16 maio 2013

Anhanguera e Kroton estimam economias de escala superiores a R$ 150 milhões

Sinergia permitirá alta de 9,25% no investimento; futuro nome pode ser "Kroton Anhanguera"

Após unirem os negócios para criar o maior grupo de ensino do mundo, Anhanguera e Kroton estimam que a fusão trará economias de escala de R$ 150 milhões a R$ 300 milhões para a empresa combinada. Com isso, a capacidade de investimento da companhia será de R$ 262,2 milhões, valor 9,25% maior que soma da previsão para este ano nas empresas separadas, de cerca de R$ 240 milhões, dos quais R$ 135 milhões na Anhanguera e R$ 105 milhões na Kroton. A fusão, anunciada em 22 de abril, depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômico (CADE). TV iG Rodrigues: "A economia de escala fará sobrar dinheiro para ser investido na área educacional"

O cálculo é uma estimativa da área financeira da Anhanguera, à qual o iG teve acesso. "As sinergias farão sobrar dinheiro para ser investido na área educacional", diz Gabriel Mário Rodrigues, sócio da Anhanguera, principal articulador da fusão e presidente do conselho de administração da empresa consolidada.

 Parte dessas economias deve vir da redução de gastos com publicidade. "O marketing, ao menos da Anhanguera, é expressivo. Se você consegue juntar duas [ empresas ], o investimento é menor", afirma Rodrigues.

 O orçamento deste ano prevê despesas de marketing de R$ 157,7 milhões na Anhanguera, valor 8,7% maior que o gasto de 2012. O montante é igual a 8,7% da receita líquida prevista, que no primeiro trimestre foi de R$ 471, 3 milhões. Nesse período, quando a publicidade é intensificada devido à maior captação de alunos, o investimento foi de R$ 51,7 milhões, alta de 49,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

Além disso, os desembolsos da área tecnológica também devem ser reduzidos na integração. "Na parte de tecnologia, tanto a de relacionamento na parte acadêmica quanto a da área educacional, também há investimentos muito grandes", diz Rodrigues. Somente no primeiro trimestre, a instituição gastou R$ 4,3 milhões em tecnologia, principalmente nas plataformas de ensino a distância.

 O investimento previsto para a companhia combinada seria feito da seguinte forma: R$ 58,5 milhões em tecnologia, R$ 19,5 milhões em bibliotecas, R$ 31,5 milhões em móveis e equipamentos e R$ 152,7 milhões em construções, laboratórios, projetos educacionais e outros gastos. "É um investimento importante, elas já têm estrutura formada nos câmpus e o valor seria para melhorias e manutenção", afirma Sandra Peres, analista da Coinvalores.

 Em 2012, as empresas investiram ao todo R$ 216 milhões, dos quais R$ 142 milhões na Anhanguera e R$ 74 milhões na Kroton. Ou seja, a previsão para 2013, mesmo sem os ganhos de sinergia que resultariam da fusão, já significa alta de 10,7% sobre este valor.

 A integração deve durar por volta de dois anos, período no qual outras aquisições de peso estão descartadas, segundo Rodrigues. "Nós vamos ter uns dois anos, ou um ano e meio depois da aprovação do CADE, para unirmos nossas forças, então não está previsto nenhuma aquisição nesse tempo. Precisamos primeiros nos organizar", diz o empresário.

Depois disso, um dos planos que já se comenta na empresa é a internacionalização, com foco nos países vizinhos. "Ouvi falar, mas só conversa, sem consistência alguma, [ em planos ] na América Latina. Mas, primeiro, são dois anos para colocar a coisa em ordem. Depois é ver se tem mercado na América Latina. O que se fala internamente é isso", diz Rodrigues.

 "Não acredito que esse seja um plano imediato, a menos que surja alguma parceria estratégica, porque a penetração da educação superior no Brasil ainda é muito baixa, ou seja, eles têm muito espaço para crescer aqui no País", afirma Sandra Peres.

 O nome da empresa resultante ainda será discutido, mas, na opinião do empresário, deveria ser Kroton Anhanguera. "No meu caso, como não estou emocionalmente ligado a nenhuma das duas, é o nome que os profissionais de comunicação e educação considerarem o mais adequado. Mas acredito que o melhor deva ser a junção das duas. Kroton Anhanguera", diz Rodrigues.

A companhia resultante teria faturamento de R$ 4,3 bilhões, cerca de um milhão de alunos e valor de mercado próximo a R$ 12 bilhões. Os acionistas da Kroton terão 57,5% da empresa, enquanto os da Anhanguera ficarão com 42,5%. O presidente será Rodrigo Galindo, atual presidente da Kroton.

 Lucro x Qualidade 
 Rodrigues irá comandar o conselho de uma universidade bastante diferente daquela que fundou e da qual foi reitor durante 12 anos, a Anhembi Morumbi. Nesta, a quantidade de alunos era uma fração da Anhanguera, mas as mensalidades eram bem mais caras – em torno de R$ 1,2 mil, enquanto na Anhanguera ficam em R$ 390.

 "A Anhembi sempre trabalhou nas classes média e alta, era [ classe ] A, B e um pouco de C. No momento que a gente entra numa instituição para atender a massa, evidentemente outras estratégias são usadas", diz Rodrigues. "A grande questão vai ser equilibrar quantidade e qualidade", afirma.

