20 janeiro 2020

Por que o BNDES está vendendo suas ações em empresas

Banco federal vende participação na Light, responsável pela distribuição de energia elétrica no Rio. Plano para 2020 é diminuir ainda mais a carteira, liquidando papéis da JBS e da Petrobras

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) zerou na quarta-feira (15) sua participação na Light, empresa de distribuição de energia elétrica que atua no Rio de Janeiro. Ao todo, o banco vendeu 19,1 milhões de ações entre o final de dezembro de 2019 e a primeira quinzena de 2020.

A maioria das ações foi comprada pelo banqueiro Ronaldo Cezar Coelho, ex-deputado federal pelo PSDB fluminense. O empresário se tornou o segundo maior acionista da Light, atrás apenas da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais).

A estimativa é que a venda de ações da Light pelo BNDES tenha movimentado mais de R$ 400 milhões. A operação faz parte do plano de desinvestimentos do banco para o triênio 2020-2022. Uma das metas é a redução da carteira de ações da BNDESPar, braço da instituição que mantém participações no setor privado.

O que é a BNDESPar

O BNDES possui uma empresa subsidiária especializada em comprar participações em companhias que julgue terem potencial: a BNDESPar. Por meio dela, em vez de emprestar dinheiro, o banco troca os recursos por uma fatia da empresa e passa a ser sócio dela. É o que se chama de holding, uma empresa que não produz bens e nem oferece serviços. A ideia é que a empresa cresça e as ações se valorizem, aumentando, assim, o valor dos ativos do banco.

Segundo o estatuto da BNDESPar, a holding tem o objetivo de fazer operações para capitalizar empreendimentos privados, sem deixar de seguir as diretrizes e planos do BNDES. Além disso, essas operações devem ser feitas em empresas que atuam com condições eficientes e incorporam novas tecnologias. A empresa também deve fortalecer o mercado de capitais brasileiro.

A carteira da BNDESPar varia com o tempo, uma vez que a empresa pode comprar e vender papéis a depender da estratégia. Durante os governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), o BNDES seguiu a estratégia de eleger as chamadas “campeãs nacionais” para receber maior atenção e recursos do banco público federal. Essa política durou de 2007 a 2013.

A ideia era incentivar determinadas áreas da economia por meio de empresas grandes, projetando essas companhias no cenário de concorrência internacional. Os investimentos da BNDESPar foram usados como instrumento dessa política. A carteira da holding acabou acumulando ações que se enquadravam nos critérios das “campeãs nacionais”.

A carteira da BNDESPar em 2019

A maior fatia da carteira da BNDESPar é composta por ações de empresas na bolsa de valores. Há também uma parte menor que consiste em debêntures, espécie de títulos de dívida emitidos por empresas privadas.

R$ 127,6 bilhões - era o total da carteira da BNDESPar em 30 de setembro de 2019, no último balanço divulgado até a publicação deste texto

Desse total, quase 90% estavam aplicados em ações de empresas de capital aberto listadas na bolsa de valores no balanço de 30 de setembro de 2019. Os debêntures, segundo maior destino do capital da BNDESPar, representavam pouco mais de 5% do valor total aplicado.

R$ 114,5 bilhões. - era o total aplicado pela BNDESPar em ações de empresas listadas na bolsa em 30 de setembro de 2019

A empresa com maior investimento quantitativo da BNDESPar é a Petrobras, na qual o banco possuía mais de R$ 50 bilhões em ações em 30 de setembro de 2019. Ao todo, esse valor representava 13,9% de todo o capital da Petrobras.

A empresa com maior participação relativa da BNDESPar no balanço de setembro de 2019 era o frigorífico Marfrig, que teria ações vendidas pelo banco em dezembro. Àquela altura, o banco federal era dono de um terço de todas as ações da empresa do setor alimentício na bolsa.

