Depois de um ano de forte atividade de venda de participações de empresas detidas pelo governo brasileiro, essa deve continuar sendo a tônica de 2020 nas atividades de fusões e aquisições (M&A), na avaliação dos bancos de investimento. Na estimativa da BR Partners, banco de investimento que fez o maior volume de transações de M&A no ano passado, somente as privatizações podem movimentar entre R$ 80 bilhões e R$ 100 bilhões em 2020.
O programa de desestatização continua agressivo, não só do governo federal como de governos estaduais. Sentimos uma mobilização grande nesse sentido, dada a situação orçamentária e também o viés ideológico liberal, diz Ricardo Lacerda, presidente da BR Partners. Na verdade, esse é o principal vetor não só de 2020 como também 2021, e tende a se arrefecer em 2022, que é ano eleitoral.
Para o Santander, desestatização e retomada econômica são as tônicas para as transações do ano e coexistem. São bolsos diferentes, de investidores estratégicos e fundos. Estamos muito otimistas para 2020, diz Renato Boranga, chefe de M&A do Santander. O banco espanhol aparece em segundo lugar nos rankings de maior volume de transações - se excluídas da conta geral as chamadas fairness opinions, passa a primeiro. Foi um ano excepcional para o banco e a obrigação é tentar fazer de novo este ano, diz Boranga, que assumiu a área no banco há um mês.
Os bancos de investimento ponderam que, no setor público, o perfil dos M&As será mais do mesmo, mas com intensidade maior. Nesse primeiro ano o governo teve que achar o caminho de como fazer as operações, como se organizar, definir os modelos que funcionam, tanto na União quanto no BNDES, por exemplo, e seguir ritos de privatização. Esse caminho está traçado e agora mais transações devem ser colocadas em prática, diz Boranga.
Os desinvestimentos feitos pela Petrobras, que responderam por fatia importante dos M&As do ano - como a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), da distribuidora de gás de cozinha Liquigás e de campos de petróleo - tendem a responder por boa parte dessa movimentação, se concretizados ainda este ano. Há processo em andamento de venda de refinarias, a estatal deve dar andamento ainda à venda de termelétricas e também de outros dutos de gás.
Para Andres Sommer, chefe de M&A do Morgan Stanley, o número de R$ 100 bilhões em transações envolvendo desinvestimentos públicos é razoável quando consideradas também as operações de mercado de capitais. O governo vai manter essa atividade, mas teremos um volume maior no mercado em função de companhias em busca de crescimento. Em setores mais ligados a atividades domésticas, as empresas acessaram capital e vão partir para aquisições, avalia Sommer. Já aparecem das transações em prospecção mais negócios ligados a consumo, por exemplo.
Sommer destaca ainda que a queda de juros favorece o movimento do mercado de M&A, já que fica mais barato tomar dívida para comprar concorrentes ou negócios complementares. Esse crédito tem sido usado inclusive por gestoras de private equity, que tendem a aumentar as compras este ano, depois de uma rodada de forte captação nos últimos dois anos. Family offices e fundos de investimento em ações - que não configuram entre os tradicionais compradores ou protagonistas de transações de M&A - também começam a despontar em transações.
Os bancos apontam, em consenso, um maior interesse de investidores no setor de infraestrutura - notadamente de investidores estrangeiros e fundos com perfil de longo prazo, como soberanos e de pensão. No universo de infraestrutura, energia continua puxando um volume relevante de transações e gerando interesse externo. Os chineses, que tinham esfriado no início do ano passado, voltaram a fazer uma série de transações no mercado brasileiro.
O volume total de M&A do país no ano passado foi de US$ 59,2 bilhões (cerca de R$ 242 bilhões) - alta de apenas 3% em relação a 2018, comprimida pela variação cambial. Para Lacerda, a marca do ano, além de desestatizações, foram operações mais complexas de compra e venda. A transação da Liquigás é emblemática porque envolve mais de um M&A ao mesmo tempo e era transformacional para a compradora, diz o banqueiro. A Copagaz ia adquirir uma empresa maior que ela, precisava compor o consórcio com mais um operador para não ter veto concorrencial e não tinha todo o capital necessário, explica. O consórcio foi formado com a Nacional Gás e, em transação vinculada, a Itaúsa comprou participação na Copagaz. ... Leia mais em valoreconomico 08/01/2020
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Ruy Moura
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