05 setembro 2016

Geração Y, aquisições e o risco de um negócio caro

Namoro virtual. Lâminas de barbear online. Leite de amêndoa. Xampu de óleo de argan. Até aqui, nada fora do comum para os jovens clientes de hoje -- mas esses itens marcam uma mudança nos hábitos de compra que é um pesadelo para as tradicionais gigantes dos segmentos de consumo, lazer e mídia.

A solução preferida para se adaptar à nova geração? Fusões e aquisições caras. Aliás, é provável que essa seja a única solução.

Na segunda-feira, a emissora alemã ProSiebenSat.1 se tornou a última empresa a adquirir um negócio voltado aos jovens. Ela fechou a compra de uma participação majoritária do site de encontros Parship Elite.

O negócio avalia o site de namoro em cerca de 300 milhões de euros (US$ 335 milhões) incluindo dívidas, ou 12 vezes o Ebitda dos próximos 12 meses. A proprietária da Parship, a empresa de private equity Oakley Capital, vai colher mais de três vezes o investimento original em menos de dois anos.

A reação imediata dos analistas foi levantar dúvidas sobre o preço. A DZ, por exemplo, classificou o acordo como caro.

Mas essa história é conhecida. Em julho houve uma série de negócios fechados pelo impulso das grandes corporações por recuperar o tempo perdido em relação aos gostos desses consumidores.

A gigante francesa fabricante de iogurte Danone fechou a compra da WhiteWave, empresa dos EUA que produz alternativas aos lácteos, por US$ 10 bilhões -- um acordo amplamente criticado porque não deve cobrir seu custo de capital por possivelmente seis anos.

A Johnson & Johnson adquiriu a Vogue International, fabricante do xampu OGX, por US$ 3,3 bilhões -- impressionantes 29 vezes o Ebitda nos últimos 12 meses. E a Unilever pagou um total reportado de US$ 1 bilhão pela Dollar Shave Club, outro negócio caro se avaliado pelas métricas convencionais.

Será que essas velhas e desajeitadas corporações estão cometendo um grande equívoco -- assim como algumas companhias tradicionais pagaram altas quantias por qualquer empresa que tivesse pontocom no nome em 1999?

O fato é que elas estão em um beco sem saída.

A alternativa à compra dessas novas empresas está no desenvolvimento interno. Os acionistas poderiam se perguntar se essas multinacionais, com seus vastos recursos financeiros e laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, não são capazes de criar uma marca de xampu por conta própria gastando a mesma coisa.

Infelizmente, a resposta é apenas "talvez", e, em caso afirmativo, apenas depois de bastante tempo. As empresas consolidadas estão começando tarde e normalmente não têm a cultura de criar esses negócios. Mesmo se o sucesso fosse garantido, as startups simplesmente continuariam crescendo e crescendo no período.

A Parship resume a situação perfeitamente. Uma grande fatia de seus clientes está na faixa dos 30 anos -- e a idade está caindo. É nesse espaço que a geração Y que atualmente está flertando por meio de aplicativos como o Tinder poderia acabar quando quiser uma relação estável.

A ProSiebenSat parece ter um plano para o desenvolvimento de suas plataformas digitais, em parte por meio de fusões e aquisições. A empresa fechou acordo para a compra da agência de viagens sueca Etraveli Holding por cerca de 235 milhões de euros em outubro.

Com pouco menos de 50 por cento da Parship em posse da Oakley e de sua diretoria, a cultura empreendedora deverá sobreviver intacta. Como bônus, a ProSiebenSat pode fazer propaganda do site por meio de propagandas na televisão.

Isso deverá ajudar a empresa a evitar o destino da ITV, que pagou 170 milhões de libras pela rede social online Friends Reunited em 2005. Cinco anos depois, a emissora britânica vendeu o site por 25 milhões de libras e posteriormente a página fechou.

As grandes blue chips têm acesso a recursos baratos e precisam resolver mudanças nos hábitos dos consumidores que parecem ter chegado para ficar. Entre os empreendedores que entendem a geração Y, não faltam rotas de saída para seus negócios.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários. Chris Hughes (Bloomberg) -- Leia mais em bol.uol 05/09/2016

05 setembro 2016



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