OS MAIORES INVESTIMENTOS

Carteira de ações do BNDESPar em 30 de setembro de 2019. Mais de dois quintos estava na Petrobras

Os planos para o BNDES em 2020

A orientação de reduzir a carteira do BNDES já havia começado sob o governo de Michel Temer, que tomou posse em 2016 após o impeachment de Dilma Rousseff. O discurso da diretora da BNDESPar de Temer, Eliane Lustosa, também era de vender ações e diversificar investimentos da subsidiária. Sob Bolsonaro, que assumiu a presidência da República em janeiro de 2019, a venda de papéis pelo BNDES continuou.

Em dezembro de 2019, o BNDES vendeu ações da Marfrig, empresa do setor de carnes. A venda do total da participação do banco federal no frigorífico rendeu R$ 2,1 bilhões aos cofres do BNDES. Já a venda das ações da locadora de carros rendeu R$ 1,83 bilhões.

Conforme divulgado pelo BNDES no plano trienal para o período entre 2020 e 2022, a venda de participações da BNDESPar está entre as prioridades do banco até o final do mandato do presidente Jair Bolsonaro. A ideia é captar recursos e utilizá-los para financiamentos nas áreas de infraestrutura e saneamento básico. O discurso do presidente do banco, Gustavo Montezano, que assumiu o cargo em junho de 2019, é de que a instituição irá focar em projetos com retorno social. Outro argumento para a redução da carteira da BNDESPar é que o valor de renda variável investido no mercado – considerado alto – deixa o banco muito sujeito às intempéries da bolsa.

“Não faz sentido termos posição especulativa em empresas maduras de grande porte. Não estamos desenvolvendo nada”
Gustavo Montezano presidente do BNDES, em entrevista ao Estadão publicada em 1° de outubro de 2019

Para 2020, há quatro empresas que deverão ter suas ações vendidas pela BNDESPar. Ao todo, o valor que se espera gerar deverá ser da ordem de R$ 40 bilhões. As vendas devem ser coordenadas com apoio de instituições financeiras públicas e privadas.

O primeiro processo, que já foi encaminhado em dezembro de 2019, foi a da venda da participação do BNDES na JBS, maior empresa frigorífica do mundo. A empresa, que se envolveu em escândalos de corrupção e insider trading em 2017, deverá ter suas ações vendidas pelo banco em duas etapas. Cada uma das etapas deve levantar R$ 8 bilhões ao BNDES.

Outras duas empresas que devem ter suas ações negociadas pelo banco são a Copel (setor de energia) e a Tupy (setor de metalurgia). A venda de ações da Copel, com a qual o BNDES espera arrecadar R$ 4 bilhões no primeiro semestre de 2020. Já a liquidação de papéis da Tupy deve ficar para o segundo semestre, gerando R$ 800 milhões.

A venda de ações da Petrobras deverá ser a maior operação de 2020, estimada em R$ 23 bilhões. O processo deve ser iniciado em fevereiro, e está sendo tratado como a “joia da coroa” do BNDES.

As megaofertas de ações

Uma das preocupações do BNDES com a venda de ações é a questão da queda do preço. Quando se negocia muitas ações de uma mesma empresa ao mesmo tempo, o vendedor pode criar um excesso de oferta no mercado. Isso pode fazer o preço dos papéis cair, reduzindo o potencial de geração de receita da operação.

Há mais de uma forma de vender ações em grande escala na bolsa. Para as operações previstas para 2020, o BNDES ainda estuda o modelo que será seguido.

As vendas de ações em grande escala pela BNDESPar podem acontecer, por exemplo, por ofertas públicas. Nesse modelo, o banco público anuncia que está colocando à venda uma quantia de ações, fixando um preço-alvo. Os papéis são vendidos, assim, todos de uma vez. Um ponto negativo dessa abordagem é a necessidade de contratar bancos de investimento para auxiliar o processo, o que leva a um custo extra em comissões.

Outra abordagem que pode ser escolhida é a venda pela mesa de operações. Nesse processo, técnicos do BNDES dariam ordens para que diversas corretoras efetivassem as vendas das ações. Nesse modelo, as vendas não são feitas de uma vez só sob um mesmo preço. Marcelo Roubicek leia mais em nexo  19/01/2020


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20 janeiro 2020



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