Transferência do cirurgião de Bolsonaro é o retrato de um mercado que envolve pagamento de luvas e salários milionários
A transferência do cirurgião que operou o presidente Bolsonaro, Antonio Luiz Macedo, do Hospital Israelita Albert Einstein para o Vila Nova Star, da Rede D’ Or, ambos em São Paulo, expôs a disputa acirrada no segmento premium da saúde por profissionais que garantem renome e clientela às instituições.
Negociações milionárias são rotina no mundo do futebol. As trocas de camisa de estrelas do esporte normalmente envolvem fortunas, mas negócios vultosos também acontecem em outros campos, como o da medicina. A disputa cada vez mais acirrada no segmento premi um de saúde foi exposta esta semana pela transferência recente do cirurgião Antonio Luiz Macedo,de 67 anos, que trocou o jaleco do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, pelo do Vila Nova Star, da Rede D’Or, aberto em maio. Lá ele comandou, na segunda feira, amais recente cirurgia do presidente Jair Bolsonaro.
Especula-se que, na mudança, Macedo tenha fechado um contrato milionário por cinco anos, além de honorários de consultas, cirurgias e outros benefícios.
IMÓVEL E EQUIPE PRÓPRIA
Ninguém fala oficialmente de cifras, mas quem está nos bastidores dessas negociações garante que, quando a conversa é com médicos famosos, os contratos são longos, envolvem o pagamento de luvas (prêmios em dinheiro) e, em alguns casos, até mesmo um imóvel de luxo próximo ao hospital para facilitar deslocamentos, além da garantia de levar sua própria equipe.
— Os que recebem essas luvas representam uma minoria. Uns 5%, eu diria. Não é crime. É uma forma de conquistar um mercado — diz um médico do Hospital Sírio-Libanês que pediu para não ser identificado.
O Sírio-Libanês também perdeu um médico renomado para a D’Or: o oncologista Paulo Hoff, que vai chefiar a área de câncer da rede. No meio médico, o comentário é que o profissional, que tratou os ex presidentes Lula e Dilma Rousseff, também recebeu uma proposta irrecusável.
—É muito importante para um hospital ter uma personalidade em seu quadro. Isso garante a ele representatividade, renome e, obviamente, clientela — diz Luiz Roberto Londres, ex-dono da Clínica São Vicente.
Essa disputa por médicos renomados era comum em São Paulo, onde as disputas já levaram alguns executivos a quase trocarem socos em reuniões do setor, segundo relatos. O que se vê agora é o fenômeno chegar a outras capitais, como Rio, Brasília e Goiânia, com a inauguração de unidades do Einstein, do Sírio-Libanês e da rede Star, do grupo D’Or, nessas cidades.
PACIENTES FAMOSOS
O cardiologista Evandro Tinoco, presidente da seção fluminense do Colégio Brasileiro de Executivos de Saúde, diz que, ao atrair um profissional que é considerado um artífice numa determinada técnica ou que tenha núcleo de serviços com resultados diferenciados, a instituição acelera seu ciclo de reconhecimento:
—É um elemento de competição, mas, por si só, não garante alta qualidade.
A disputa na qual o Vila Nova Star mergulha agora na capital paulista já era travada, principalmente, entre os hospitais Sírio-Libanês, fundado em 1921, e Albert Einstein, inaugurado em 1955.
Tradicionalmente, os dois disputaram os holofotes com pacientes famosos. Antes do Vila Nova, Bolsonaro foi operado no Einstein, onde se tratou após o atentado que sofreu em 2018. Já pelo Sírio passaram os ex presidentes Lula e Dilma. Comum a e conomia em recessão e a decadência dos planos de saúde, os grandes hospitais tentam se reinventar.
Sírio e Einstein, por exemplo, são sociedades sem fins lucrativos, não distribuem lucros aos acionistas e podem reinvestir o que resta no fim do mês. Nos últimos anos, passaram a se concentrar ainda mais em pesquisa, formação e inovação, para reduzir custos e expandir a capacidade para além da classe A.
— O segmento premium encolheu com a crise. Cada vez mais as iniciativas têm de mudar para um sistema que remunere valor, focado mais no paciente do que em amenidades de luxo e chef da alta gastronomia — defende Sidney Klajner, presidente do Albert Einstein.
CLIMA DE HOTEL SOFISTICADO
O saguão do Hospital Vila Nova Star pode ser facilmente confundindo com o de um hotel de luxo — e não por acaso. Um de seus objetivos é evitar o “clima de hospital”: não há paredes brancas ou luzes de LED.
O paciente que ficar internado lá tem uma hotelaria caprichada:chef de cozinha francês, televisão de tela plana e a possibilidade de se comunicar com os enfermeiros por meio de um tablet que fica acoplado à cama, além de acessos a aplicativos e à internet.
A unidade também tem alguns dos equipamentos mais modernos em uso atualmente na medicina e uma estrutura “escondida”. Além dos 16 andares, o hospital tem quatro pisos subterrâneos, onde fica uma unidade de radiologia.
Bolsonaro, sua equipe e seus familiares estão em uma ala separada só para eles no oitavo andar do prédio. O presidente tem na TV acesso ao Première Futebol Clube, a plataforma de pay-per-view do Campeonato Brasileiro. Desde a internação, já comemorou as vitórias de Palmeiras e Botafogo, dois de seus clubes do coração, segundo o porta-voz Otávio Rêgo Barros. A primeira-dama Michelle e o filho Carlos têm um quarto cada um.
“É muito importante para um hospital ter uma personalidade em seu quadro. Garante renome e, obviamente, clientela” _ Luiz Roberto Londres, ex-dono da Clínica São Vicente Autor: Elisa Martins, Dimitrius Dantas e Luciana Casemiro Referência: O Globo.. Leia mais em capitólio 12/09/2019
12 setembro 2019
Hospitais disputam médicos com cifras milionárias
quinta-feira, setembro 12, 2019
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Ruy Moura
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