12 abril 2020

Crise sem precedentes obriga conselhos das empresas a elegerem novas prioridades

No lugar do foco concentrado em maximizar valor para acionistas, ganham peso a segurança de funcionários, a colaboração com empresas menores e o impacto social

Com o coronavírus, as reuniões de conselhos de administração das grandes empresas viraram videoconferências. Mas não foi só isso que mudou entre os representantes de acionistas que tomam as decisões estratégicas. Se até pouco tempo prevalecia o pensamento utilitarista de maximizar lucros, a mentalidade da cúpula das empresas está mudando diante da crise sem precedentes. Ganham prioridade a segurança de funcionários, a colaboração com empresas menores e ainda a contribuição com a sociedade, o que pode significar gastar mais e abrir mão de ganhos temporários.

Na fintech Warren, fundada por ex-sócios da XP, o alerta acendeu entre os conselheiros algumas semanas antes do início das quarentenas com o e-mail de um acionista estrangeiro. Em vez de perguntar como andava a abertura de novas contas, ele queria saber sobre medidas internas para proteger a saúde dos empregados.

Grandes empresas financiam pequenas para preservar cadeias de produção durante pandemia
"Não é uma pergunta comum. E ela virou a chave de todo mundo", conta Eduardo Glitz, que é conselheiro em outras seis empresas, entre gestoras, start-ups e uma fabricante de calçados. "Não é mais só lucro. Um dos conselhos de que faço parte estava discutindo oferta de psicólogos para funcionários. Todos estão sensibilizados com o pequeno empreendedor e com o impacto da empresa na sociedade. É uma mudança de mindset que veio para ficar."

Para Glitz, a pandemia acelerou um processo de ajuste dos propósitos corporativos já em curso. Há oito meses, um dos movimentos mais firmes nessa direção veio do The Business Roundtable, coalizão de quase 200 diretores executivos de gigantes americanas, como Apple, American Airlintes, Accenture, AT&T, Bank of America, Boeing e BlackRock.

Leonardo Pereira, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que atua em três conselhos, vê a pandemia como uma espécie de prova de fogo para os conceitos de governança corporativa adotados nos últimos anos:

"Chegou a hora de mostrar na prática tudo aquilo que vinha sendo tratado na teoria, como responsabilidade social e sustentabilidade. É hora de ver se as empresas estavam falando sério sobre algo que é extremamente necessário hoje: ajudar o outro, a comunidade e até compensar as deficiências do Estado. Ainda bem que, aparentemente, estavam."

Até mesmo quem via com certo ceticismo o discurso das empresas está enxergando avanços com a pandemia.

"Temos observado, de fato, preocupação grande em atuar junto à comunidade, uma postura que vai além dos empregados", diz Renato Chaves, especialista em governança e conselheiro fiscal de duas empresas. "Havia distância entre discurso e prática. A crise serviu para mudar um pouquinho isso. Muitas empresas parecem realmente preocupadas com o que querem para o futuro"... Leia mais em epocanegocios 12/04/2020


12 abril 2020



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