Amsterdã, para criar uma joint venture entre as subsidiárias desta na Itália. As duas companhias esperam fechar um acordo nos próximos meses, diz uma pessoa a par do assunto.

O surto de negócios ressalta a concorrência acirrada apresentada em muitos mercados europeus por novos participantes de baixo custo. Ao mesmo tempo, os consumidores vêm trocando serviços de telefonia móvel, como chamada de voz e mensagens de texto, por serviços de dados mais baratos, como o WhatsApp, do Facebook Inc. FB +0.26%

A receita das operadoras europeias caiu 11%, para 248 bilhões de euros (US$ 273 bilhões), entre 2009 e 2015, segundo o grupo lobista Associação Europeia dos Operadores de Rede de Telecomunicações.

Embora a receita tenha caído, as operadoras argumentam que seus custos subiram devido aos investimentos necessários para fazer frente ao aumento no uso de dados.

A Europa, que segundo a KPMG tem mais de 150 operadoras, é um dos mercados de telecomunicações mais fragmentados do mundo. Grande parte da consolidação em curso girou em torno da redução do número de empresas por país. Nos mercados individuais da Europa, há geralmente quatro ou mais concorrentes. Os Estados Unidos, por outro lado, têm quatro operadoras para todo o país.

“Estamos quase num manicômio aqui”, diz o diretor-presidente da Orange, Stéphane Richard. “Nenhum modelo econômico pode justificar mais de dois ou, no máximo, três infraestruturas fixas e móveis nos grandes países europeus.”

Algumas empresas buscam fundir operadoras para unificar infraestruturas. Outras estão tentando juntar telefonia fixa e móvel para oferecer aos clientes o chamado “quad play”, que combina serviços de TV, banda larga, telefonia fixa e móvel.

A lógica, nos dois casos, é reduzir custos e ampliar os lucros.

As operadoras também estão se beneficiando de uma janela regulatória que parece mais favorável a fusões.

Embora grandes fusões há muito fossem consideradas impossíveis porque as autoridades europeias queriam incentivar a concorrência para beneficiar os consumidores, a Comissão Europeia tem, nos últimos anos, permitido que esses negócios ocorram, dando confiança aos executivos do setor de que conseguirão fazer outros.

O novo presidente da comissão, Jean-Claude Juncker, e seu comissário digital, Günther Oettinger, têm defendido menos restrições a fusões para encorajar investimentos.

Mas a comissão, o braço executivo da União Europeia, continua a analisar os negócios em profundidade e frequentemente impõe medidas para proteger a concorrência.

Na Espanha, por exemplo, a Orange concordou com um pacote de desinvestimentos para ter aprovada a sua aquisição da operadora Jazztel PLC. A fusão de quase US$ 5 bilhões foi observada de perto para ver como a comissão abordaria negócios semelhantes no futuro.

“Se você considerar que, no fim, levamos nove meses para que a comissão aprovasse a Jazztel e que levou cinco semanas para os reguladores dos Estados Unidos aprovarem a compra do WhatsApp pelo Facebook, isso é o problema”, diz Richard, o líder da Orange.

Na França, o ministro da Economia, Emmanuel Macron, disse em maio que não era o momento certo para consolidação porque as operadoras francesas deviam pensar principalmente em investir em vez de se fundir, o que cria dúvidas sobre a realização de algum negócio no curto prazo.

Para evitar essa lentidão, alguns executivos estão de olho no exterior.

Depois de investir US$ 32 bilhões em aquisições nos últimos 12 meses, a Altice entrou no mercado americano, na semana passada, com a compra da operadora de cabo Suddenlink.

No Brasil, também tem havido, nos últimos meses, discussões sobre possibilidades de consolidação que muitas vezes citaram a TIM e a Oi como possíveis alvos. No negócio mais recente, a Telefônica Brasil VIVT4.BR +2.14%  comprou a GVT por 7,45 bilhões de euros em 2014.   Por RUTH BENDER e SHAYNDI RAICE , de Paris CONNECT Leia mais em Thewallstreetjournal 02/06/2015


02 junho 2015



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