 O empresário sabe que, por trás desse equilíbrio, existe outro: entre os resultados financeiros e os investimentos em educação. A companhia será conduzida por um grupo que mistura fundos de investimento, como o Advent e o Pátria, e fundadores de outras universidades incorporadas pelo grupo nos últimos anos. Ou, como diz Rodrigues, o "pessoal dos números" e o "pessoal da educação".

 O conselho que irá presidir terá 13 assentos, dos quais, ele calcula, pelo menos seis serão ocupados pelo "pessoal da educação". "O fundo [ FERB, que terá 4,4% da empresa e do qual ele é sócio ] tem tem três assentos, ficou eu, o Ricardo [ Scavazza, ex-presidente da Anhanguera ] e o [ Antônio ] Carbonari [ fundador e acionista da Anhanguera ]. E um outro que vou indicar. Eu tenho quatro lugares. Da educação deles [ Kroton ] tem o [ Ricardo ] Galindo [ presidente da Kroton ], o Walfrido [ dos Mares Guia, ex-ministro e acionista da empresa ], a [ Elisabeth Bueno ] Laffranchie [ conselheira ], mais um sócio do Walfrido. Portanto da área de educação vão ficar entre oito e seis", diz.

 "É mais gente para mostrar para o pessoal financeiro a necessidade de investimentos. O pessoal financeiro põe a meta e segue. Mas eu sei que sem recursos não se faz educação", diz Rodrigues. "É mais fácil discutir com eles [ educadores ] do que com o pessoal da área financeira", afirma.

 O controle da empresa é bastante pulverizado, uma vez que 75% das ações são negociadas livremente na Bovespa e nenhum sócio tem mais de 6% da companhia. Rodrigues prevê que isso seja benéfico para o conselho. "A representatividade do conselho é 25% [ do capital ]. Então não vai ter luta, tipo 'eu querer ser melhor que os outros', porque ninguém tem o controle. O que a gente tem que fazer [ no conselho ] é uma melhor administração para ter um melhor resultado", afirma.

 "[ Hoje ] não tem mais dono de empresas. A tendência é não ter mais donos. Os donos são os fundos de pensão e os fundos de private equity feitos pelos bancos", acredita o empresário. Quase todos os grandes grupos brasileiros de ensino têm um grupo financeiro entre os principais controladores.

 "Um fundo promete determinado resultado para o investidor e, quando ele faz um aporte na empresa, exige que esse resultado possa acontecer. Vai ter sempre a questão de como possibilitar ter um bom produto educacional com o resultado de quem investiu, isso ninguém vai poder fugir. E aí estão os organismos governamentais e órgãos reguladores para tratar a questão", diz.

 A maioria dos cursos da Anhaguera se encontra na faixa mínima aceita pelo Ministério da Educação (MEC) para operar. Questionado sobre se isso é suficiente, Rodrgues diz que "acha que sim". Mas afirma que "a grande questão nossa agora é dar estudo razoável para todos os nossos alunos".

 Para o empresário, melhorar a qualidade de ensino vai possibilitar que a receita da instituição também cresca, através do aumento das mensalidades. "No momento em que você melhora o seu produto, ele vai ser mais caro. O que eu já coloquei na Anhanguera é que se nós conseguirmos aumentar cada mensalidade em R$ 10 no mínimo, vamos ter resultados expressivos. Agora, para isso, precisa fortalecer o produto", afirma.

 "A Anhanguera fez uma reunião com analistas há dois meses. Ficou claro que eles não têm a intenção de ser top de linha, o negócio deles é ter mensalidades acessíveis para atender as classes C, D e E. A preocupação deles [ quanto a qualidade ] é não serem vetados pelo MEC", diz Peres. 

Planos pessoais 
 Rodrigues assume o compromisso de comandar o conselho da "Kroton Anhanguera" aos 80 anos, dos quais passou os últimos 42 como empresário do ensino. Mas, não somente quer "fazer um bom trabalho", conforme afirma, como ainda pretende empreender novamente no ramo da educação. 

"Tenho a ideia – está na minha cabeça, ainda – de fazer uma universidade que ensine tudo que as outras não ensinaram. Não quero nem chamar de 'universidade'. É uma insituição, que seria o consultor do instudante. Isso fora do grupo [ Kroton Anhanguera ], é projeto pessoal. E sem objetivo de lucro", afirma.

 "O princípio dessa universidade quem me falou foi o [ ex-ministro ] Cristóvão Buarque. É uma lenda indígena. Para uma pessoa ser feliz ela tem que equilibrar sete sentidos. Os deuses, que é a parte mais enigmática do ser humano, o solo, a família, os vizinhos, que são sete bilhões de vizinhos, o passado, o futuro e por último você mesmo. É dentro dessa temática que eu quero desenvolver as coisas", explica.

 Há ainda mais projetos. "Outra: existe um jornal eletrônico só de educação? Que abranja tudo?", pergunta, de forma retórica. "Esse é outro plano", diz. "Tem ainda um negócio que é uma fundação para financiamento de talentos em famílias sem poder aquisitivo. Isso é um outro projeto", afirma. "Mas é o que sempre falo: preciso ver a quantas Copas do Mundo ainda vou assistir". Por Pedro Carvalho
Fonte: iG São Paulo 15/05/2013

16 maio 2013



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